Eventyr - Livro I
Eventyr - Livro I
Por: Felipe Reino
01. Entre Dois Mundos

– Pobre garota magrela! – uma mulher gorda dizia.

– Para você ver, mesmo tendo aqueles cabelos pretos longos e belíssimos ela realmente não tem sorte nenhuma na vida! – desta vez era uma senhora com um gato – um de muitos, acredito.

– Quer uma ajuda? – um homem com cara de executivo se ofereceu para me ajudar.

– O-o-obrigada! – respondi em meu estado normal: constrangida.

O homem com cara de executivo me estendeu a mão e ajudou a pegar as compras, mesmo muitas delas já estando perdidas. Por que isso sempre acontece comigo?

Cheguei em casa com um pouco mais da metade do que havia comprado ainda servindo para ser consumido – uma sorte até, vendo que já houve dias em que foi perda total.

– Carros e poças d'água novamente? – minha mãe agora achava graça.

– Sim! – disse aborrecida.

– Cuidado para não tropeçar na escada! – minha mãe avisava quando já era tarde demais.

– Odeio dias de chuva! – gritei irritada quando cheguei ao segundo andar.

A chuva na realidade já havia parado há algumas horas, mas as poças d'água continuavam nas estradas fazendo bem o papel delas: molhar os azarados.

Minha vida sempre foi assim, uma coletânea repleta das melhores cenas de má sorte que alguém pode ter. Desde pequenos tropeços, até micos astronômicos do tipo que te deixa sem sair de casa por pelo menos um mês. Você já ouviu aquela frase, "parece que isso só acontece comigo.

Fui até o banheiro me lavar e depois troquei de roupa. Levei minha roupa suja de lama para lavanderia e depois voltei para meu quarto, o único lugar realmente seguro para mim.

Minha mãe sempre me conta que essa minha má sorte vem desde pequena. Tinham que tirar de perto de mim tudo o que era quente, pontudo, molhado ou que pudesse trazer algum dano para mim ou para eles. O pior é que isso dura até hoje.

Liguei meu computador e coloquei algumas músicas bem chicletes e animadas para ver se levantava o meu astral. Funcionou.

Enquanto tentava – de forma infeliz – imitar as coreografias, fiquei observando, pela janela do meu quarto, o que acontecia do lado de fora. As pessoas pareciam tão sortudas, tão felizes, como se tudo sempre ocorresse da forma como elas queriam. Eu sei que eles deviam ter problemas, mas sem dúvida não eram como os meus. A vida sempre pareceu mais fácil do outro lado da janela.

Depois que a minha seleção de músicas acabou, eu resolvi descer e conferir o almoço – de longe, claro.

– Ainda não! – minha mãe gritou antes mesmo de eu chegar na cozinha.

– Eu imaginei, queria só conferir mesmo. – sorri e segui para sala. – você está assistindo alguma coisa?

– Não! – minha mãe respondeu da cozinha.

– Então vou ficar assistindo televisão!

Desde que minha mãe cancelou a nossa TV por assinatura que fiquei meio perdida com a televisão. A programação da TV aberta parecia um tanto repetitiva e sem diversidade. Era como se eu já tivesse assistido a tudo aquilo antes – o que, algumas vezes, era realmente verdade.

O fato é que desde que meu pai morreu que as coisas mudaram aqui em casa. Sendo eu filha única, acabei recebendo uma atenção maior e exagerada depois da morte do meu pai. Foi uma época difícil, não só para minha mãe como para mim também.

Depois do almoço, voltei para meu quarto. Odiava dias de domingo, mas tinha que passar por eles – infelizmente. Eu quase nunca tinha algo para fazer, mas nos dias de domingo eu não tinha absolutamente nada mesmo.

Estávamos no meio de novembro, o ano já começava a chegar ao fim e as provas estavam deixando todos loucos, inclusive eu. Estava combinado que iria estudar todos os dias depois do almoço. Mas neste domingo eu já tinha decidido que tiraria uma folga.

Fiquei perambulando pela casa durante algumas horas, até que acabei me cansando e voltando para meu quarto. Realmente achava os dias de domingo um tédio total.

– Meu Quarto, meu reino! – era o que eu sempre dizia sobre ele.

Quando eu era criança brincava de que a porta do meu quarto era um portal mágico para outro reino, onde eu era a princesa e iria casar com o meu belo príncipe encantado. O meu príncipe me buscava, montado em um cavalo branco e nos andávamos pela floresta. Depois que descobri que príncipes encantados não existem, esse sonho se tornou apenas uma doce lembrança. Fora que, com o passar do tempo, essa história de princesa que espera pelo príncipe ficou muito chata.

