Clara
A luz fraca do abajur iluminava o pequeno quarto da pensão onde estávamos hospedados. Um lugar que fedia a mofo, com lençóis ásperos e paredes descascando. Era ali que a minha vida tinha parado. De uma casa luxuosa, de festas e jantares, para aquele buraco imundo. Tudo por culpa daquela desgraçada da Mariana.
Sentada na cama, fingindo ajeitar uma manta, eu ouvia o barulho do chuveiro enquanto Leonardo tomava banho. Meu rosto estava borrado, as lágrimas escorrendo livremente — mas nenhuma delas era real. Eu me olhava no espelho rachado na parede e me obrigava a chorar. Me obrigava a parecer arrependida. A vulnerabilidade era minha última arma.
Leonardo estava na beira do abismo. Eu via isso nos olhos dele. Cansado. Perdido. Inseguro. Ele achava que ainda podia recuperar a filha, mas no fundo sabia que estava perdendo. E eu? Eu nunca suportaria viver sem ela. Isabela era minha. Era o que eu dizia para mim mesma todas as noites.
Respirei fundo, peguei o celular debaixo do travessei