Março de 1604

Capítulo 3

“Os ventos sopram palavras em nossos ouvidos prendendo nossos corações com as amarras do medo, mas quando se descobre o amor essas amarras se queimam, nos fazendo livres.”

-L. G. Coelho-

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Acordei com o barulho de alguém batendo na porta do quarto, adormeci na banheira, a água já se encontra totalmente fria e meus dedos estão enrugados e brancos. Levanto pegando o roupão felpudo e macio de cor branca, coloco e sigo até o quarto já indo até a porta, dou uma olhada em volta vendo a janela já fechada e cama preparada.

Kari deve ter passado por aqui, como não me viu ajeitou tudo e saiu, como sempre minha amiga é um lindo anjo que Deus me envio. Assim que abro a porta posso ver o sorriso contido de Louise, saio da entrada dando passagem para que ela possa entrar no quarto.

Minha irmã sempre contida e tímida na frente de outros na minha frente é totalmente diferente, Louise é minha irmã do meio junto de Waiolete, seu porte é digno de uma princesa quando está com várias pessoas, mas em casa sem está sob os olhares dos outros, ela é somente minha irmãzinha bagunceira e serelepe. Louise é simplesmente o que se espera de uma boa esposa, ela sabe costura, bordado, toca vários instrumentos, cozinha, gosta de crianças e sabe lidar com elas, sabe andar a cavalo além de ser linda e inteligente para os negócios.

Tudo pelo seu próprio esforço, ninguém nunca a forçou a fazer nada, ela está sempre disposta a aprender e tem uma personalidade que lhe permite aprender tudo sem ser orgulhosa sobre o que já sabe. Observo ela andando lindamente até minha cama sentando-se, depois me olha séria e b**e com a mão na cama ao seu lado, ando até lá sentando-me, já me questiono do porque dela estar aqui nesse horário.

–Kathy sabe que Waiolete anda estranha? -fala devagar enquanto enrola uma pontinha do cabelo castanho caramelo no dedo. –Estou preocupado com ela.

–Com estranhar quer dizer? -na verdade nós últimos dias não tenho pensado em mais nada além de mim, fui um pouco negligente com minhas irmãs e não tenho estado presente na vida delas.

–Não sei se notou mas ela está mais cheinha, anda se sentindo mau o tempo todo, hoje pela manhã vi ela vomitando em um dos banheiros e ontem ela desmaiou no jardim, estou preocupada. -enquanto fala mexe as mãos em seu colo e olha para o chão parecendo ansiosa. Penso em tudo que ela diz tentando me lembrar o que quer que seja, mas nada me vem a mente, mas se Waiolete esta doente isso pode atrasar meus planos. Mas parando para pensar bem ela está assim já faz algum tempo, já esta assim faz pelo menos um mês ou dois, só que ninguém havia percebido por ela esconder muito bem o que sente.

Até comentei com minha mãe que notei como ela anda mas quieta que o seu normal, uma pessoa que sempre sorri e anima todos que estão em sua volta anda calada e sozinha pela casa, hoje mesmo quando a encontrei estava contida e parecia bem fraca na verdade.

–Sei que está preocupada, mas já tentou falar com ela ou algo assim? -questiono olhando minha irmã levantar o rosto com os olhos cheios de lágrimas não derramadas, oh meu Deus, ela está prestes a chorar.

–Kathy tentei de tudo para que ela me falasse algo, mas não tive êxito, por isso vim aqui, por favor fale com ela antes do jantar. -diz quase aos prantos. –Ela é minha irmã e também minha melhor amiga, não sei o que está havendo, mas acho que pode ser algo grave. -completou depois de um longo suspiro e pausa por causa dos soluços de seu quase choro.

–Tudo bem, irei ao quarto de Waiolete para conversar com ela, só irei me trocar. Não chore, vou resolver isso logo. -faço carinho em suas costas lhe confortando e a mesma concorda.

–Obrigada Kathy. -falou já se levantado e secando o lado dos olhos, ela é sempre assim, se faz de forte mas desaba por qualquer coisa principalmente depois do que essa casa passou.

–Agora vem cá, me de um abraço. -chamo e abro os braços, a mesma olha para mim e vem se aconchegando nos meus braços onde lhe aperto carinhosamente. Louise sempre foi assim, carinhosa com todos, principalmente depois que Lídia ficou muitos meses doente, nunca soube se localizar direito quando o assunto é doença, o seu medo de perder alguém é grande o suficiente para estar sempre estudando sobre medicina e outras coisas do tipo e por isso Waiolete sempre foi o seu porto seguro quando ela estava se sentindo sozinha por causa da doença de Lídia, realmente elas se apoiaram uma na outra naquela época.