Acordei cedo na segunda – havia dormido cedo – e não demorei muito para me arrumar. Minha escola era muito rígida, daquelas que exige uniforme completo, sem muita produção, eu não tinha muita coisa para fazer. Passei um batom bem claro e coloquei um cordão com pingente de chave – isso ainda era permitido.

– Beatriz, anda logo! – ouvi Camila me chamando do lado de fora da casa.

– Já vou! – gritei da janela.

Camila é minha única amiga de verdade. A única que consegue aturar meus devaneios e esquisitice, além de ser a única que não liga para minha má sorte. Algumas pessoas acreditam que apenas o fato de estar perto de mim já atrai a má sorte. E não posso recrimina-los. É exatamente assim.

– Já vou indo mãe! – dei um beijo na minha mãe e voei para porta, depois de tropeçar em meus próprios pés e quase cair de cara no chão. Não estava atrasada, mas tinha que gastar algumas energias acumuladas no dia anterior.

– Você não vai nem tomar café? – minha mãe perguntou quando eu já estava fechando a porta.

– Eu como alguma coisa na padaria! – respondi rapidamente e fechei a porta.

Camila esse ano resolveu que só tomaria café na padaria, ela já não estava mais aguentando seus pais, sempre discutindo. Eles se amam, mas se odeiam ao mesmo tempo. Famílias estranhas existem aos montes por aí.

– É então, como foi seu domingo? – ela sorriu enquanto pedia um belo sonho com suco de laranja.

– Pior que o seu, sem dúvida! – tentei encarar a situação com humor.

– Você podia ter me dito que não iria fazer nada, eu teria te chamado para ir ao boliche. – ela mastigava e falava ao mesmo tempo. Coisa que odiava, mas já havia acostumado.

– E posso saber com quem a senhorita foi ao boliche ontem? – já imaginava a resposta. O meu bolo com suco de morango e hortelã havia chegado.

– Com o Toni, claro! – ela sorriu.

– Não acredito! – botei as mãos na bochecha e abriu um sorriso largo.

– Para de besteira, é claro que você acredita! – ela me deu um tapa.

– Realmente, eu acredito!

Nós caímos na gargalhada e eu quase derrubei o suco em mim. Era cômico ver quando tinha pequenos momentos de sorte, numa lista incontável de momentos de azar.

– Conte-me tudo e não esconda nada! – acabei esquecendo o bolo e o suco – Foi desta vez que...?

– Não. Ainda não. Ele é muito tímido, agora que ele está começando a se soltar, mas eu tenho certeza que ele vai me pedir em namoro! – ela sorria como se não tivesse problemas no mundo.

– Que fofo! – fiz uma voz bem melosa e apertei as bochechas dela.

– Pare com isso menina! – ela deu dois tapinhas na minha mão e depois sorriu.

– Será que agora não seria o caso de você ir falar com ele? – reforcei uma ideia que já estava sugerindo há muito tempo.

– Não! – ela ficou séria – Você sabe que eu não aprovo esse tipo de coisa! Se o garoto quiser ficar comigo, terá que ele mesmo vir atrás de mim. Eu não vou ficar correndo atrás de garotos!

Quando o assunto era paqueras, a Camila era bem taxativa. Ela preferia ficar sem o garoto da sua vida a ter que ir atrás dele. Ela dizia que isso era se rebaixar ao nível deles, trocar a honra por prazer e muitas outras coisas sem sentido.

– Eu ainda acho bobeira sua, mas se você prefere assim... Eu não vou dizer mais nada!

– Então não diga! – ela não havia ficado chateada, apenas nervosa – Minha nossa! – me assustei com o grito de Camila – Vamos ou chegaremos atrasada!

Corremos para o caixa e saímos em disparada, acabei nem comendo todo o bolo e levei o copo de suco comigo, inutilmente – acabei derrubando tudo no chão.

Depois que cruzamos a rua, Camila diminuiu o paço e ficou vermelha. Já sabia que ela tinha feito besteira.

– Bia, você promete que não briga comigo? – ela fez uma cara de anjo.

– O que foi agora? – olhei desconfiada.

– É que eu peguei o relógio quebrado. – ela tapou o rosto.

– Como assim? – fiquei irritada.

– Notei pela fivela! – ela sorriu timidamente e tentou fazer uma cara de inocente – Esse relógio está parado em 6:50.

Olhei no meu relógio, eram 6:38. Respirei fundo e diminui meu passo. Fiquei sem dizer nada. Absolutamente nada. Não queria me estressar.

– Você ficou com raiva? – Camila perguntou um pouco triste.

– Não. Vamos seguindo? – respondi tranquilamente.

Eu não estava chateada com ela. Não estava com raiva e nem nada disso, só não queria descontar o meu fim de semana horrível com ela, que não tem nada com meus problemas. Eu estava tentando controlar o meu estresse, sempre fui muito estourada.

