Amanda é uma garota de 15 anos, aparentemente comum no mundo de magia em que ela vive. extremamente inteligente, mas comum. Uma tragédia marca sua vida, lhe trazendo um estranho que pode mostrar a ela que nem tudo se explica com tecnologia, mas muita coisa somente magia pura e primitiva, deixada pelos deuses podem ajudar. Ricardo tenta de todo esquecer o passado, já que não pode nem sequer chegar perto dele, mas uma única ligação de seu pai, o poderoso imperador da tecnologia, muda toda a situação e o homem, não só vai reencontrar o passado, como também vai ter que enfrentá-lo. Lidar com coisas estranhas não é novidade para nenhum dos dois, mas na medida em que vão se conhecendo e tendo conhecimento do que um significa na vida do outro, o que e estranho pode se tornar bizarro, ameaçador e fatal. Qual o maior desafio, enfrentar seu maior medo ou enfrentar a si mesmo?
Ler maisEra um final de tarde estranho, mais ainda do que o normal, porque estava acinzentado como se cinzas de fogo sujassem o ar, ao contrário do arroxeado-marrom que sempre estava presente naquela hora.
Eu estava com minha amiga Ghenos na praia à espera de minha mãe, que estava mais de meia hora atrasada. Poderia ter considerado o fato como mal presságio, não fosse o chefe dela, Jerrilly Djovig, que raramente a deixava sair em seu horário normal de trabalho. Ainda assim, algo me dizia que não foi apenas trabalho que havia a atrasado.Eu conhecia o chefe dela o suficiente para ter uma relação de amor e ódio por aquele homem. Amor, porque havia algo nele, desde que eu era bem pequena, que me dizia que ele estava sempre por perto não apenas por causa do trabalho de minha mãe e no quesito figura masculina, era o mais perto de um tio para mim. E ódio porque minha amada mãe era uma profissional excelente, tudo o que eu havia aprendido no mundo da tecnologia, eu devia a ela, e mesmo assim preferia continuar trabalhando para aquele homem e raramente chegava para o jantar.Eu insisti a ela que poderia trabalhar para outra empresa, e cada vez que ela recebia uma proposta – certa vez recebendo o dobro de seu atual salário – recusava, dizendo que sua vida estava ligada à Djovig Softwares e que um dia eu reconheceria todo o trabalho e esforço dela, que estava fazendo tudo aquilo por mim e pelo meu futuro.Eu simplesmente não conseguia entender o significado de suas palavras, por mais que tentasse. E mesmo assim, já com 15 anos, simplesmente esperava para ver quando minha vida, com uma mãe carinhosa e superprotetora, mas ausente, mudaria.Eu amava a minha mãe, ela era a única família que eu tinha. Ela também era filha única, filha de mãe solteira, que deu tudo o que tinha para que ela conseguisse estudar e ir à faculdade e conseguir um emprego digno. Não conheci a minha avó, mas acredito que deve ter sido uma grande mulher.Voltando àquele final de tarde, eu já havia ligado três vezes para ela, mandado 15 mensagens e ligado duas vezes no escritório. A atendente me garantiu nas duas vezes que ela havia saído há mais e duas horas e não havia deixado recado.Decidi ligar então diretamente para o senhor Djovig. Ele não atendeu e por algum motivo eu não gostei nada, já que nunca, jamais recusava uma ligação minha, ainda que estivesse na mais importante das reuniões.Então, para não prejudicar minha mãe em seu local de trabalho, pedi a Ghenos que ligasse para o escritório, dessa vez procurando por ele. Não era nada comum que eu fizesse isso, mas eu sentia que precisava.— Boa tarde — disse ela ainda nervosa —, gostaria de falar com o senhor Jerrilly Djovig. Sou Ghenos Archer... Tudo bem... Não, não, volto a ligar. Obrigada.— O que aconteceu? — perguntei apreensiva.— Ele não está na empresa. Saiu há mais de duas horas e só volta amanhã. Desculpe, Manda, mas acho melhor pegarmos um ônibus. As linhas de energia vão hibernar em uma hora e não podemos ficar aqui.Assenti e fomos ao ponto, realmente não era nada bom duas garotas sozinhas num final de tarde na praia. Se os fiscais nos pegassem ali, nossas famílias pagariam uma multa um tanto pesada, coisa que para minha amiga, renderia pelo menos uma semana de castigo. Eu senti um aperto estranho quando ela contou que o chefe de minha mãe havia saído, foi como se as coisas tentassem se encaixar forçadamente em minha cabeça, mas não soubessem como. Tentei ligar para minha mãe novamente e como não atendeu, tentei ligar para Jerrilly novamente. Não obtive nenhum resultado, o que me deixou cada vez mais apreensiva.Pegamos o ônibus e fomos para casa. Ghenos morava perto de mim, então me acompanhou e continuou descendo a rua quando me preparei para entrar.Peguei a chave dentro de minha bolsa, mas um frio me percorreu na espinha e o molho caiu de minhas mãos, que por algum