Capítulo Sete

Ela acabou adormecendo em meus braços. Chorando magoada com alguém que nem sequer ligar para se ela estava bem ou não, e de certa forma, isso me intrigava. Como amar alguém que não nos dá sinais de que pode corresponder o mesmo sentimento? E mais do que isso, estar todo o tempo perto e fingir que estava tudo bem. 

E era isso que me doía. Como um ser humano poderia ser assim? Tão cruel e vil a ponto de deixar uma menina naquele estado em que minha protegida estava? Como os seres incríveis que meu pai falava poderiam ter se transformado nisso? 

O pior que eu sabia que esse tipo de crueldade não é nada comparado aos crimes de que nós anjos às vezes não conseguimos evitar. É lamentável que alguém possa chegar a esse ponto. 

Por isso quando foi à noite, esperei minha amada adormecer novamente em meus braços, as horas da madrugada eram denunciadas pela luz da lua que entrava pela janela e deixei-a dormindo para que eu pudesse fazer algo que era necessário. 

Na verdade, no fundo, eu sabia que estava ultrapassando todas as barreiras que um dia foi estabelecido entre mim para com humanos. Mas, algo desemfreado tomava conta de minhas emoções e eu sabia que faria qualquer coisa que estivesse ao meu alcance para cuidar dela. Fosse certo ou não, dentro das regras ou quebrando-as. Não me importava. 

No quintal concentrei minha mente nas vidas humanas pulsantes ao meu redor e procurei mentalmente pelo rosto dele. Em apenas alguns segundos consegui achar aonde ele se encontrava. 

Veja bem, a mente de um anjo é ainda mais avançada do que de um computador mais moderno na Terra. Somos capazes de fazer coisas incríveis só com a mente. E eu iria experimentar um pouco disso essa noite. 

Abri minhas asas e levantei voo me direcionando para a casa dele. Eu não gostava nem de pensar no nome. 

Eu sei que eu já havia passado do limite, mas por ela eu iria até o final. Eu deixaria a vida de minha protegida organizada e para que eu pudesse entrar nela e poder conquistá-la.

Claro, que se o menino que ela ama, gostasse dela, eu jamais interferiria em alguma coisa. Eu sempre vou desejar que ela seja feliz, mesmo que não fosse com homens que não aprovasse, o que acordo com o correto, eu deveria opinar, por mias que fosse difícil, o que eu ainda não entendia. Eu sei que parece algo fora do comum eu estar obcecado em tão em pouco tempo, mas isso deve devem ser uma aquelas poucas coisas que se não se explica, some isso ao fato, de que sou um anjo, alheio a qualquer emoção humana desde que fui criado. 

Pousei no chão, em um gramado verde. Olhei para a casa pequena e me concentrei no coração batendo dele. Flutuei até o quarto que ele dormia, e ele estava deitado em sua cama parecendo tranquilo e sereno. Mal sabia ele que a menina que ele chamava só de amiga e fazia da vida dela um inferno tinha ido dormir chorando por causa dele. 

Como na noite passada eu foquei na mente dele e entrei em sua mente. Seus pensamentos e sua vida eram completamente sem graça e infantis. Como minha amada poderia gostar dele? 

E eu sabia que ela não só gostava dele, mas o amava com todas as suas forças. E sinceramente era um sentimento forte para alguém jovem como ela. Talvez ela apenas fosse diferente de qualquer um. Pois, ela era vidente e sensitiva, e acho que qualquer coisa relacionado com Olívia poderia ser diferente e singular, por que alias, ela era única.

Atravessando seus sonhos entrei no mais fundo da mente de sua mente. Lógico que eu criaria um pesadelo. Ele precisava se assustar e aprender que com minha protegida ninguém se brinca. 

Criei uma floresta negra a noite, com uma névoa e escuridão onde ele não poderia me ver. O vento balançava a copa das árvores de um jeito agourento e fantasmagórico.

Foi apenas de questão de alguns minutos para ele estar ali. Ele era magro, mas não forte, rosto de bebê e olhos chocolates apavorados. 

Me aproximei dele e me envolvi junto com a névoa cinza. Cheguei por trás de suas costas. 

- Você está assustado, Tyler? – falei com uma voz não minha, mas sim pavorosa e esguichada.

Ele virou ao mesmo tempo em que falei e sumi de trás de suas costas. Abri minhas asas para me dar mais flexibilidade e movimentos mais rápidos. Subi acima dele e agarrei sua camiseta pelas mãos e o joguei contra uma árvore. Ele gemeu e pude o sentir tremer. 

- Você adora brincar com os sentimentos dos outros, não é? – rosnei do alto e ele tampou o ouvido por que meu timbre de voz era ensurdecedor. 

- Não! – ele gritou. 

- Adora sim. – pousei no chão do lado, de forma que a Lua batesse atrás de mim, e ele só visse uma sombra ao invés de minha aparência.