Estávamos quase chegando à escola quando tropecei em algo. Desta vez cai de joelhos no chão e os machuquei, chegando a sangrar um pouco.

– Beatriz! – Camila gritou – Você está bem?

– Eu... Eu... Estou! – respondi levantando e tirando a terra que havia grudado em mim.

– Nossa, seus joelhos! – Camila quase dobrou o tom de seu grito.

– Estão sangrando, eu vi! – respondi olhando para eles.

– Espera um minuto que eu vou chamar alguém! – Camila sempre exagerada.

– Espera, não... – ela já estava na outra calçada quando tentei impedi-la.

Olhei para o chão, procurando pelo que havia me feito cair. Não vi nada.

Andei mais um pouco. Estava muito intrigada com a queda. Eu tinha sentido alguma coisa e não eram os meus pés – como de costume. Foi então que reparei em algo jogado no meio dos arbustos.

– Meu Deus! – sussurrei – Será que joguei o objeto tão longe assim?

– Bia, eu consegui! – ouvi uma voz vinda de longe, mas bem nítida. Era a Camila.

Ignorei e continuei em direção ao objeto jogado nos arbustos. Era uma caixa – pelo menos se parecia muito com uma. Não era muito grande, parecia um porta-joias ou algo do gênero, bem delicado. A caixa era toda vermelha com detalhes dourados nas bordas onde provavelmente era a tampa. Os pés da caixa também eram dourados e pareciam ter um formato triangular. No centro da tampa havia algo desenhado, parecia um emblema, não consegui identificar ao certo o desenho, mas parecia uma águia de asas abertas, com duas espadas cruzadas a sua frente e um escudo atrás.

Por alguns instantes havia esquecido de que estava com os joelhos sangrando e fiquei admirando a caixa, que parecia vazia. Sacudi, balancei, tentei ouvir algum barulho, mas nada. Resolvi abri-la e ver se realmente estava vazia. Estava. Enquanto fechava a caixa, algo aconteceu. Algo que nunca havia visto antes.

A caixa começou a ficar pesada, muito pesada e acabei deixando-a cair. Algo saía da caixa, como se fosse pequenos grãos de areia e quando olhei para mim, meu corpo estava se desfazendo, se transformando em areia e sendo sugado para dentro da caixa.

– Camila, socorro! – comecei a gritar, mas parecia não ser ouvida.

Aos poucos meu corpo desaparecia e eu ficava cada vez mais desesperada. Gritei o mais alto que consegui, mas parecia ser inútil, como se estivesse sozinha no mundo. Não sabia o que estava acontecendo e estava desesperada demais para pensar em algo que não fosse pedir socorro. De repente minha visão desapareceu. Eu havia morrido?

Quando voltei a sentir meu corpo e minha visão começava a voltar, a sensação que tive era de ter dormido por muitos anos. Esfreguei os olhos e bocejei botando a mão na boca. Passei a mão em meu rosto, descendo dos olhos até o pescoço. Ainda deitada, estiquei-me como faço toda vez que acordo e tentei ver o lugar onde estava.

Olhei para a esquerda e vi muitas árvores. Muitas e muitas árvores. Era uma floresta. Olhei para direita e vi mais árvores e uma estrada de terra, bem longa. Mas minha maior surpresa foi quando olhei para cima.

Era um belo rapaz. Um belíssimo rapaz, montado em um belíssimo cavalo branco. Seus cabelos eram longos e castanhos e batiam na altura de seu queixo e tinha um corte triangular, que tapava suas orelhas. Seu rosto parecia ser suave, mas no momento me olhava com frieza e seriedade. Seus olhos esverdeados pareciam duas esmeraldas de tão brilhantes e sua boca tinha um formato encantador, um "M" perfeito.

– O que faz aqui? – o rapaz me perguntava autoritário.

Aquela situação surreal me impediu de dizer qualquer coisa. Não por não ter o que falar, mas por não conseguir sequer respirar direito. As coisas estavam muito confusas e parecia ser apenas o começo.

– Eu te fiz uma pergunta! – ele voltou a falar – Exijo uma resposta imediatamente.

Eu continuei sem dizer uma palavra e isso só piorou minha situação.

– Como ousa calar-se de maneira tão indelicada e rude para mim, não sabe quem sou plebeia? – ele começava a ficar irritado e isso me irritava. – Levante-se e responda minha pergunta, eu estou ordenando!

Ordenando? Ele estava ordenando. Ele realmente sabia como me deixar irritada de verdade. Levantei e segui em direção a estrada de terra, era o único caminho que parecia levar a algum lugar.

– Plebeia, pare! – ele começou a gritar – Eu ordeno que pare agora ou mandarei corta sua cabeça!

– Você mandará o que? – parei e virei levemente à cabeça em direção ao rapaz.