motivo inconsciente, tremiam. Afastando o pânico repentino, enfiei a mesma na fechadura digital e fui correndo para meu quarto, o abri e fui até uma gaveta na escrivaninha e tirei de lá um vidrinho com comprimidos para ansiedade. Tomei um.Respirando fundo, levantei a cabeça e me olhei no espelho. Meus olhos azuis se destacavam por seus filetes dourados e tinham uma beleza única. Eu não gostava do meu cabelo, porque para mim parecia cor de sujeira, mas minha mãe dizia que isso eu havia puxado ao meu pai.Eu nunca tinha visto ninguém com aquele tom estranho de cabelo, não tão igual o meu, que era de um castanho cor de barro, tão estranho que dependendo da iluminação parecia tijolo, mas um pouco com mais aparência de sujo. Era por esse motivo que eu o mantinha sempre amarrado.Minha boca estava ressecada pelo sal do mar, e parecia naquele momento que eu estava definhando aos poucos, sem entender bem o motivo. Por um momento achei que minha imagem houvesse piscado para mim de forma estranha, ainda que eu olhasse fixamente para ela. Recuei. Já estava bem nervosa para ter minhas paranoias habituais me perturbando.Embora o pânico estivesse se dissipando, aquela sensação ruim não passava. Fui à cozinha, abri a geladeira, enchi um copo com água gelada e tomei. Fui ao quarto de minha mãe., tudo estava da mesma forma, o guarda-roupas impecavelmente organizado, a cama arrumada, a escrivaninha...A escrivaninha estava vazia naquela manhã. E naquele momento havia um único objeto sobre ela. Uma caixa.Fui até o objeto, que estava trancado com um pequeno cadeado codificado. A chave não estava lá. Eu tinha muito respeito por minha mãe e não bisbilhotaria suas coisas. Me senti mal por estar ali.Voltei para o meu quarto, tomei um banho. Vesti um moletom surrado e preparei uma macarronada para o jantar, mas ela não apareceu. Eu também não comi. Pensei em ligar a televisão, mas a sensação de pânico ameaçava a voltar novamente. Eu desisti.Eu não saí da sala. Adormeci ali à sua espera, acordando assustada diversas vezes, até que meu sono se foi de vez.3 horas da manhã e ela ainda não retornara minhas ligações ou mensagens. Nem sequer havia visualizado nenhuma delas.Resolvi ligar a televisão. Algum filme idiota passava e não conseguiu prender a minha atenção. Passei de um canal a outro e só parei quando meu telefone tocou uma notificação.A bateria estava quase chegando ao fim. Subi para meu quarto procurando o carregador. Quando enfim o encontrei, decidi não descer. Se minha mãe entrasse em contato, eu queria estar por perto.O dia amanheceu. Fui ao banheiro, escovei os dentes e lavei o rosto. Não me troquei, não iria à escola enquanto ela não voltasse. Tirei o celular do carregador, coloquei o aparelho no bolso e desci. Eu nem sequer me lembrava que havia deixado a televisão ligada.Vi a imagem antes de ouvir do que se tratava. Era um monte de ferragens retorcidas do que um dia havia sido um carro. Um acidente horrível.A sensação de pânico voltou e eu quis correr, mas me obriguei a continuar seguindo em frente, meu coração quase saindo pela boca. Com as mãos trêmulas, agarrei o controle e aumentei o volume.— O acidente ocorreu na tarde de ontem e ao que tudo indica foi uma falha na mecânica... — a repórter falava, mas meus olhos se fixaram na imagem e na legenda abaixo.“Empresário e assistente morrem em acidente na rodovia 341”Ali estava a explicação de porquê mesmo que minha mãe houvesse saído cedo do trabalho, não havia voltado.E ela não voltaria.Ela estava morta.Acordei com uma sensação estranha. Era como se algo estivesse me faltando. Passei a mão em meu pescoço e lá estava a fina corrente que Ricardo mandou fazer com a aliança de mamãe. Ainda assim, havia uma sensação de vazio em meu peito. Levantei-me e olhei pela janela, percebendo que já era noite.Durante a manhã do meu aniversário, ainda na madrugada, Ricardo e eu fizemos o ritual de sangue e foi nesse momento que descobrimos que deveríamos fazê-lo a cada 16 anos e enquanto o ciclo durasse, teríamos vida. Sempre pensei que essa coisa de imortalidade – embora não fôssemos imortais, mas quase isso – era para deuses e vampiros, não sabia que os feiticeiros podiam também desfrutar dessa dádiva.Por um momento imaginei o que aconteceria se minha mãe não tivesse morrido no acidente. Ela seria quase imortal também ou isso se aplicava apenas a mim por causa da minha peculiaridade com Ricardo?“A imortalidade não é garantida, então não vacilem em suas escolhas”, disse vovó antes de sangrar o m