Deposito um beijo no topo de sua cabeça pensando em quando me tornei esse grude com as três, sempre que tinham dúvidas, segredos ou alguma novidade nos reuníamos e fazíamos uma festa do pijama, depois ficaram menos frequentes, agora são raras as vezes em que nos reunimos para conversar atoa, suspiro e solto a mesma que está mais calma.

–Vou me vestir, daqui a pouco nos encontramos no jantar. Irei ate o quarto de Leta conversar com ela. -passo a mão pelos seus cachos grandes, a mesma sorri se afastando e já fica de pé, faz uma saudação exagerada e vai em direção a porta do quarto para sair.

Sorrio para ela que sai do quarto sem dizer mais nada fechando a porta, me levanto da cama e vou em direção ao closet para ver um vestido, olho todos e pego um dos que gosto mais, ele é todo branco de mangas longas e justo na cintura, além de ser um estilo meio sereia. Visto me avaliando no grande espelho, nunca fui de pedir ajuda na hora de me vestir, sempre gostei de ser independente e ter meu próprio espaço para fazer o que quero, quando quero e por isso acho que estou pronta para ir embora daqui.

Saio do closet e vou até a penteadeira prendo o cabelo em um rabo de cavalo alto já indo para porta, não preciso de maquiagem, não hoje pelo menos e não tenho paciência para colocar joias e falta pouco tempo para o jantar, tenho que conversar com Leta para descobrir o que há de errado e de lá ir juntas até a sala. Saio do quarto determinada a saber o que tanto afligi minha alegre borboleta, dou um sorriso ao lembrar o apelido que coloquei nela assim que a vi sorrir pra mim pela primeira vez.

Ela era apenas um bebezinho sem dentes, eu devia ter uns três ou quatro anos na época, mas assim que vi aquele sorriso sem dentes, acabei chamando ela de borboleta uma lembrança borrada é tudo que tenho em minha mente. Ando calmamente pelo corredor até chegar na porta do quarto dela, cheguei em frente a porta e dei três batidas, mas não obtive resposta, bato novamente e noto que a porta esta só encostada, empurro de leve levando um susto, Waiolete está caída no chão ao lado do criado mudo perto da porta de seu banheiro, seus cabelos claros espalhados pelo chão de ladrilhos escuros.

Assim que vejo Waiolete caída já penso no pior, corro ate ela me ajoelhando ao seu lado, pego em seu pulso para ver sua pulsação, esta viva, suspiro e vou até o sino de emergência que tem em todos os quartos balanço rápido e volto até Waiolete, tentando vira-la mas não tenho sucesso, então aguardo ao seu lado até que alguém chegue para me ajudar, escuto passos e me levanto rapidamente indo até a porta com pressa. Abro a porta com tudo vendo dois guardas e duas criadas vindo rápido pelo corredor, deixo a porta aberta voltando para o lado dela que ainda está no chão, seu corpo está frio e a pele está pálida como papel.

–Rápido gente, Waiolete está desmaiada. -grito desesperada, vejo as duas empregadas entrar rápido pela porta para me ajudar mas pelo visto para não machucar ela mais precisamos de alguém mais forte. Um dos guardas corre até Waiolete, parece aflito, checa a pulsação e suspira aliviado então ergue ela nos braços e a leva até a cama com muito cuidado, quando ele coloca ela na cama vejo seu rosto de pavor.

Tem algo errado aqui, porque está tão desesperado? Ele nem ao menos é da família e mostra tanto desespero por ela, algo esta estranho. Fico alerta, uma das criadas sai do banheiro com uma bacia com água e um pano, se aproxima da cama colocando a bacia ao lado e torceu o pano passando no rosto de Waiolete. Me aproximo sentando na beira da cama, o outro guarda não está mais aqui, então porque ele ainda não foi embora? Olho para o homem alto parado olhando para Waiolete com os olhos cheios de angústia.

Na verdade ele está parada olhando para ela com um olhar não só de angústia mas também há preocupação, espero a criada se retirar o que não demora muito e então o observo, olho para o rapaz analisando, é loiro dos olhos azuis, alto, parece bem forte, mas o uniforme cobre bem seu corpo. São poucos os guardas que trabalham para a família, uns dez no mínimo, esse cara não me é familiar, nunca o vi, mesmo tentando me lembrar dele não consigo, enfim resolvo perguntar logo.

–Porquê está tão aflito? Seria por causa de minha irmã? -ele parecia ter se esquecido de minha presença, me olha como se fosse a primeira vez que estivesse me vendo mesmo depois de ter olhado para min ainda parece perdido em si mesmo.

