Entre sombras e luzes: Fragmentos de um amor inacabado
Entre sombras e luzes: Fragmentos de um amor inacabado
Por: Lilly Maxwell
Capítulo 1- Um destino roubado

Era quase uma da manhã de uma noite fria de inverno que só ficava mais gelada a medida que a chuva miudinha teimava em não parar de cair.

O habitual silencio, sagrado e característico, da noite que inundava as ruas do condomínio de luxo , algures nos arredores da capital, tinha sido profanado por gritos , choros, palavras de baixo calão proferidas por um jovem casal. Os vizinhos, escondidos dentro das paredes das suas casas, escutavam e comentavam o escândalo. Mas ninguém se atrevia a ir la parar a loucura. Afinal, "em briga de marido e mulher ninguém mete a colher".

A gritaria cessou com o som estrondoso de uma porta a ir contra a fechadura e logo a seguir o rugir do potente motor do BMW azul escuro normalmente usado pelo homem da casa.

E houve paz...

Ou assim pensaram os vizinhos.

Mas há alguns quilómetros dali e alguns minutos mais tarde, o mesmo carro que saiu do condomínio acelerando a fundo e quase desgovernado, foi traído pelo pavimento escorregadio e pela noite escura e terminou completamente destruído no embate contra uma barreira de betão que protegia as bermas da autoestrada. O seu condutor, ainda em vida por algum milagre, foi levado as pressas para o hospital mais próximo e deu entrada em estado crítico.

Em outra parte da cidade, um celular tocava, e outra mulher era informada do fatídico acidente. Sem demoras ela pulou da cama e para fora das cobertas que a aconchegavam naquela noite fria e escura e rumou até ao hospital.

- Boa noite. Ligaram-me a informar que o André Dias havia dado entrada neste hospital.- Ela falou , aflita e angustiada, logo que se aproximou do balcão da recepção.

- É a senhora Luana? - Perguntou a mulher de rosto enrugado e alguns fios grisalhos que se encontrava do outro lado do balcão.

- Sim, sou eu.- Respondeu ela, imediatamente.

- O meu colega irá acompanha-la.- Falou a senhora, apontando para um jovem que se aproximava delas.

Ela acenou com a cabeça e seguiu o jovem vestido com um conjunto de calças e uma bata verde escuro e uma máscara cirúrgica que cobria parte de seu rosto. Atravessaram duas portas que tinha uma placa escrita " Apenas pessoal autorizado".Um calafrio atravessou seu corpo e um mau pressentimento a invadiu. Ela envolveu seus braços em seu tronco, praticamente abraçando-se e respirou fundo enchendo-se de coragem. O jovem parou em frente a uma porta e virou-se para encara-la.

- Ele está consciente, mas bastante debilitado. Não o encoraje a falar pois isso pode cansa-lo mais. Sinto muito ter de dizer isto, mas as próximas horas serão decisivas para determinar se ele sobrevive.

Ela sentiu lágrimas formarem-se em seus olhos mas, respirou fundo para impedi-las de escorrerem pelo rosto. O jovem abriu a porta e ela o seguiu, entrando no pequeno quarto que so tinha espaço para uma cama , uma cadeira que estava encostada num canto e os vários aparelhos medicos dispostos pela parede e nas laterais da cama.

Nada a preparou para vê-lo, todo desfigurado, com vários tubos ligados em seus braços e o rosto pálido. Hesitante , ela aproximou-se e tocou em sua mão. Acariciou levemente e logo em seguido o viu abrir seus olhos, lentamente.

- Luana...- Ele sussurrou, sua voz quase inaudível e entre-cortada.

- Não fales, André.- Ela aproximou-se mais e tocou, carinhosamente, seu rosto- Estou aqui. Não te deixarei sozinho.

- Vou deixa-los a sós. Se precisar de assistência é só carregar no botão vermelho na parede a sua frente.- Informou o jovem antes de abandonar o quarto.

- Eu...- Ele tentou falar, mas sua voz é cortada por um ataque de tosse.

- Fique calmo. Não precisas dizer nada. Vai ficar tudo bem.

- Não, eu preciso...eu pre...- E novamente a tosse o impede de falar e ela percebe a dor nas feições do seu rosto cada vez que ele se esforça para falar ou tossir.

- André, precisas descansar. Eu estou aqui, descansa por favor.

- Diga a Sheila ... que e-eu ..sinto muito. - Ele tenta novamente.

- Tu vais dizer tudo quando ficares melhor. Mas agora tens que poupar suas forças.

Ele aperta a mão dela e a encara, quase em desespero.

- Eu não...- E tosse novamente- Eu não fui um bom marido, Luana. Diga-lhe... que , que si-sinto muito. Promete-me...

- André por favor, não fales.

- Eu..eu sempre te amei... tu, Lu...és a mulher que sempre amei.-

Tudo que se ouviu depois foi o som ininterrupto da máquina responsável por monitorar os batimentos cardíacos do paciente.

Aquele som que anunciava a partida de mais uma alma para o além. O quarto logo foi invadido por uma equipe médica e a pobre mulher, parecia uma pena que dançava no ar, empurrada para todos os lados sob o comando do vento.

As lágrimas que ela estava conter desde que entrou naquele hospital agora caíam livremente, como os teimosos pingos de chuva que continuavam a cair no exterior. Com muito esforço atravessou a porta e se viu perdida no corredor. Sem forças para continuar, ela deixou-se cair e sentou-se no chão frio encostada a parede. Levou as mãos ao rosto e chorou.

Ela foi invadida por um misto de sentimentos , a perda do seu melhor amigo, do único homem que amou verdadeiramente. Mas chorava também pelo amor que não viveu, o amor que sempre acreditou impossível, o amor que lhe foi declarado no leito de morte, quando nada podia fazer para mantê-lo do seu lado.

Ela sentia seu coração encolher, como se seu corpo o sufocasse. O ar parecia abandonar seus pulmões e uma dor atravessar-lhe como um punhal afiado e rasgar-lhe as entranhas.

- Não...não pode ser...- Ela murmurava entre soluços.

Mas a dor só aumentava. A amizade dos dois vem de anos, cresceram juntos, vivendo praticamente lado a lado e sempre que ela precisou de um ombro amigo, de alguém que a consolasse, que a protegesse era com ele que contava. . E agora, quem a consolaria?? Quem a iria abraçar e fazer com que toda dor desaparecesse?

- Senhora, venha comigo.- Uma enfermeira aproximou-se e ajudou-a a erguer-se do chão.

- Eu não quero deixa-lo sozinho.

- Venha, os médicos estão com ele. Precisa acalmar-se. Não conseguirá fazer nada nesse estado.- Insistiu a enfermeira.

Ela não tinha forças para protestar. Limitou-se a segui-la.

Mas no fundo ela sabia que a enfermeira tinha razão, ela não conseguiria fazer o que era necessário naquele estado. E André contava com ela para que fizesse tudo. Ele a confiou seu testamento e era seu dever cuidar de tudo para que as últimas vontades dele fossem cumpridas.

O que a esperava era tão difícil quanto ver seu amor partir. Lidar com os que ficam era um desafio que ela não se sentia preparada para enfrentar. Quando André a confiou seu testamento nenhum deles pensou que ele partiria tão cedo.Ela só aceitou porque ele não se calava sobe o assunto .

- Maldito sejas , André. Maldito...- Ela praguejou dentro si e mais lágrimas escorreram em seu rosto.

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