Capitulo 05

Fiquei no hospital por mais um dia, o dia mais longo da minha vida. 

Cheguei em casa com uma felicidade estampada em meu rosto, mamãe ficou em silêncio o caminho todo, o que era estranho. Me perguntei se sua preocupação seria eu ou seu trabalho, mas não quis perguntar, de certa forma era reconfortante poder ficar em silencio. 

Assim que entrei em casa fui direto para o banheiro tomar um banho, a sensação da agua quente caindo em minhas costas era absolutamente reconfortante. Depois fui para a minha cama, de todos os lugares, o melhor para se estar. 

Dormi a tarde toda, e só acordei quando mamãe entrou no quarto.

- Nalu... - meu apelido soando inédito na voz dela - desculpe ter que te acordar, sei que esta cansada, mas você precisa se arrumar.

- Está tudo bem? - perguntei me espreguiçando.

- você vai passar alguns dias em Brighton com seu pai... - ela pegou uma mala em cima do meu guarda roupa- vamos Analu, temos que arrumar suas coisas.

- mas assim do nada? – perguntei me levantando lentamente – Por que?

- Analu, por favor, não vamos arrumar brigas com seu pai... - ela respirou fundo - você sabe que ele leva tudo pro lado pessoal - ela arrumava algumas camisetas e calças dentro da mala rapidamente. 

- ele sabe do acidente? - perguntei enquanto fazia uma trança de lado no meu cabelo.

- é claro que ele sabe Analu, - ela disse impaciente – Agora vamos, me ajude a organizar suas coisas.

- Ele vem amanhã?

- Ele vem hoje, - suspirou – Já deve estar chegando.

- Mas por que isso agora mãe?!

- Analu, você é filha dele também, você nunca ficou com seu  pai desde que nos separamos, ele quer buscar você agora, e eu acho que vai ser bom você passar uns dias lá.

- Mas e a escola? Ele não pode aparecer do nada e me levar para outra cidade.

- Analu, está decidido.

  Era mais do que óbvio que ela não mudaria de idéia, minha mãe não era o tipo de mãe que era facilmente convencida. Sem opções comecei a arrumar a mala.

* * *

Depois de arrumarmos a mala, fizemos macarronada e sentamos à mesa para comer. Mamãe parecia triste com a idéia de eu passar alguns dias fora de casa, principalmente agora que eu havia acabado de sair do hospital, o que me fez pensar no porquê ela havia permitido que eu fosse.

     Ficamos as duas em silencio durante o jantar, depois que comemos lavei os pratos e subi para o quarto novamente.

  Sentei na cama e comecei a pensar em tudo que estava acontecendo, os passos, a sombra, Daniel, o acidente e agora isso... minha vida estava literalmente uma bagunça.

  Então peguei meu celular e disquei o numero de Lucy, ela era a única coisa normal no meio daquilo tudo. Ela atendeu no terceiro toque.

- Analu?- ela praticamente gritou- você ta bem? Saiu do hospital? Eu amo você ta? Não faz mais isso comigo...

- calma... eu estou bem, só um pouco chateada. 

- O que houve?

- Minha mãe está me despachando para a casa do meu pai, do nada.

- Mas seu pai não mora em Brighton?

- Exatamente por isso estou chateada... Ela não disse o que aconteceu, não exatamente, e para piorar ele vem hoje.

- Hoje? Meu Deus amiga, você sabe quando volta?

- Talvez em uma semana, não acho que minha mãe me deixaria ficar fora por muito mais tempo.

E então a campainha tocou, fazendo meu coração acelerar.

- Lucy, acho que ele chegou, tenho que ir, te ligo quando tiver mais noticias.

 Desliguei, desci as escadas calmamente, mesmo eu não estando nem um pouco calma. Papai estava na sala, assim que me viu um sorriso brotou em seu rosto, sorri de volta e corri para abraçá-lo.

- oi pai... - falei, seus braços grandes estavam em volta de mim e o seu cheiro era exatamente igual o que era à um ano e meio.

- Oi garotinha. - ele disse e então me apertou em seu peito.

Antes que eu entrasse no carro mamãe me abraçou e cochichou no meu ouvido:- Amo você Analu, e vou sentir sua falta... 

Então a abracei mais forte, e respondi:- eu também mãe.

Entrei na pajero preta de papai e fiz um aceno rápido para mamãe. Ele ligou o carro e começamos o caminho até Brighton. Tinhamos pela frente 100 km de viagem, resumindo, uma hora inteira sentada no carro ao lado de papai... me lembrei de que antes isso pareceria um sonho, mas agora depois de tanto tempo sem vê-lo mal tínhamos sobre o que conversar.

- garotinha... - ele disse- tem uma coisa que você precisa saber.

- o que?- perguntei, papai parecia serio, o que não era normal.

- você sabe que ja faz um tempo que...

- que você tem outra. - interrompi, ouvi-lo dizer aquelas palavras machucaria mais do que eu mesma dizer.

- isso; - ele respirou fundo e continuou- E eu quero que saiba que...- ele fez uma pausa e sem desviar a atenção do volante limpou a garganta- eu vou me casar de novo.

Não respondi, eu já imaginava que isso ia acontecer, mas agora era real, e a sensação inexplicável que invadiu meu corpo foi horrível... Não que eu tivesse algo contra o casamento, eu queria que papai fosse feliz, mas a noticia acabou sendo um choque mesmo assim.

- E tem outra coisa... - ele continuou- ela tem um filho... eu sei que não é uma boa noticia filha, mas você tem que...

- pai. - falei, interrompendo-o novamente - ta tudo bem, essa não é uma má noticia, eu estou feliz por você...

Falei mesmo não estando, e ainda sorri, fiz isso e muito mais, sorri quando queria chorar, falei uma coisa quando queria dizer outra. E fiz porque sabia que era o certo, por que sabia que papai merecia uma vida e por que eu o amava, e independente da situação eu sempre o amaria e isso nunca iria mudar.

 - Obrigado por entender. – ele deu um leve sorriso.

Apenas sorri de volta e me concentrei na rua e nas pessoas do lado de fora.

Minutos depois papai parou o carro em frente uma casa, a pintura era verde claro e as janelas eram perfeitamente pintadas de branco.

Papai me encarou por um momento.

- sabe o filho de que te falei?- ele perguntou, eu podia sentir o nervosismo em sua voz.

- o filho da sua mulher da qual nem sei o nome?

Ele assentiu.

- o que tem ele? - perguntei, com um mal pressentimento sobre o rumo que essa conversa tomaria.

- temos que dar uma carona até Brighton...

- ele esta aqui em Londres?- arqueei as sobrancelhas e sorri tentando parecer apenas surpresa e não magoada.

- ele mora aqui com o tio... parece que ele não aceitou muito bem a morte de seu pai.

Então Dominic, o garoto dos olhos verdes, saiu da casa com duas malas e um sorriso no rosto. 

Papai desceu, guardou as malas dele e depois entraram no carro. Um homem estava na porta da casa com uma caneca vermelha e um roupão laranja claro, imaginei que fosse o tal tio de Dominic. 

- Oi... - falei assim que ele entrou no carro.

- oi Analu - ele falou calmamente- só eu estou surpreso?

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