Capítulo 173Nathaniel BeaufortInglaterra | 03 de AgostoA carta chegou pela manhã, um envelope elegante com os detalhes precisos do que só poderia ser um evento planejado com semanas de antecedência. Reconheci o brasão dos Marini na ponta do papel antes mesmo de abrir. Quando comecei a ler as palavras formais que confirmavam o casamento de Vincenzo, o impulso imediato foi procurar Marcelus. Imaginei como seria para ele — e, claro, para Clare — enfrentar tudo isso, especialmente depois do que aconteceu com Mia. Isso não era apenas mais um casamento; era um evento que carregava a sombra de uma perda muito recente.Com o convite ainda nas mãos, fui até Ágape, que o leu com a mesma expressão de incredulidade que eu devia estar usando. Logo ficou claro: não deixaríamos Clare enfrentar tudo isso sozinha na Itália. Ágape, especialmente, não aceitaria outra opção. Clare era como uma irmã para ela, e sabia que Marcelus precisava de alguém ao lado dele, alguém que não estivesse envolvido nas
Capítulo 174Clare VallenceItália | 07 de AgostoO ar da Itália parecia mais denso, quase sufocante, como se tudo ao redor me lembrasse dos dias difíceis que enfrentamos. Depois da longa viagem, cada um de nós foi recebido pelos olhares desconfiados dos funcionários da mansão dos Marini, e pelo silêncio pesado que se instalava em cada corredor. A chegada não foi marcada por palavras calorosas ou gestos de acolhimento — na verdade, parecia que todos ali evitavam nos encarar diretamente, como se a nossa presença fosse um lembrete de algo que ninguém queria enfrentar.A casa era imensa, com seus corredores longos, e cada canto parecia carregar a história antiga da família Marini, mas agora o ambiente estava sombrio, cheio de um luto que ninguém parecia querer discutir. Quando Marcelus e eu chegamos, percebi que ele também se sentia desconfortável. O olhar dele estava fixo na frente, e ele parecia quase absorto em pensamentos, mas, ao mesmo tempo, atento a tudo ao redor.Ao lado, Ágape e
Capítulo 175Ágape BeaufortItália | 08 de AgostoA manhã estava nublada, um espelho perfeito do humor de Clare desde que chegamos à Itália. Os dias na mansão Marini foram sufocantes, carregados de um silêncio que parecia mais denso do que o ar. Clare não admitia, mas era evidente que o peso de todo o luto ainda a consumia. Desde que Mia se foi, Clare carregava uma tristeza silenciosa que a afastava até de Marcelus em dados momentos.Hoje, quando ela decidiu visitar o túmulo de Mia, fiz questão de acompanhá-la mesmo que de longe. Sabia que ela precisava desse momento, mas também sabia que minha presença poderia oferecer algum apoio, ainda que discreto.Seguimos em silêncio pelo caminho até o cemitério. Clare estava cabisbaixa, os passos lentos e hesitantes, como se cada movimento fosse mais difícil que o último. A lembrança de Mia estava tão viva para Clare que eu quase podia sentir a dor dela como se fosse minha. Quando chegamos ao túmulo, dei espaço para que ela tivesse seu tempo. M
Capítulo 176Marcelus MoreauItália | 15 de AgostoA casa estava um pouco mais movimentada hoje, já que o casamento de Vincenzo se aproximava. Era como se todos os funcionários e parentes já esperassem o peso daquele momento, executando suas tarefas em silêncio, como se tentassem evitar qualquer reflexão sobre a ocasião. Enquanto eu caminhava pelos corredores, passava por algumas dessas pessoas, que desviavam o olhar ou me lançavam acenos formais, mas pouco amigáveis.Era um cenário desconfortável, e... irritante de certo modo.Eu precisava falar com Vincenzo. Sabia que ele estava se preparando para esse casamento, e por mais que eu soubesse que isso tinha sido algo que ele havia aceitado de bom grado, eu ainda não conseguia acreditar que ele realmente estava fazendo isso — não quando eu sabia o tanto que ele realmente... amava Mia.Finalmente, o encontrei na biblioteca, sozinho, olhando fixamente para uma das estantes, sem realmente focar nos livros. Ele ouviu meus passos e se virou
