Capítulo Onze

Ainda arrasado sai do Salão de Justiça e caminhei por todo o campo branco. Eu estava desolado. Como eu poderia ver apenas duas vezes minha amada por semana? 

E pior eu ainda seria obrigado a ficar aqui como um prisioneiro sem direito o direito de sair para nada. Como alguém poderia ser Deus desse jeito? Como alguém poderia julgar assim?

Eu sabia que eu estava blasfemando. Mas, eu não me importava. Eu tinha ódio de todo esse maldito paraíso e esses anjos escravos. Eu estava odiando tudo, por que eu não poderia ficar com quem mais queria.

Andei e andei e achei uma árvore de copa alta e fresca. Me sentei aos seus pés e encostei minhas costas em seu tronco. O choro subiu por meu peito de modo desesperado e silencioso. Eu estava sozinho e não liguei se alguém me escutasse. 

Eu nunca tinha demonstrado nenhum tipo de sentimento desde de meu nascimento, e após dois mil anos e ter conhecido Olívia, todo tipo de sentimento passava por mim e isso me deixava cada vez mais confuso. Eu não sabia lidar com isso, por que eu não fora feito para isso. 

Porém, eu já tinha sentido raiva, inveja, medo, tristeza e agora dor. Eu queria poder estar agora ao lado dela, passando a mão por seu cabelo e sussurrando coisas para ela dormir. 

Como em apenas dois dias eu poderia desenvolver algo tão forte?

Eu não sabia e não entendia. Mas eu praticamente estava sozinho nessa. Castiel era meu irmão, só que ele também nunca tinha sentido isso. 

Durante o resto do dia passei sentado ali me remoendo e triste. Quando escureceu, levantei-me e rapidamente fui até o portal, como mandado Gabriel estava ali. Parecendo um soldado.

- Você tem quinze minutos para ir e para voltar, tirando sua uma hora com ela. Tirando isso é considerado crime. – ele disse. 

Dei as costas para ele e disparei pelo portal. Abri minhas asas e voei, fazendo piruetas e caindo em espirais. A sensação que me tomou foi de liberdade. Como eu queria poder ficar assim o tempo todo. 

Aproveitando bem o voo, pousei no quintal de Olívia. As luzes estavam acesas e todos ainda estavam acordados. Deixei minha película de invisibilidade razoável e entrei em seu quarto. Mais uma vez ela estava lendo aquele livro de capa roxa. Quando cheguei ela sentiu minha presença, fechou o livro e se endireitou na cama. 

- Finalmente, Melahel. Eu chamei por você, mas você não veio. O que está acontecendo? – ela perguntou de braços cruzados. 

Contudo tive que sorrir. Parece que de uma hora para outra, ela havia se tornado meu lar. Onde eu sempre iria querer retornar. 

- Tive um problema. É sobre isso que quero falar. – me sentei próximo a ela. 

Respirei fundo, mas antes algo que o Senhor disse me passou pela cabeça, poderá usar sua aparência de anjo e não somente a voz...

Eu poderia me transformar em um corpo normal, como meus irmãos veem. E isso me alegrou apesar de tudo. Eu poderia me mostrar a ela durante esse tempo de nossas aulas.

- Mas, antes disso tenho uma boa e uma má noticia. Qual prefere? – falei.

- A boa. – ela respondeu sem hesitar. 

- Então, eu posso aparecer pessoalmente para você. Você gostaria de me ter pessoalmente? – falei sorrindo.

Ela arregalou os olhos e achei que ia soltar um grito de felicidade, porém as palavras não saíram de sua boca. Ela ficou mais pálida do que normalmente, porém seus olhos ficaram iluminados de tanta felicidade. E por fim ela conseguiu falar.

- S-sim. – ela disse.

- Bem, então vamos lá. Feche os olhos. – falei me divertindo. 

Ela fechou ainda sentada, mas vi seu corpo oscilar tremendo. 

