02. Floresta

Ninguém nos prepara para fugir quando o cárcere vem com uma aliança de noivado e o homem que amamos.

O carro parou numa estradinha de terra. Árvores altas cercavam os dois lados, como se o mundo tivesse reduzido a silêncio e sombra. Narrowsburg. Um vilarejo esquecido no interior de Nova York, onde até o tempo parece desacelerar.

A porta do carro se abriu sem cerimônia. O motorista deixou minha mala no chão de terra batida e partiu sem dizer uma palavra. Só o som dos pneus sobre a estrada molhada ecoou, até sumir por completo.

Ali estava eu. Sozinha. Com o mundo desmoronado nas costas e um contrato maldito me prendendo a um homem que eu mal reconhecia.

A casa surgiu entre as árvores como algo saído de um livro antigo. De pedra escura, varandas amplas e uma solidão que quase gritava. Um lugar isolado, esquecido. Perfeito para alguém que queria desaparecer — ou se esconder.

Bati à porta, e uma mulher de olhar rígido me analisou por trás da corrente de segurança.

"Caroline Hart não é?", perguntou.

"Sim."

"Você está atrasada. O Sr. Thorn odeia atrasos."

"Eu sei. O caminho era longo."

Ela abriu a porta por completo, sem sorrir.

"Vai trabalhar na cozinha. O café é servido às sete, o almoço ao meio-dia e o jantar às sete em ponto. Nada de invadir as áreas restritas. Evite fazer barulho nos corredores principais. O Sr. Thorn tem sono leve."

"Entendido."

"Seu quarto fica no chalé dos fundos. A chave está aqui. Não se perca."

Peguei a chave. As mãos tremiam levemente. 

Entrei.

O chalé era silencioso demais, como se estivesse prestes a revelar seus próprios segredos. 

Comecei a preparar o almoço. E quando a mulher mal-educada veio buscar, eu suspirei.

Logo após, um grito ecoou do andar de cima.

"Essa comida está horrível! Eu já disse que não quero tempero forte! 

Mande essa cozinheira embora agora!"

Meu corpo travou.

A voz ecoou pelas paredes, carregada de autoridade e desprezo. Era ele. O tal Sr. Thorn.

 Não precisei vê-lo para entender que aquele homem tinha mais demônios do que eu estava pronta para enfrentar.

No fim do expediente, fugi por uma trilha lateral que levava até a cidadezinha. Caminhei e massageei as palmas das mãos ligeiramente doloridas. Hoje cozinhei quase cinquenta pratos para esse homem.

"Não é de se admirar que ninguém aguente essa merda de trabalho mesmo o salário sendo alto."pensei enquanto vestia a jaqueta."

Encontrei um bar discreto, com luz baixa, cheiro de madeira e álcool barato. Me sentei no balcão, pedi um whisky duplo, e tentei esquecer que meu mundo tinha ruído.

O celular vibrou. Era Simon, meu advogado.

"Caroline, eu revisei o contrato. Tem uma cláusula que você precisa saber…"

"Fale logo Simon, estou preparada."

"Você assinou a cessão de direitos sobre tudo, até o imóvel de Manhattan. Como ele foi adquirido durante a união estável e está no nome dele… até o apartamento será do Zion."

Engoli em seco.

"Então ele ficou com tudo. Minha carreira. Meus bens. E ainda me ameaça com aquele vídeo, caso eu tente anular o contrato."

"É chantagem. Mas não temos como provar ainda. Você fez certo em fugir. Fique longe por enquanto."

"Me ajude Simon." supliquei."

"Vamos tentar encontrar alguma brecha, eu prometo, mas considerando que Zion é um advogado famoso, ele vai usar meios legais... e ilegais."

Desliguei. Senti os olhos queimarem, mas pisquei forte. Eu não ia chorar ali.

Peguei o copo e me virei, mas esbarrei em algo sólido.

O líquido escorreu pela minha jaqueta, e minha paciência foi junto.

"Mas que merda!" rosnei, levantando o olhar para encarar o culpado.

Ele era alto. Ombros largos. Olhos azuis e penetrantes.

"Olha por onde anda, garota."

Bufei, cruzando os braços.

"Talvez você devesse sair da frente primeiro."

Ele inclinou a cabeça, surpreso com minha resposta. Um sorriso puxou um canto de seus lábios.

"Você não parece pertencer a esse lugar."

Revirei os olhos.

"E você parece se achar dono dele."

"É porque eu sou. E não gosto de mulheres mandonas." Seus olhos se fixaram nos meus.

"Eu também não gosto de homens convencidos."

Eu tentei passar por ele, mas sua mão segurou meu pulso.

"Vem comigo."

" Me solta!" tentei puxar a mão, mas ele foi mais rápido.

Ele me arrastou para um corredor ao lado do bar.

Antes que eu entendesse, o homem misterioso me empurrou contra a parede.

Meu coração disparou.

"O que você está fazendo?! Está louco?"

Ele não respondeu de imediato. Seu olhar percorreu meu rosto, depois minha boca. O cheiro amadeirado dele invadiu meus sentidos.

"Você parece estar fugindo de um predador." Sua voz era rouca. "

Tentei rir, mas foi fraco.

"Eu só queria beber em paz, mas parece que o predador aqui é você."

Ele se aproximou, os dedos roçando na minha cintura.

"E eu só queria que você olhasse por onde anda. Mas acho que nenhum de nós conseguiu o que queria."

Nossos rostos estavam tão perto que minha respiração misturava-se à dele.

"Está com problemas?" ele perguntou."

"Não é da sua conta." revirei os olhos."

"Whisky ajuda. Mas não resolve."

"Você fala por experiência própria?"

"Por convicção. " Ele sussurra e pressiona as mãos sobre minha cintura. "

"Me solta." Minha voz saiu sem firmeza." Ou eu grito."

Ele não se moveu.

"Não até você admitir que não quer que eu te solte."

Eu queria dizer que não. Que aquele aperto na cintura e os olhos azuis não significavam nada.

Mas, em vez disso, segurei a gola da jaqueta dele e o beijei.

Foi instintivo. Eu estava tendo dias horríveis, e um erro a mais não iria me custar tanta coisa assim. Me atracar com um homem lindo não era tão ruim.

As mãos dele apertaram minha cintura, me puxando contra seu corpo quente. O beijo foi firme, intenso e viciante.

Quando recuei para respirar, meus lábios estavam formigando.

Ele sorriu, satisfeito.

"Isso responde à minha pergunta."

Minha mente gritava para eu sair dali. Mas meu corpo? Queria mais.

Ele então me puxou pela mão dando acesso a uma saída pelos fundos do bar.

"Vamos sair daqui."

Eu não exitei, apenas o segui e entramos em seu carro.

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