Mais uma vez minha noite não foi fácil. Amanda sabia sobre nós, ou pelo menos parte do nosso passado, mas não sabia tudo e isso era o que fazia a diferença. Cada mínimo detalhe da história contava e eu estava perdido. Mesmo que ela não tivesse atacado, mas fugido, não queria dizer que não faria isso na próxima vez que nos encontrássemos, ou pior, ela poderia me procurar e em uma luta mano a mano entre o lobo e a feiticeira, era óbvio quem morreria primeiro.Eu estava fraco, dentro de dois dias o pouco do feitiço que ainda restava em mim evaporaraia e naturalmente eu morreria. Augusto não me procurou a noite inteira, muito menos atendeu minhas ligações. Wendy e alguns de seus homens cuidavam de minha irmã, que também não tive notícias, e o lobo estava adormecido, então supus que estava tudo bem. Ainda assim passei a noite em claro. Um lobo, mesmo solitário, não podia vacilar. Assim que amanheceu, pedi a um dos meus homens a localização de Amanda e ao saber que ela estava no colégio f
Abri a caixa, espalhei todos os envelopes com as cartas de Jerrilly, mas não havia alianças no meio. Senti-me frustrada por um momento, mas meu amigo falou:— Talvez estejam dentro de algum desses envelopes, não custa nada olhar.Assenti e passamos a olhar todos os envelopes, mas nenhum continha as alianças. Senti que apenas perdi um tempo precioso e que eu não tinha procurando algo que não estava ali. Juntei tudo e joguei novamente com pressa na caixa, mas antes de fechá-la, Wendy falou:— Há mais uma aqui, Manda. E está lacrada. Meu coração acelerou. Uma carta lacrada entre as outras, a última carta que meu pai escreveu. A última carta e passei nove meses sem vê-la. Olhei para Wendy, que tirou a caixa de minha mão e se aproximou de mim. Tomei coragem e abri o envelope. Tirei o papel dobrado de dentro e o abri com as mãos trêmulas. A caligrafia de Jerrilly estava lá, tão legível e bonita, que parecia ter sido bordada no papel.“Amanda;Esta é a última carta que escrevo para você, e
Assenti calada. Um turbilhão de pensamentos passou em minha mente, mas logo a ideia de perder a única família que me sobrou me deixou nervosa. — Se não fizer por ele, faça por si mesma, porque assim que Ricardo morrer, você também estará com os dias contados. Que maravilha. Jerrilly foi muito esperto, não? Um louco, mas um louco esperto.— Tudo bem, faremos o ritual amanhã. Hoje não estou preparada para lidar com Ricardo, Suellen ou o lobo...— Tem uma coisa que pode ajudar.— O que?— As alianças dos seus pais.— Minha mãe tinha uma aliança? — perguntei surpresa. — Como eu nunca a vi usando?— Não era para você saber, menina. O caso é que essas alianças foram enfeitiçadas, de forma que nenhum outro feitiço pode passar por elas.— Por que Ricardo não havia mencionado isso antes?— Porque ele não sabe onde as joias estão, mas acho que sei onde podem estar.— Onde?— Na caixa que sua mãe deixou com as cartas de seu pai para você. Nunca a abriu, não é?Neguei com a cabeça. Eu havia me
Senti meu pulso acelerar. Ricardo estava com Suellen e eu a odiava. Não suportava estar no mesmo ambiente que ela, mas precisava falar com meu irmão. Isso estava acima de qualquer ciúme bobo.— Ricardo vai se casar, já sei disso e a julgar pelo local onde estamos, eles estão juntos. — Sim, mas não é só isso, hoje é o dia em que ele a pedirá em casamento.Apertei minha mão na maçaneta do carro. Eu podia lidar com aquilo também. — Obrigado. Me espera aqui?— Claro. Não a deixarei mais, a não ser que me peça pessoalmente.Achei suas palavras tão fofas que o abracei. Saí do carro, respirei fundo e fui até o restaurante. Ao entrar, vi Ricardo e Suellen se beijando, mas não foi isso que fez meus sentidos apurarem e raiva tomar conta de mim.Ricardo me sentiu tão rápido quanto eu o senti. O lobo dentro dele se agitou e ele se levantou, deixando sua noiva confusa e provavelmente com muita raiva ao me ver. Eu não conseguia me aproximar, saber que todo meu pesadelo, meu trauma de infância não
Eu nunca tinha escutado algo que parecesse tão perturbador. Sabia que meu histórico de amizades não era dos melhores, mas Hellen não me inspirou suspeita. Queria ouvir o que ela tinha a dizer e estava aberta a entender o seu lado, afinal ela havia me compreendido e não me julgava.— Diga, Hellen, vou te escutar. — Eu quebrei o sigilo da escola e descobri quem é o seu tutor. Eu fui atrás dele no dia em que você amanheceu no campus da faculdade.— Você o que? — perguntei incrédula.— Desculpa, Manda, mas eu estava preocupada com você. Fui até a Djovig Softwares, conversei com Ricardo e ele me contou tudo.— Tudo? — perguntei para ter certeza de que ela soubesse mesmo toda a verdade.— Tudo. Ele me pediu para cuidar de você, e mesmo que me odeie a partir de agora, foi o que eu fiz durante todo o tempo em que você saiu com Samara.— Você estava me espionando? — Senti minha raiva aumentar, mas a deixaria terminar antes de tomar alguma atitude precipitada. — Eu estava preocupada. Você fo
Último capítulo