Capitulo 04

No dia seguinte também não me atrasei, liguei para Lucy e dispensei a carona, sai de casa andando apressadamente, quanto antes eu chegasse à escola melhor. 

O céu estava escuro, ameaçando derrubar litros de água a qualquer momento, o vento forte soprava bruscamente bagunçando meus cabelos, jogando-os em meu rosto. 

 O vento soprou mais forte, e dessa vez acabou levando meu cachecol, então comecei a correr desesperadamente atrás dele, mas o vento era imperdoavelmente mais rápido. 

 Depois de correr em ziguezague por um bom tempo, o vento finalmente cedeu. Olhei em volta procurando por algo Azul bebê, e ali estava ele, na rua bem na minha frente. Andei até onde ele estava e me agachei para pega-lo quando algo me chamou a atenção, havia uma pessoa, um homem bem na minha frente, do outro lado da rua, eu não podia ver seus olhos, mas sabia que ele olhava para mim.

 Sei que estava olhando para ele quando aconteceu. Um carro me atingiu com toda a força, e voei alguns metros antes de cair no chão, já quase desacordada.

  Muitas pessoas que sofrem acidente, dizem que quando você esta ali deitada, esperando pra ser socorrida, tudo o que resta é um branco total, você não sente nada, não vê nada e não ouve nada. Porém comigo foi diferente, a dor era insuportável, e ela estava por todas as partes de meu corpo, nas mãos principalmente, que ardiam como o fogo, eu mal podia respirar.

   E então algo cortou meu fôlego de uma vez, qualquer outra pessoa na minha situação nem teria notado, mas eu notei, bem ao fundo de minha agonia ouvi em alto e bom som uma leve risada... Uma risada que eu já havia ouvido antes.

- Fique comigo - um homem de branco e vermelho disse enquanto checava meu pulso- não feche os olhos, permaneça consciente, fique comigo...

Quando acordei demorei a perceber que eu estava no hospital, encarei o teto branco por um tempo até que uma enfermeira entrou no quarto. Ela era uma senhora ruiva dos olhos verdes, tinha um sorriso acolhedor.

- Como esta se sentindo? - ela perguntou enquanto analisava os aparelhos ao meu lado.

- Dolorida... - respondi- minhas mãos estão doendo.

- Isso é normal - ela sorriu novamente – O carro te atingiu com força, tem sorte de estar aqui... Tem muita sorte de não ter se machucado gravemente.

 Não respondi, ela ainda mexia nos aparelhos atentamente.

- Só teve um corte em seu rosto, continua linda... E quanto ao  restante, você vai ficar bem.

   Respirei fundo enquanto digeria as informações, suspirei aliviada.

- minha mãe esta aqui? - perguntei.

- Ela esteve aqui ao seu lado o dia todo, tenho quase certeza de que só foi tomar um ar e logo volta.

- Ah... – suspirei – espera, o dia todo?

A enfermeira deu um sorrisinho disfarçado, e foi só então que olhou para mim de verdade.

- Você ficou desacordada por um bom tempo, estávamos começando a ficar seriamente preocupados, fico aliviada que tenha acordado.

- Que horas são?

- Oito e meia...

  Olhei em volta a procura de meu celular apesar de saber que não o encontraria.

- Não foi tanto tempo assim – falei

- São oito e meia da noite.

 Dizendo isso ela tocou de leve minha bochecha e sorriu, logo em seguida saiu do quarto apressadamente.

 Agora estava sozinha outra vez, fitei o teto enquanto ouvia em algum lugar dentro de mim aquela risada ecoando. Eu não sabia dizer de quem era, se havia mesmo acontecido ou se tudo não passava de imaginação, mas me lembrei do homem me encarando segundos antes do acidente, por mais louco que pudesse ser, eu não podia duvidar do que havia visto. Não podia duvidar da minha sanidade mental.

 Mesmo sabendo que não podia duvidar de mim mesma, eu não esperava que acreditassem em mim, sabia que não acreditariam, então decidi que não falaria sobre isso.

 Minha mãe entrou na sala como um furacão, seus olhos estavam vermelhos e a fisionomia preocupada.

- Graças a Deus você está bem! – ela disse me abraçando – Quase me mata do coração.

- Sinto muito mãe.

- Tudo bem querida, precisa ficar mais atenta, está sempre por ai andando perdida, não me surpreende que alguém tenha atropelado você.

- A pessoa está bem? – perguntei seriamente preocupada, porque pior do que ser atropelada com certeza devia ser atropelar alguém.

- Não sabemos. – ela respondeu – A pessoa fugiu.

Algo dentro de mim estremeceu, quem fugiria depois de atropelar alguém? Por que eu tinha a sensação de que a risada era cada vez mais real?  Por que alguém iria querer me atropelar?

- é... - ela respondeu, e pude notar em seu rosto uma sombra de raiva – Eu imagino o que está sentindo meu bem, mas o importante é que você não se feriu.

- e quando posso ir pra casa? - perguntei num tom de criança mimada.

- quando o medico te der alta... 

- o que não vai demorar muito - um homem disse enquanto entrava na sala, ele estava todo de branco então com certeza era o médico - você é muito forte sabia?

- obrigada -falei meio sem jeito, o médico era um homem que devia ter uns quarenta anos, alto, cabelo preto com bastante gel e jeito acolhedor, de qualquer forma, eu estava com uma camisola super fina e curta, e velho ou não ele ainda era um homem.

- Meu nome é Makenzi, Edwart Makenzi, mas pode me chamar de ken... se quiser é claro.

Então mamãe e ele sorriram, e meio que rolou um clima, analisei as mãos dele em busca de uma aliança de ouro que pudesse me tranqüilizar sobre um possível caso, mas a mão dele estava impecavelmente limpa e nenhum sinal de aliança.

   Passei a noite naquela cama que tinha cheiro de produtos de limpeza e remedios, meu corpo doia muito, tentei me levantar mas a dor invadiu meus braços e costa... então fiquei ali, esperando que eu ficasse com sono, sem nada pra fazer a não ser encarar o teto branco sem graça. Só me restou pensar no acidente, e em tudo de estranho que vinha acontecendo nos últimos dias, eu tentava me convencer de que eu estava ficando maluca, e talvez realmente estivesse, mas pensando melhor agora, o medo de que eu poderia estar em perigo me invadiu de uma só vez. Tentei não pensar nisso, e só veio em minha mente os olhos negros de Daniel. Eu me odiava por pensar nele, mas permiti esses pensamentos porque eram melhores do que o que havia ocorrido.

  Demorei a pegar no sono, e a noite parecia mais longa e assustadora ali do que era em minha casa, mas ainda assim me forcei a relaxar, esperando que o dia seguinte fosse melhor que o anterior.

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