Guardiã Sombria
Guardiã Sombria
Por: J.P Andrade
Capítulo 01

A noite estava escura e densa, eu corria pela viela sem saber o que seria de mim, o vento soprava gelado em meu rosto, mas não era por causa dele que eu tremia repetidamente.

Os tremores eram causados pelo medo que sentia não o frio.

Meu coração batia em um ritmo louco, desesperado, minha respiração ofegante se fazia alta no silêncio da noite.

O som dos meus passos correndo era o único som daquele lugar.

Logo os cachorros e seus donos viriam até mim, o fino vestido vermelho que eu usava agora estava todo amassado e sujo de suor, mas eu só precisava correr mais um pouco até chegar na floresta.

Lá eu conseguiria sobreviver, mas seria muito difícil diante do clima frio, das condições que eu me encontrava sem provisões a não ser um pedaço de pão que eu segurava enrolado em um pano.

Olhei para o céu e vi suas estrelas, a lua imponente e luminosa me fez querer chorar, em algum lugar meus pais poderiam estar vendo aquele mesmo céu que eu agora, só mais um pouco, somente mais alguns passos para conseguir chegar na floresta e logo iria encontrar eles.

Até que o som de latidos irromperam atrás de mim, meu coração antes acelerado agora tinha o feito contrário,  parecia que havia parado de tanto medo.

Eu não imaginei que fossem sentir minha falta tão rápido, a menos que alguma menina tenha me entregado.

Era fresca na minha memória o que eles haviam feito com Nora ao capturarem ela após sua fuga.

Dias sobrevivendo de água e pão na solitária e isso era um castigo brando se comparar com o que veio depois disso.

- Pare Nina!- a voz de Carlos veio alto.

É claro que mandariam ele atrás de mim, afinal Carlos era o menos influenciável de todos os homens daquele lugar, ela não mandaria alguém que eu pudesse manipular.

Corri  o mais depressa possível mas era inútil caso ele quisesse soltar os cachorros eu não teria a mínima chance de escapar.

Será que eu era valiosa o suficiente para eles para permanecer viva ? Ou me matariam para passar uma mensagem as outras?

Eu não queria pagar para ver então corri mais rápido.

- Pare ou solto os cachorros atrás de você sua maldita!- Esbravejou Carlos e antes que eu pudesse responder algo o vi soltar os três cachorros atrás de mim.

Era meu fim.

Consegui chegar a cerca que separava o matagal que ninguém ousava cruzar depois de tantas jovens garotas dedaparecerem nessa mata toda a região via o lugar como uma morada de demônios, era o que acontecia em cidade pequena repleta de terras indígenas ao redor, as lendas se espalhavam, se eu ao menos chegasse ao matagal antes deles estaria salva, com todas essas lendas nessa região sobre criaturas da noite que vivem na mata, ninguém iria me procurar lá e Carlos não arriscaria perder seus cães na mata por mim.

Alcancei a cerca e pulei rasgando boa parte do vestido vermelho, os cães não conseguiram pular como eu para meu alívio.

Entrei a toda velocidade na mata, meus pés descalços pisando em pedras, terra e várias outras coisas cortantes, mas nada disso me parou.

Na verdade eu quis gritar de felicidade cada vez que os latidos ficavam para trás, até desaparecerem completamente.

Já não estava mais ao alcance para ouvir os gritos possessos de Carlos e os latidos dos cães.

Agora tudo dependia de mim, sobreviver na mata e depois fugir dela de volta a minha Aldeia.

Um som muito conhecido me fez pular enquanto corria, era o som de tiros.

Contei três tiros ao longe, parei de correr quando percebi que havia conseguido manter uma distância considerável.

Caminhei até uma árvore grande e finalmente depois de muito correr me sentei recostada nela, ao sentar olhei para o céu noturno e meu coração se apertou ao imaginar o motivo daqueles tiros.

Será que haviam descoberto que Clara  havia distraído o guarda para que eu escapasse, se descobriram isso a matariam?

Agora o frio se intensificou e pensei em tentar fazer uma fogueira, eles não seriam atraídos pela fumaça, não teriam coragem de entrar na mata atrás de mim.

Como se o universo estivesse conspirando contra minha recém idéia para me aquecer um trovão se fez ouvir no céu e logo em seguida as primeiras gotas de chuvas caíram geladas sobre toda a floresta.

Em questão de minutos eu já estava ensopada e tremendo de frio.

Meus dentes batendo e meu corpo se encolhendo, o vestido vermelho agora parecia uma camisola todo rasgado, o tecido não era nem um pouco quente.

Meu estômago roncou pedindo o pão enrolado no pano, mas eu o ignorei ciente de que tinha que poupar a escassa comida, já que embora eu tenha crescido em uma aldeia próxima a natureza isso não era a certeza que eu conseguiria sair rapidamente dessa floresta.

Eu precisava resistir a essa noite de chuva, não ficar doente e procurar um rio onde pudesse me hidratar.

Eu desejava não encontrar nenhuma fera pelo caminho, não acreditava em criaturas da noite e nem em espíritos da natureza.

Minha aldeia não ficava tão longe, há dois anos havia sido sequestrada no rio perto da aldeia.

Viviamos proximos a tribo Kai desde que meu pai foi expulso de sua própria tribo.

Seu crime para ser expulso? Eu nunca soube.

A chuva se intensificou ainda mais e meu corpo estava congelando, mas como tudo conseguia sempre piorar vi uma movimentação na mata.

Levantei devagar em tom de alerta encarando o ponto onde a mata se mexia, alguma coisa vinha na minha direção rápido demais, eu desejei ter algo afiado comigo, desejei meu arco e flecha mas minhas mãos estavam nuas, olhei desesperada ao redor em busca de algo que pudesse usar como arma, nada eficiente o bastante e me contentei com um tronco leve demais.

Provavelmente eu seria devorada.

De nada esse tronco me ajudaria, se o que estivesse vindo em minha direção fosse um animal faminto, o que eu acreditava ser.

Ah como eu queria meu arco e flecha agora aqui comigo, eu poderia ao menos ter uma chance de me defender!

Mas para a minha surpresa do meio do mato não saiu um predador sedento pelo meu sangue e sim um inofensivo coelho pardo.

Encarei o coelho saltitante voltando a respirar aliviada novamente, me sentei novamente recostadada a árvore e observei o coelho sumir nas profundezas da mata, talvez eu tivesse errado de não tentar pega-lo naquele momento.

Afinal daria uma boa refeição, mas naquele momento não pensei profundamente nessa possibilidade, me sentia cansada e com frio.

Para completar senti as primeiras gotas de chuva caindo, o frio da noite aumentando, me encolhi na árvore enquanto a chuva descia com tudo me molhando.

Mas mesmo com frio, com fome e cansada meu coração não podia estar mais feliz, olhei para o céu estrelado sabendo que esta noite eu era livre.

J.P Andrade

Olá espero que estejam gostando. Por favor não esqueçam de avaliar o livro isso me ajuda muito!

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