Capítulo 2
Alice disse que seu apartamento estava em reforma, por isso, ficaria hospedada no quarto de hóspedes da família Silva por um tempo.

Francisco também concordou, e sua justificativa foi:

— A família de Alice é nossa parceira de negócios há muitos anos, não podemos tratá-la com descaso.

Escute só, que justificativa tão nobre.

Ele nem sequer pediu minha opinião. Era como se eu fosse uma pessoa invisível naquela casa.

E assim, Alice se instalou descaradamente na casa da família Silva, andando pela mansão como se fosse a verdadeira dona do lugar.

Ela frequentemente andava pela sala de estar vestindo pijamas sensuais e até mesmo interrompia nossas conversas, intrometendo-se de repente enquanto eu e Francisco falávamos.

Francisco não parecia se incomodar com isso, pelo contrário, parecia apreciar a proximidade dela.

Ao passar pela porta do escritório, ouvi a risada de Alice vindo da fresta.

Ela estava sentada ao lado de Francisco, e os dois olhavam para um documento, muito próximos um do outro.

Os lábios vermelhos de Alice quase tocavam o lóbulo da orelha de Francisco, enquanto ela dizia com um sorriso charmoso:

— Francisco, você ainda se lembra? Você costumava me ajudar com a lição de casa de matemática.

Francisco também sorriu:

— Como poderia esquecer? — Ele falava num gentil que eu nunca tinha escutado antes. — Naquela época, você era péssima em matemática, então eu tive que ajudar.

Meu coração afundou de repente, e subitamente não quis mais entrar.

Virei-me para sair, mas já era tarde demais. Francisco me viu.

— Laura, você chegou em boa hora. Alice sugeriu instalar um balanço no jardim. — Ele acenou para mim. — Vamos discutir o estilo do balanço. Qual você prefere?

A contragosto, tive que entrar e participar da conversa: — Ah, tanto faz. Ainda não terminei minha tese de graduação, podem discutir entre vocês.

Cocei a cabeça. Eu estava prestes a sair daquele lugar, o estilo do balanço não importava, porque não era para mim.

— Tese de graduação? — Alice fez uma careta ao perguntar. — O que é isso? Ah, lembrei, também escrevi uma quando me formei, mas na época foi o Francisco que me ajudou. Você pode pedir ajuda ao Francisco, ele é muito bom nisso!

Francisco olhou para mim, parecendo esperar que eu pedisse ajuda.

Mas eu não precisava. Eu podia fazer sem a ajuda dele.

— Não se preocupe, eu consigo fazer sozinha.

Abaixei a cabeça e saí apressadamente.

Meu coração parecia pesado como uma pedra, oprimindo-me a ponto de não conseguir respirar.

Naquela noite, Francisco voltou para o quarto muito tarde.

Ele trazia consigo um leve perfume, o mesmo que Alice costumava usar.

Eu estava deitada na cama, de olhos fechados, fingindo que estava dormindo.

Francisco deitou-se ao meu lado, sua mão pousou suavemente em minha cintura e seus lábios roçaram meu pescoço.

Meu corpo enrijeceu, e uma emoção estranha surgiu dentro de mim.

Eu queria empurrá-lo, mas meu corpo, fora de controle, correspondeu.

Nos últimos três anos, eu me acostumei com seu toque, com seu cheiro.

Mas naquela noite, eu senti uma forte náusea de repente e quase vomitei.

— O que foi? — Francisco percebeu minha estranheza e perguntou, preocupado.

— Nada, talvez tenha comido algo que não me fez bem. — Respondi em voz baixa, virando de costas para ele.

Francisco não disse mais nada, apenas deu um tapinha gentil nas minhas costas.

Eu ouvia sua respiração tão próxima, mas a minha mente estava um caos.

Naquele momento, um barulho veio do andar de baixo, seguido pelo grito assustado de Alice:

— Francisco, a luz apagou de repente, parece que alguém invadiu o quarto!

Francisco não hesitou, saltou da cama, vestiu-se apressadamente e correu para o andar de baixo.

Meia hora depois, Francisco voltou. Nenhum acidente havia ocorrido.

Era apenas um curto-circuito na lâmpada, e, por coincidência, um gato selvagem havia entrado no quarto.

Mas Francisco estava tão apressado, como se Alice fosse a pessoa mais importante para ele.

Na manhã seguinte, levantei-me cedo para ir ao laboratório.

Francisco ainda dormia, e Alice não havia aparecido. Respirei aliviada.

Mas, ao chegar à sala de estar, percebi que não havia pegado minha bolsa. O acordo de divórcio assinado e o formulário de transferência de trabalho para a Noruega ainda estavam dentro dela.

Quando ia voltar para buscá-la, ouvi a voz de Francisco atrás de mim:

— Laura, você esqueceu alguma coisa?

Virei-me e o vi segurando o documento. Meu rosto empalideceu.

— Isso é meu... — Comecei a gaguejar enquanto tentava explicar.

— Este é um formulário de inscrição para pesquisa na Noruega? — Francisco olhou para o documento, e sua expressão mudou de repente. — Você vai para a Noruega? Quando? Eu não permito!

— Ah, isso... peguei este formulário para uma amiga. — Menti, sem alternativa.

— Noruega, hein? Você não gosta do clima de lá. — Indiferente, Francisco comentou. Era como se ele não se importasse. Mas suas palavras foram como uma faca, cravando-se dolorosamente em meu coração.

Nós havíamos passado nossa lua de mel na Noruega, e na época eu lhe disse que adorava o ambiente de lá.

Mas agora, ele já não se lembrava, ou talvez nunca tivesse se importado.

— A propósito, se você quiser continuar com suas pesquisas, o Centro Médico Silva vai abrir uma vaga para pesquisador-chefe. Quero que você assuma o cargo. Pode começar assim que receber seu diploma. — Francisco disse de repente. —Fiquei atônita por um momento, depois balancei a cabeça.

— Não é necessário, eu tenho meus próprios planos.

Minha habilidade em pesquisa era forte, todos os meus professores reconheciam isso. Eu não precisava viver sob sua sombra, aceitando a caridade que ele me oferecia.
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