Guardiã dos Poderes
Guardiã dos Poderes
Por: DebyCorrea
Prólogo

Só era possível ouvir os sons dos pés batendo contra a terra. A noite estava tão silenciosa que dava para distinguir os sons que as folhas e galhos faziam ao raspar nos braços que me carregavam. O ritmo dos passos era característico de uma corrida, o balanço do corpo dele e do meu também. Assim como sua respiração acelerada.

Eu sabia que estávamos fugindo, não porque já estávamos correndo há muito tempo, mas sim porque, às vezes, era possível ouvir outros passos atrás de nós. Era uma fuga persistente.

Diante dos meus olhos, havia somente os galhos mais altos das árvores, com folhas e flores coloridas apesar da escuridão da noite. A lua ainda aparecia no céu, mas já estava começando a ser coberta pelas nuvens negras que escondiam as estrelas. Tudo aquilo não passava de um borrão enquanto prosseguíamos em linha reta e eu só conseguia distingui-los quando mudávamos de direção.

― Não se preocupe, criança, prometo que vou levá-la a um lugar seguro. ― O rosto do homem que me carregava virou para baixo por um instante e eu pude ver um lampejo dos brilhantes olhos dourados.

Alguns passos e árvores depois, ele parou e eu senti um pequeno calafrio na barriga quando ele se abaixou muito rápido. Todos os sons cessaram então, inclusive os passos que nos seguiam. De repente, minha visão foi ficando cada vez mais limitada à medida em que ele me afastava de seu peito. A aspereza que senti nas minhas costas, que nem mesmo o fino cobertor no qual estava enrolada conseguiu disfarçar, e as bordas da madeira, que limitavam minha visão, eram as únicas provas de que eu precisava para saber que estava sendo escondida dentro do tronco de uma árvore caída.

Fora do tronco, o rosto reto com nariz anguloso e fino, orelhas pontudas e olhos brilhantes era tudo que eu podia ver.

― Será uma guardiã muito poderosa algum dia ― ouvi-o dizer enquanto se levantava, iluminando a noite como um farol em um nevoeiro.

Eu ainda podia vê-lo pela pequena abertura quando se virou de costas para mim, demonstrando que realmente estava me abandonando.

De repente, os outros passos voltaram e o homem não começou a andar como pretendia. Ao cessar dos sons depois de chegarem perto de nós, percebi que o homem que brilhava estava cercado. Pude confirmar isso quando várias vozes oriundas de todas as direções ordenaram que ele devolvesse os poderes.

Vi os ombros do homem mexerem e ouvi sua risada melodiosa, apesar de firme, pouco antes de sua voz responder que eles, fossem quem fossem, jamais conseguiriam pegá-lo vivo. Eu nunca soube quem eram os outros, pois nunca apareciam no meu campo de visão.

Então, o homem levantou as mãos que me carregaram por tanto tempo e, aos poucos, a luminosidade que elas já possuíam começou a aumentar, adquirindo uma luz própria que ficava cada vez mais forte. Eu não sabia para quem ele estava apontando, mas depois deixou de ser necessário saber, pois a luz aumentou de uma tal maneira que, assim como deve ter feito com os outros, me cegou...

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