Capítulo 3

Era seu primeiro dia de estágio, e embora ainda não fosse o emprego dos seus sonhos, era uma excelente oportunidade. Ela queria mesmo era ser escritora. Mas, mesmo assim, claro que a chance de trabalhar em uma revista tão renomada era algo que ela não podia desperdiçar. Respirou fundo ao entrar no prédio de vidro moderno, determinada a fazer seu melhor. Vestida com a roupa que ela escolheu há dias, e aparentando uma confiança que na verdade era uma fachada, Rafa se anunciou na recepção e foi apresentada à sua nova equipe. Ela estava nervosa como nunca,

Após um pequeno tour pelos departamentos da revista, Rafa foi levada à sua mesa e começou a trabalhar.

Desde o primeiro momento, ela mostrou-se focada e determinada, qualidades que rapidamente se destacaram. Apesar de sua timidez e discrição, sua organização impecável e dedicação chamaram a atenção. Sua competência não passou despercebida, especialmente pelo chefe do departamento, Ricardo.

Os dias na revista eram intensos, e Rafa se via imersa em uma rotina desafiadora, mas se sentia motivada e conseguia cumprir com todas as demandas que lhe eram destinadas. Após três meses de trabalho, foi efetivada na empresa. Certa manhã, enquanto finalizava a revisão de um artigo, Ricardo a chamou em sua sala.

"Rafa, preciso de você em um almoço de negócios hoje," disse ele, sem rodeios. "É uma reunião importante com um potencial patrocinador, e quero que esteja presente para tomar notas e ajudar na organização das propostas."

Rafa ficou surpresa e lisonjeada com o convite. "Claro, senhor Ricardo. Não se preocupe, pode contar comigo" respondeu, muito séria. Notou os olhares curiosos e invejosos dos colegas, especialmente das outras mulheres do departamento. Ser escolhida para acompanhar o senhor Ricardo em um evento fora da empresa era considerado um privilégio, e ela ser escolhida assim, logo no início de sua carreira, havia incomodado algumas pessoas que a olhavam torto, sem nem mesmo tentar disfarçar.

Perto da mesa de Rafa, duas colegas cochichavam enquanto a observavam sair. "Você viu isso? A tal Rafaela foi convidada para o almoço de negócios com o Sr. Ricardo!" disse uma delas, claramente invejosa.

"Eu não acredito! Logo ela, que mal começou aqui. E nós? Estamos aqui a todo esse tempo e ele nunca nem nos notou," respondeu a outra, com um suspiro exasperado.

"Rafa, esteja pronta às 12h, vamos no meu carro para discutirmos as pautas da reunião. O restaurante é um pouco afastado, teremos bastante tempo no caminho"

Rafa assentiu, um pouco preocupada com os olhares indiscretos dos colegas e com o que eles, e até mesmo o senhor Ricardo poderiam estar pensando. Esse emprego era importante para ela, mas ela jamais faria algo não profissional para ascender na empresa. Rafa era uma menina criada por freiras, e ficou horrorizada ao perceber o que as pessoas estavam pensando.

Ficou aliviada ao entrar no carro acompanhada pelo segurança particular e o motorista. O senhor Ricardo se sentou no banco da frente e se manteve respeitoso em todo o percurso.

Durante o almoço de negócios, Rafa manteve-se atenta e profissional. No entanto, no meio da reunião, começou a sentir um forte enjoo. Tentou ignorar, mas a sensação piorou rapidamente. Conseguiu desculpar-se e ir discretamente ao banheiro, onde não conseguiu evitar e acabou vomitando. Ainda bem que ela conseguiu chegar ao vaso sanitário e não sujar nada. Nem o banheiro, nem a própria roupa.

“Meu deus, isso é hora de passar mal, que situação, não posso estragar essa oportunidade”, pensou Rafa, se olhando no espelho e se recriminando fortemente. Lavou o rosto, retocou a discreta maquiagem e voltou à mesa após se recompor.

Rafa retornou ao almoço sem chamar atenção. O almoço correu sem mais ocorrências ou interrupções. Mais tarde, após finalizar o dia sentindo fortes náuseas, ela saiu do escritório, e decidiu passar na farmácia à caminho de casa. Ela fez alguns cálculos, e percebeu que sua menstruação estava muitíssimo atrasada. Como ela sempre teve um ciclo totalmente irregular, não havia dado muita importância, mas, pensando bem, estava muito mais atrasada que o usual. E esse enjoo repentino... Isso não era normal... Alguma coisa martelando na cabeça dela dizia que isso poderia estar relacionado àquela noite fatídica, da qual ela mal conseguia se lembrar. Com isso em mente, mesmo achando que não seria possível o destino fazer uma brincadeira dessas com ela, achou melhor ter certeza… Pegou na prateleira um teste de gravidez, não era caro… Melhor gastar um dinheirinho e ter logo paz, né? Descobrindo a verdade… Sentindo o coração disparar, dirigiu-se ao caixa. Tímida, sentiu o rosto corar enquanto a moça do caixa registrava o produto e perguntava: “Mais alguma coisa, senhorita?” Rafa pagou, saiu apressadamente e caminhou até o seu prédio. Suspirou na frente do portão, olhando o prédio antigo, cuja fachada de azulejos esverdeados dava um charme adicional. Olhou a janela do seu apartamento e viu que estava fechada. Paulinha ainda não devia ter chegado em casa… Entrou, e sentou-se no sofá, segurando a embalagem do teste com as mãos ainda trêmulas. O silêncio da sala parecia aumentar sua ansiedade. Leu atentamente as instruções da embalagem. Foi ao banheiro, fez xixi no potinho, aguardou o tempo recomendado pelo fabricante, mas não teve coragem de olhar o resultado.

Pouco tempo depois, Paulinha chegou do trabalho, encontrando Rafa sentada, desolada. "Rafa, o que aconteceu?" perguntou, largando a bolsa no chão e se aproximando da amiga.

Rafa levantou o olhar, os olhos brilhando de lágrimas contidas. "Eu... eu me senti muito mal hoje, durante o almoço de negócios. Vomitei e... fiz umas contas… E daí… Ai, irmã, comprei um teste de gravidez."

Paulinha se sentou ao lado dela, compreendendo finalmente a expressão da outra, pegando suas mãos. "E o resultado? Você já viu?"

Rafa balançou a cabeça. "Não tive coragem de olhar, Paulinha. Não sei o que fazer. Você pode olhar pra mim, por favor?" Entregou o teste para Paulinha, as mãos ainda trêmulas e a voz chorosa.

Paulinha abraçou Rafa com força, sua presença reconfortante. "Vamos olhar juntas, ok? Não importa o que aconteça, eu sempre estarei aqui com você. Somos uma família!"

Rafa assentiu, sentindo um pouco do peso em seus ombros diminuir. Paulinha pegou o teste das mãos de Rafa. Após um momento de tensão, olharam para o resultado: duas linhas.

Rafa estava esperando um bebê. E só podia ser do estranho misterioso. Desde aquela noite, Rafa não estivera com mais ninguém.

Ela se sentiu atordoada, o mundo girando ao seu redor. Isso não poderia estar acontecendo. Ela não conseguia acreditar. Que piada de mal gosto do destino era essa? Paulinha apertou sua mão com mais força.
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