Capítulo 177Clare VallenceItália | 22 de AgostoO salão estava cheio de convidados, todos em silêncio, com a atenção voltada para a entrada principal. Ao lado de Marcelus, cada segundo que eu passava ali parecia tornar o ar mais denso, quase insuportável. Eu sabia que ele também se sentia assim; pude ver pela expressão tensa no rosto dele, no olhar impassível, como se ele estivesse se obrigando a não pensar. Mas ali estávamos, lado a lado, no casamento de Vincenzo, e cada detalhe daquela cerimônia parecia um insulto à memória de Mia.Não queria estar ali, e sabia que Marcelus também não. Mas, por Vincenzo, precisávamos. Era uma forma de mostrar que ainda estávamos ao lado dele, que mesmo quando ele escolhia se prender a essa obrigação, nós permaneceríamos ali, como uma forma silenciosa de apoio. Na verdade, eu temia pelo próprio Vincenzo, pela forma como ele parecia aceitar esse destino, como se seu futuro não fosse nada além de um peso que ele precisava carregar.Quando a música co
Capítulo 178Marcelus MoreauItália | 22 de AgostoAssim que os convidados começaram a se dispersar e os murmúrios ecoaram pelo salão, Clare e eu saímos dali o mais rápido possível, quase em silêncio, sem precisar combinar nada. Havia uma urgência quase visceral de escapar, de deixar para trás aquele ambiente sufocante.A mão dela estava fria, tensa, e eu sabia que as palavras da cerimônia e o som dos aplausos haviam cravado nela uma ferida que nem eu conseguia alcançar.Enquanto caminhávamos até o jardim, as luzes das lanternas espalhadas pelo lugar davam ao cenário um ar irônico de serenidade. Afinal, a calmaria parecia um insulto ao que estávamos sentindo. Olhei para Clare, que permanecia de cabeça baixa, os cabelos soltos cobrindo parcialmente seu rosto, mas eu conhecia bem aquele jeito de se esconder. Era sua maneira de suportar a dor.Assim que nos afastamos o suficiente, a puxei delicadamente pelo braço, e ela parou, respirando fundo. Seu peito subia e descia rápido, e quando e
Capítulo 179Clare VallenceItália | 22 de AgostoQuando chegamos ao carro, fui praticamente arremessada para dentro, com a porta batendo atrás de mim em um som abafado. O mundo do lado de fora, com todas as suas complicações e pessoas, se dissolveu. Era como se nada mais existisse além de Marcelus e eu, cercados pelo espaço pequeno e apertado do banco traseiro.Assim que ele se jogou sobre mim, senti a urgência em seus movimentos. Não havia hesitação, não havia medo, e por um segundo, senti meu coração acelerar só de vê-lo assim, tão determinado. Marcelus me puxava para si, cada toque mais intenso e faminto, como se ele quisesse me fazer esquecer de tudo — e, naquele momento, eu queria ser tomada por ele, queria que ele me consumisse de uma maneira que varresse toda a zona da minha mente.— Clare… — murmurou ele, com uma voz rouca e baixa que me fez arrepiar.Seus lábios encontraram os meus com uma força avassaladora, um beijo quente, sem pausa. Ele não me dava tempo para pensar, nem
Capítulo 180Clare VallenceItália | 22 de AgostoAssim que voltamos para o quarto — já que não íamos aparecer naquela festa de qualquer jeito —, antes que eu pudesse sequer fechar a porta atrás de mim, Marcelus já me puxou para perto. A intensidade no olhar dele me deixava completamente entregue, cada fibra do meu corpo atenta a ele. Em um só movimento, ele me pegou pela cintura e me pressionou contra a parede, nossos corpos se encontrando em um choque de desejo e urgência. O mundo fora daquele quarto não existia; éramos apenas nós, perdidos um no outro.Os lábios dele encontraram os meus com uma intensidade quase bruta, famintos. O beijo profundo, carregado de desejo, era tão avassalador que me deixava sem ar.Marcelus explorava minha boca com voracidade, e eu respondia com igual intensidade, sentindo a conexão se fortalecer a cada segundo. Ele se afastou por um instante, apenas o suficiente para soltar um suspiro e me encarar, como se quisesse gravar cada detalhe daquele momento.M