Tirei minha invisibilidade por completo. Senti meu corpo se tornar solido e o ar rodopiar ao redor de mim. Olhei no espelho e eu realmente estava ali. De roupas brancas, calça jeans tênis e camiseta em V. Meus cabelos bagunçados para cima negros, minha pele pálida e meus olhos azuis mar estavam brilhando.

Caminhei até ela e toquei em suas mãos que estavam geladas. 

- Olhe para mim. – sussurrei. 

Ela lentamente abriu os olhos e então os arregalou. Lágrimas se acumularam nos cantos e então ela chorou emocionada. Os soluços subiram por sua garganta. Não sabia por que ela estava chorando, mas puxei-a para meus braços e meu colo. 

- Por que está chorando, amada? – murmurei enquanto acariciava seu cabelo.

A sensação de tê-la em meus braços era totalmente única e singular. Era algo que eu nunca poderia colocar em palavras por ser tão especial e completo. Parecia que nossos corpos se moldavam quando eu a abraçava.

- P-porque você é real. – ela disse trêmula. – Eu agora sei que é de verdade. Que você não é uma invenção minha para que eu não me sentisse tão sozinha. E eu não mereço um anjo em minha vida, por que sou inútil. Não tenho valor. 

Ouvir aquelas palavras dela me machucaram. Meus Deus como ela poderia se enxergar daquele jeito? Como? Ela era linda, meiga e especial. 

- Você nunca mais repita algo assim, minha protegida. Nunca. – puxei seu rosto molhado para me olhar e seus olhos dourados encontram com os meus.

Não sei dizer, mas algo naquele momento se encaixou e não pude me controlar. Me aproximei de seus lábios e selei um pequeno beijo neles. Era algo doce e divino beijar aqueles lábios. 

E realmente algo se completou mesmo eu não sabendo o por que. Mas, me dei conta de que agora não seria o melhor momento para ficar de romance. Estávamos sendo obrigados a ser separados e beijá-la só faria esse sofrimento aumentar.

Me afastei dela fazendo com que ela voltasse a sentar na cama e me levantei. Não! Eu não deveria ter feito isso. Ela estava confusa e amava outro, havia acabado de me conhecer e agora eu fazia isso. 

- Me desculpe. É que você estava tão frágil que... Desculpe. – murmurei.

Ela pareceu meia zonza e fora do ar, no entanto ela me respondeu.

- T-tudo bem... – ela disse.

- Não, não ta tudo bem! – gritei. – Eu sou um anjo e não devemos ficar próximos. E é sobre isso que vim falar. – não sabia o que estava fazendo, mas sabia que isso era necessário. – Vim para falar que vou ficar um pouco distante por algumas coisas que preciso resolver. Venho duas vezes por semana dar aula a você. Toda terça e sexta, das oito as nove. Do contrario vou ficar no céu. E se precisar de mim é só rezar. Mas isso é em casos de extrema urgência. 

Ela parecia ter acabado de receber um tapa na cara. Eu entendia. Eu havia acabado de beijá-la e depois praticamente a rejeitado. 

Eu me contorci por dentro com dor. Isso tudo estava me matando, mas o culpado era apenas eu. Ela não merecia criar esperanças comigo, mesmo que eu... O que?  Gostava dela?  Queria ela?  Nem eu sabia. Isso tudo ainda era recente demais. 

- Ok. – ela disse baixinho. 

- Preciso ir. Boa noite e venho terça, não se esqueça. – falei. 

Vi que algumas lágrimas se acumularam nos cantos de seus olhos, e meu coração apertou. Caminhei até a cama e beijei sua testa. 

- Me desculpe, amada. 

Então sem esperar mais nada, voltei a minha forma invisível e sai de seu quarto.

Escutei ela chorando e lágrimas também rolaram por meu rosto. Aquilo era para o bem dela. Porém a sensação de seus lábios nos meus não sairiam tão fácil na minha mente. 

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