– Lhe mandarei corta a cabeça de qualquer forma plebeia atrevida! – ele desceu do cavalo – Como ousa falar comigo desta forma?

– Como você ousa falar comigo desta forma? – comecei a encará-lo.

– Realmente deseja a morte plebeia, não está notando o grande problema que criou para você? – ele voltou a falar baixo, mas ainda em tom autoritário.

– Eu simplesmente não aceito ordens de qualquer um! – fiz questão de ser rude.

– Agora já foi longe demais plebeia! Você vem comigo! Está presa por desacatar o príncipe e futuro rei de Monterra!

Ele me pegou pela cintura, me colocou em seu ombro e depois me deixou em cima do cavalo, virada de barriga para baixo. Sentou atrás de mim e seguiu pela estrada de terra.

– Você quer, por favor, me colocar no chão! – gritei, mas ele me ignorou. – Eu quero matar você, seu idiota! – me enfureci. Ele parou o cavalo.

– Ameaçou-me de morte plebeia? – fiquei quieta. – Será que não cometi um engano em pesar que era apenas uma plebeia atrevida?

– O que você está dizendo? – fui ignorada novamente.

– Claro, uma espiã de Leone! – não pude ver seu rosto, mas seu tom de voz era de quem havia feito a descoberta do milênio.

– Definitivamente você não bate bem da cabeça! – sussurrei.

– Cale-se traidora! – ele gritou e pude senti-lo olhando para mim. Olhando demais. Virei o rosto para vê-lo.

– O que você está olhando? – perguntei.

– Cale-se, não faça perguntas a mim! – já esperava por essa resposta.

Paramos em uma pequena casa de pedras cinza. Ele me pegou e me deixou de pé.

– Suas vestes são estranhas! – ele me olhava de cima a baixo – Mesmo para uma espiã de Leone.

– Eu nem sei quem é esse Leo sei lá o que. – ele novamente me pegou pela cintura e me colocou em seu ombro. – Você é umas pessoas irritante.

Ele abriu a porta e entrou. A pequena casa havia apenas uma imensa sala e muitos homens de armaduras. Novamente fui posta de pé.

– Príncipe Alexis! – um dos homens disse surpreso e se curvou, os outros fizeram o mesmo. – A que devemos sua visita?

– Eu precisarei de algemas. – Ele respondeu um tanto simpático.

– Uma prisioneira príncipe Alexis? – um deles perguntou.

– Espiã de Leone e muito atrevida! – ele sorriu.

– Então eles podem fazer perguntas, agora eu não! – me irritei.

– Acho que precisarei de mordaças também! – ele continuou sorrindo.

Depois de ser algemada e amordaçada voltei ao cavalo. Ele não disse uma palavra, e eu não conseguia dizer mais que murmúrios. Não sei por quanto tempo fiquei amordaçada, mas sei que foi um período estressante.

Quando paramos, fui novamente pega pela cintura e posta de pé. Tirou uma corda de dentro de uma bolsa que carregava na cintura e amarrou nas algemas. Ele me encarou e tirou a mordaça.

– O que você pensou que estava fazendo seu cretino! – tinha que descontar minha raiva.

Como das outras vezes ele me ignorou e colocou novamente a mordaça em minha boca. Respirei fundo e encarei o céu. Ele tentou novamente me deixar sem mordaças, para o meu bem não disse nada.

– Muito bem. Assim que deve se comportar! – ele sorria debochado.

– Então quer dizer que seu nome é Alexis? – perguntei inocentemente.

– Como ousa me chamar apenas pelo primeiro nome? – ele era uma pessoa odiosa – Por acaso isso é algum tipo de treinamento de espião? Fingir que não conhece os membros da família real? Por qual razão acha que acreditaria em uma história dessas?

– Talvez pelo fato de realmente não fazer a mínima ideia de quem é você! – me irritei.

– Quer ser amordaçada outra vez? – ele foi rude.

Deixei o meu acesso de fúria para manter minha boca livre daquela coisa nojenta. Era melhor engolir meu orgulho do que o gosto daquela mordaça.

Quando reparei melhor ao meu redor fiquei definitivamente espantada. Era enorme, simplesmente enorme. Eu nunca havia visto um castelo de verdade tão de perto. Só em filmes e fotografias. Era um castelo bege, com três torres – pelo menos dentro do meu campo de visão – imensas janelas, grandes estatuas e bandeiras estendidas nas entradas. Era lindo!

– Eu nunca tinha visto um castelo tão grande! – pela primeira vez dirigi a voz a ele sem arrogância.

– Não se faça de tola! – ele continuava insuportável – Você invadiu a floresta do castelo, deve conhecer muito bem tudo por aqui!

– Floresta?... Do castelo? – estava surpresa.

Ele bufou e me puxou com a corda que havia amarrado nas algemas. Entramos no castelo. 

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