- Por favor, não me machuque! – ele gritou de medo.

Eu sabia que quando ele acordasse esse sonho ficaria pregado em uma parte de sua mente onde ele sempre se lembraria e teria medo. E era isso que eu queria. Que ele pagasse por que a raiva dominava meu corpo e mente, eu não pensava e agia como meus instintos mandavam.

- Não vou machucá-lo, criança. Quero que me diga, por que machuca a minha protegida? – perguntei uma voz suave, que ao contrário de acalmar, apenas so o apavorava ainda mais..

- Q-quem? – ele perguntou confuso deitado do chão.

- Você sabe quem, seu maldito! – pus minhas mãos em seu pescoço e o chacoalhei. 

Por um momento seus olhos clarearam e ele se lembrou de quem eu estava falando. Afrouxei seu pescoço.

- Meus Deus. Eu nunca quis machucar Olívia ela apenas apareceu em meu caminho e aproveitei as oportunidades...  – ele deu de ombros. 

A raiva espumou de minha boca como um cão raivoso e rosnei tão alto e forte que senti Tyler quase desmaiar com minhas mãos em volta de seu pescoço. E foi então que não aguentei e não já mais tomava controle do que eu fazia, e agora não era nem mais instintos, era ira. Clara e crepitante como fogo com as mais altas labaredas.

Chutei e esmurrei esse moleque por tantas vezes que eu perdera as contas. Joguei seu corpo contra as árvores e ele gritava em dor. E em seguida recomeçou tudo, chutes, murros e quando sua pele já estava quase mostrando o osso e pouco para ficar inconsciente, cravei minha mão em seu peito e abri um buraco em sua barriga.

Senti minha mão por seus intestinos e órgãos, mas eu só tinha um objetivo. Arranquei seu coração e antes que ele morresse, sussurrei:

- Suma da vida dela ou eu mesmo venho de matar pessoalmente. – e ele então morreu no sonho. 

Triturei seu coração com meus dedos e senti meu corpo se desintegrar do sonho. Eu tive tempo suficiente de fazer tudo que eu queria. 

Fui expulso de seus pensamentos e jogado contra a parede do quarto dele. Olhei ao redor, me recuperando da raiva agora mais contida e Tyler estava suado e se remexendo em sua cama. Ele levantou assustado despertando do pesadelo. Eu sabia que ele tinha quase feito suas necessidades em seu pijama. 

Ele olhou ao redor do quarto e decidindo uma coisa para finalizar, deixei meus olhos visíveis, mas apenas meus olhos e os tornei vermelhos injetados de sangue. Sombrios no escuro do quarto dele e então falei na mesma voz cortante do sonho.

- Se não me obedecer eu virei te pegar... 

Ele gritou e escondeu-se nos lençóis. Vi as luzes dos outros cômodos sendo ligadas, e seus pais logo viriam para ver o que estava acontecendo. 

Desapareci invisível na escuridão e espiritualmente ainda com asas abertas sai do quarto dele, para a noite estrelada, sorrindo e me sentindo diferente, totalmente poderoso.

                                     ***

 

Cheguei ao quarto de Olívia e minha pequena estava dormindo tranquilamente. Me deitei em sua cama por cima do edredom rosa e meu rosto ficou de frente para o dela. 

Timidamente passei a mão por sua bochecha e ela reagiu, pois minha invisibilidade estava baixa então ela podia sentir meu toque, ela passou os braços ao redor de meu peito como se me sentisse. Sorri, ela se alterava até dormindo com minha presença.

Nunca mais alguém a faria essa pobre menina sofrer. Ela já tinha passado por cada coisa, como rejeição pelos pais, desavenças com aqueles de diziam seus amigos e discriminação. Pelo menos, ela tinha uma vida confortável. Não era rica nem pobre, mas nunca havia passado fome. 

Abracei-a e foi quando ela gemeu e achei que era por causa de meu abraço, porém percebi que sua agitação era algo diferente. 

Me concentrei em sua mente, não para entrar em seus sonhos, mas para ver o que ela estava pensando ou sonhando. E ela não estava fazendo nada disso, e sim tenho uma visão. Forte e clara. 

Em sua visão ela apenas era uma espectadora vendo a cena diante de si, estavam dois homens presos em troncos, como se fazia antigamente com escravos, mas eles estavam em um amplo calabouço de pedras cinza escuras e nojentas, com musgo. 

Esses dois homens estavam amarrados e de costas para ela. Minha pequena não os reconheceu. Apareceu de repente um carrasco, de manto preto com uma chibata em sua mão trançada e grossa. E o castigo começou. Os dois homens presos tomaram chibatadas e eles gemiam e tremiam de dor. 

Foi prestando mais atenção aos dois homens que percebi que ambos eram de pele pálida. Um com cabelos negros lisos e um loiro de cabelos cacheados. 

Reconheci então Castiel e eu.    

 


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