Enzo
Ela apareceu do nada.
Duas da tarde. Céu fechado. Ar pesado. Eu estava na minha cobertura, tentando não socar mais nada pela frente, quando o interfone tocou.
— Senhor Mancini, tem uma mulher aqui. Diz que precisa falar com o senhor. É urgente.
— Nome?
— Letícia Araújo.
Travei.
Por um segundo, pensei em mandar sumirem com ela. Jogar essa mulher escada abaixo. Mas algo em mim... travou.
A raiva ainda queimava. A decepção, então, nem se fala. Mas o fato de ela ter vindo até aqui, na minha casa, e dito o nome verdadeiro... isso queria dizer alguma coisa.
— Manda subir.
Fiquei de pé no meio da sala. Braços cruzados. Coração acelerado.
A porta se abriu alguns minutos depois.
Ela entrou devagar. Vestido azul claro, sandálias baixas, o cabelo preso de forma descuidada. Parecia mais pálida. Mais frágil. Ou talvez fosse só encenação.
Letícia.
Ou Ariel.
Ou o nome que ela quiser usar essa semana.
— Veio terminar o teatro? — perguntei, sem me mover.
Ela respirou fundo.
— Não vim me justifica