–Me desculpe Srta. Katherine, não poderia estar mais desesperado, desculpe se fui indiscreto, mas não poderia deixa-la. Waiolete está esperando um filho meu, iremos nos casar e eu a amo, como nunca amei ninguém. -ele fala tudo de uma vez sem pausa, tento digerir o que ele acabou de falar e entro em choque, disse que minha Leta está grávida de um filho dele.

Ó meu Deus, irei ser tia. Me levanto e começo a andar de um lado para o outro tentando formar um pensamento coerente além de que ela está grávida de um guarda, papai vai enlouquecer quando ouvir isso, o Deus tenha piedade de nossa família.

–Sr. -paro porque não sei o seu nome. -Perdão mas não sei seu nome. -ele me olha com os olhos brilhando em lágrimas o medo bem marcado ali.

–Sou Nicolas Sarkozy, Senhorita. -responde nervoso se dando conta do que acaba de me contar um segredo e tanto.

–Sr. Nicolas, desde quando ela está grávida? Ela consultou um médico? -olho para ele que nega com a cabeça envergonhado.

–Insisti para que ela procurasse um, mas ela disse que estava bem e que logo fugiríamos para longe daqui. -seu pânico é aparente após me contar todo seu plano e pensamentos.

–Iriam fugir com meu sobrinho ou sobrinha pra longe. O que tem na cabeça homem? -estou os julgando mas eu irei fugir também que hipócrita da minha parte, mas mesmo assim o que dois jovens como eles iriam fazer para sobreviver ainda mais com uma criança.

–Ela disse que o pai nunca aceitaria o bebê e nem o nosso casamento. Me convenceu a não contar a ninguém, por causa do bebê, ela não deve sofrer fortes emoções pode lhe fazer mau foi o que minha mãe disse, iríamos fugir hoje pela madrugada, acho que foi muito pra ela. -diz quase aos prantos enquanto se move de um lado para o outro.

–Venha Nicolas Sarkozy, vamos comunicar isso a família agora, vocês não vão a lugar algum, meu pai vai ter de aceitar essa relação. -digo seria, apesar de meu pai ser duro e bruto ele não é tão insensível a ponto de rejeitar um neto que terá seu sangue.

–Não seria correto que fizéssemos isso sem ela. -diz pegando na mão da minha irmã e dando um beijinho doce e logo se afasta acho que por respeito a mim, esses jovens amantes são sempre assim cheios de carinho.

–Então esperaremos que ela acorde. Minha irmã não vai sair dessa casa com um filho, vocês nem devem ter para onde ir. -me olhou envergonhado, abriu a boca para falar algo mas fechou. Suspirei indo até a cama me sentando ao lado dela que ainda tem os olhos fechados, sinto Waiolete se remexer, então ela vira o rosto e chama baixinho.

0–Nicolas, meu amor. Você está aqui? -meu amor? Sério mesmo isso? Nem ao menos me notou aqui, só tem olho para ele. Ele se aproxima novamente da beira da cama pegando em sua mão, levanto aos lábios de novo, já que estava um pouco afastado depois que me sentei ao lado dela na cama, ele parece um bom rapaz.

–Estou aqui meu amor. -responde com carinho. Meus olhos se encheram de lagrimas com a cena, porque fiquei com inveja dos dois. Levanto e Waiolete vira o rosto em minha direção, seu rosto fica ainda mais pálido, Nicolas se aproxima e fala algo em seu ouvido passando para ela sua calma e ela parece se aquietar.

–Vou deixar que conversem, esperarei pelos dois na sala de jantar. Waiolete querida não se preocupe demais, quero minha sobrinha ou sobrinho bem. -vou até ela dando um beijinho em sua testa em seguida um abraço e me dirijo para fora do quarto fechando a porta e deixando os dois sozinhos, acho que acabo de ficar uns bons meses mais velha depois dessa descoberta e meus pais vão ter uma bela surpresa.

Quando começo a andar solto um longo suspiro, não esperava por isso, minha pequena Leta está grávida antes de mim e parece que ela vai se casar primeiro também. Começo a caminhar até as escadas, na porta de entrada da sala de jantar encontro uma criada, me aproximo pedindo para colocar um lugar extra na mesa e ela sai apressada. Hoje vai ser uma noite bem animada e cheia de surpresas, espero que meu pai não tenha um ataque do coração pela notícia repentina. Quero ver o que ele vai fazer quando eu fugir, se ele sobreviver a Leta grávida uma fuga não vai o fazer morrer, dou risada enquanto desço os degraus em direção a sala de estar.

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