Harper Ward
O rosto no espelho era uma versão quebrada de mim mesma. A maquiagem borrada denunciava o choro silencioso que eu tanto havia tentado conter, como se lágrimas pudessem ser domadas com a mesma disciplina com que se dobra um lenço ou se fecha uma porta. Ainda assim, estavam ali, marcando minha pele como manchas que não pertenciam a mim. Respirei fundo, recusei a me ver daquele jeito.
Sentei-me diante da penteadeira. A madeira fria contra meus braços parecia me chamar de volta para o presente, exigindo que eu não desmoronasse de vez. Peguei um lenço, limpei com firmeza a lágrima que deslizava pela face. Não, pensei. Não vou chorar por ele. Não de novo.
Meu reflexo me encarava, pálido e vulnerável, mas havia uma faísca escondida sob o borrão preto do rímel. Era como se algo em mim insistisse em se levantar, em sobreviver apesar de toda a dor. Puxei a gaveta, espalhei os batons, as sombras, os pincéis. A cada toque, a cada camada de pó e cor, não era apenas uma maquiagem que eu