Capítulo dois:

KIMBERLY

Agência Fashionable

Saí da casa de Taylor e fui direto para a agência, que não era muito longe dali. Cheguei, infelizmente, mais uma vez atrasada.

Espero não ser despedida, repeti incontáveis vezes mentalmente enquanto caminhava, passando rapidamente pela recepção.

Entrei a passos lentos no corredor, atenta a todos que estavam ali, e mesmo um tanto aflita de levar uma bronca pelo atraso, não demonstrei receio ou fraqueza. Uma das funcionárias não tentava sequer disfarçar o olhar torto, assim como as demais modelos, que batiam boca e cochichavam para ver quem seria escolhida a melhor modelo do ano pelo misterioso dono da agência, que não dava as caras. Claro que eu estava nesse meio!

Entrei na sala do meu subchefe e também melhor amigo, Paulo, que conversava com alguém. Observando melhor, vi que era minha mãe, e ambos sorriam alegremente. Ao me verem entrar, se calaram. Cumprimentei os dois, sentando no sofá de couro marrom. Paulo sorriu graciosamente, respondendo:

Good morning, my princess.

O ar do tom escandaloso, carregado de falsidade, fez com que eu apenas murmurasse um “sorry”, enquanto Ana se despedia do fotógrafo e também agenciador e saía me olhando. Eu a segui pelo corredor, desconfiada de sua presença inesperada em meu local de trabalho.

— Não entendi por que está aqui, mãe. O que fazia conversando com o Paulo? — perguntei, buscando outra resposta na expressão dela, que forçou um sorriso.

— Acabei de vir do shopping, então decidi que seria bom ter sua companhia no almoço. E como não dormiu em casa, resolvi te esperar aqui na agência. Paulo foi muito atencioso, um amor, me distraiu até você chegar.

— Poderia ter me ligado.

— Eu fiz isso, mas seu celular só dava fora de área — falou, convincente. — Bom, agora, minha flor, eu tenho que ir. Almoçamos mais tarde, então? — Apenas assenti, e ela se afastou. — Ótimo. Nos vemos mais tarde.

Voltando para o escritório, pedi licença a Paulo, concentrado em algumas imagens em seu notebook para escolha de um trabalho exclusivo com fotos de algumas das principais modelos da agência.

— Está atrasada de novo, senhorita Kimberly. O que tem aprontado essa semana? — questionou, se levantando e saindo da sala, comigo ao lado.

— Desculpa, Paulo. — Meu riso era contido em meio a tantos olhares perversos, e aquilo foi tudo que consegui dizer.

— Você pode, rainha — afirmou, sorrindo, e eu retribuí, vendo Paulo arregalar os olhos de repente e quase gritar: — Não, não, não! Eu pedi o segundo estoque de lingeries, gracinhas. Andem, troquem já! — ordenou para as assistentes de figurinos, que saíram puxando apressadamente os trilhos com belíssimos conjuntos. Eram de marcas estrondosas que me deixavam boquiaberta. 

Ele então voltou sua atenção para mim, a joia rara da agência, já seminua à espera do novo look, continuou a falar: 

— Só não se acostume. — E me olhou com repreensão. Fiz um biquinho, recebendo um selinho seguido de cochicho bem próximo ao rosto: — Amo esses seus olhos poderosos e apreensivos. — E voltou à posição ereta, se afastando enquanto abria seu leque, próximo às câmeras. — Agora junte-se às outras, que vamos finalmente começar. 

Corri para perto das demais, e o ensaio começou com poses simples e outras delicadas em grupo, mas logo se transformou, exalando sensualidade. Depois vieram as fotos individuais, em frente à tela branca, e aproveitei para arrasar, sendo o mais provocativa naquela “exibição de bonecas”. De cinco em cinco minutos, corríamos para o vestiário e trocávamos de roupa. Conforme as roupas iam mudando, as poses também mudavam. Não demorou muito para terminarmos e tirarmos uma pausa.

— Nossa, você, como sempre, marcando presença em frente à tela — elogiou uma das modelos conceituadas da agência ao passar por mim.

— Obrigada. — Sorri, contente e orgulhosa.

— Claro. Até eu marcaria, se tivesse toda essa atenção exclusiva do Paulo — falou Serlane, revirando os olhos.

A insuportável, pensei.

— Limpa o veneno. — Levei o dedo indicador ao canto da boca. — Porque, se deixar, ele pode manchar seu batom — avisei, sorrindo, levantei da cadeira e fiz menção de sair do provisório camarim antes de escutar uma das modelos rir, irritando Serlane, que esbravejou:

— Está rindo do que, sua baleia? — Indo até o outro lado da sala, ela murmurou, semicerrando os olhos: — Só quero ver até quando vai durar o brilho dessa estrela. — Revirou os olhos, me encarando em seguida. Com um sorriso no rosto, fui embora, indo em direção ao toalete.

No mesmo instante em que fechei a porta, recebi uma ligação de Taylor. Abrindo um largo sorriso, deslizei a tela para atender.

— Oi, amor.

— Como chegou? 

— Ótima, e você?

— Com saudades, mas vou ficar bem — falou com voz manhosa.

— Hum. O jantar está de pé essa noite? A não ser que tenha uma de suas reuniões, mas acredito que o anúncio do nosso noivado é bem mais importante. — Olhei para o lado, encostada no balcão das pias, respirando fundo.

— Terei uma daqui a dez minutos, pra ser exato. Mas farei o possível para que o trabalho não nos atrapalhe.

— Já era hora. — Repuxei o canto da boca e a sobrancelha ao me olhar no espelho.

— Não fique brava. Ainda mais porque eu não estou aí pra te acalmar… — Sorri, mordendo o lábio inferior, tendo em mente as cenas picantes da noite anterior. — Já avisei a minha mãe, ela está nos esperando para jantar.

Meus lábios se comprimiram, e rolei os olhos. Taylor era o típico filhinho de mamãe, e se queria agradá-lo, era só agradar a sogra.

— Certo. — Desliguei.

Analisei meu corpo em frente ao enorme espelho, escolhendo qual parte dele estava mais valorizada naquele roupão de cetim branco, então parei, escorando em uma das paredes e desfazendo o laço lentamente, mostrando a lingerie rendada de cor preta sexy. Não satisfeita, abaixei uma das alças do sutiã, mostrando mais do que deveria, e fiz uma pose sensual, valorizando cada centímetro de minhas curvas, tirando uma selfie com o celular. Enviei para Taylor, me cobrindo novamente e saindo do banheiro contente, voltando para o trabalho.

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