Capítulo 1

JULIE 

Senti um dedo frio tocar minha bochecha e levantei num pulo, assustada.

— Ela acodou, mamãe — Eliot gritou à Beatrice — Madina Juu.

— Oi, meu lindo — ignorei a vontade de voltar a dormir e peguei meu neném e o abracei — que saudade.

— Eliot, para de incomodar sua madrinha e vem colocar os sapatos, você tem escola — gritou lá de cima e ele saiu correndo.

Olhei ao redor e vi que estava na sala, acho que peguei no sono e esqueci de ir para o quarto.

— Bea, onde estão as chaves do carro? — Zack gritou descendo as escadas — oi, Julie — acenei como comprimento — seu carro já está lá na frente.

— No seu bolso — gritou de volta e eu revirei os olhos por tanta gritaria — beijos, amor, até o jantar — ele saiu batendo a porta.

Beatrice e Eliot desceram, reparei então que Eliot estava todo arrumado, usando polo, calças de alfaiataria, e sapatos pretos, já Beatrice tinha o cabelo preso, maquiagem leve, uma calça preta, blusa solta e sapatilhas, em sua mão, ela carregava o jaleco de farmacêutico que a deve usar na clínica veterinária, a mochila do Spider-Man que deve ser do Eliot e a sua bolsa.

— Bom, eu vou sair porque tenho que ir trabalhar e levar o Eliot para escola, você fique à vontade, beijos — pegou as chaves e saiu em direção o carro.

Eliot me deu um beijo e saiu correndo atrás da mãe, só ouvi a porta batendo. Eu espreguicei e logo depois tomei meu café da manhã. Peguei as chaves do meu carro e fui até o mesmo pegando uma muda de roupa e meus produtos de higiene pessoal.

Tomei meu banho, passei maquiagem, coloquei meu look meio social visto que quero ir à empresa ainda hoje e passei uma maquiagem simples além de um salto confortável. Olhei para minha cadela que balançava o rabo, animada, acho que ela quer sair comigo.

— Desculpe, Hana, mamãe virá te pegar à noite — me agachei à mesma e acariciei seu pelo, ela ficou fazendo aqueles barulhos de gato miando como se estivesse triste e isso me cortou o coração.

O caminho até à empresa foi rápido, aproveitei para ver se alguma coisa tinha mudado pelas ruas, alguns prédios já tinham até terminado de construir, parece que o progresso nunca para por aqui.

Estacionei meu carro e logo olhei a grande empresa multinacional Evergarden's Interprise, com certeza essa empresa parece reformada, não que a empresa de Cambridge estivesse caindo aos pedaços, mas não estava recente.

Entrei pela porta giratória e andei até ao grande balcão de informação deixando que se ouvisse o barulho da ponta dos meus saltos assim sendo seguida por olhares alheios, parte deles eram homens que me pareciam ter segundas intenções e a outra maioria eram mulheres que mal me conhecem e já me olharam friamente, tadinhas, elas só querem atenção, mas pelo menos uma coisa eu já estou familiarizada nesta empresa, já sei que aqui serei alvo de fofocas até determinado tempo e que aqui, eles só querem fofocas, são poucos os que irão falar comigo para serem realmente amigos.

Uma mulher extremamente linda, tipo, linda mesmo, ela tinha pele negra, vestida a rigor, como se espera de uma de recepcionista, tinha uma pose profissional e usava maquiagem, tinha um crachá posicionado na altura do peito indicando seu nome.

Gisele Wood. Esse era seu nome. Sinto que vamos nos tornar boas amigas.

— Bom dia, no que posso ajudá-la?

— Bom dia, meu nome é Julie Gordon, sou da Evergarden Interprise de Cambridge, pedi transferência semana passada — informei e Gisele começou a teclar no seu computador.

— Ah sim! Pode aguardar só um instante, vou comunicar a sua chegada para o Sr. Evergarden, ele irá te atender — Gisele pegou o telefone e falou por breves minutos — siga pela esquerda, o elevador estará lá, é o último andar, leve o crachá para ser identificada — entregou um crachá de visitante — depois terá que passar no setor RH para tratar do vale de comida, o crachá oficial e entre outros assuntos — depositou o crachá no balcão e eu o peguei.

— Obrigada Gisele — dei um sorriso amigável e ela retribuiu.

Entrei no elevador e apertei o botão para chegar no último andar, eu sei que eu to indo conhecer o dono da porra toda e por incrível que pareça não estou nervosa, na verdade, até estou confiante, tenho que mostrar uma aparência profissional, é isso que ele esperará de mim.

O elevador abriu e eu sai observando à sala de espera, era realmente muito requintada. Uma senhora de meia idade aguardava a minha chegada.

— Olá senhorita Gordon, eu a acompanharei até à sala do Sr. Evergarden — ela seguiu caminho e eu fui atrás.

A recepcionista abriu uma porta grande e me deu passagem para eu entrar, logo depois fechou a porta atrás de mim. Um homem muito bonito loiro de barba rala veio até mim e apertou minha mão, seus olhos azuis pareciam ser a profundidade do oceano, corpo escultural, isso eu tenho a certeza mesmo que ele esteja usando um terno, um Homem com "H" maiúsculo mesmo.

Na verdade, eu até fiquei bem pasma do homem comandar várias empresas em vários lugares sendo tão... novo.

— Aposto que deve estar se perguntando um monte de coisa por ser novo demais, mas não se preocupe eu sou só a sombra do meu irmão — me tranquilizou e eu dei um riso sem graça.

— Meu nome é Kitt Evergarden - foi até a sua cadeira e eu sentei à frente de sua mesa — de acordo com a sua ficha, você pediu transferência, algum motivo especial?

— Eu estava em Cambridge por causa da faculdade, mas quando acabou, decidi ficar por um tempo, e agora decidi voltar.

— Entendo, bom, para sua sorte, eu gostei muito da sua ficha, me pareceu que você seria a pessoa certa como minha secretária, por isso aceitei sua transferência, terá que passar no RH depois.

— Sim senhor.

— Ótimo, amanhã quero você na minha sala às sete em ponto, já vou avisando que não tolero atrasos — me levantei sendo acompanhada até à porta pelo Sr. Kitt — amanhã pedirei para a secretaria do meu irmão te ajude a intender onde ficam as coisas, até lá senhorita Gordon.

— Obrigada Sr. Evergarden - agradeci ao sair da sala.

Antes de ir embora, passei no RH para resolver todas as questões pendentes. Conduzi calmamente até à casa dos meus pais, tinha que pegar algumas coisas que ficaram no meu antigo quarto para levar para o meu novo apartamento, obviamente que eu não ficaria na casa de Beatrice, se há uma coisa que eu prezo é privacidade, por mais que ame meu afilhado, e ainda bem que mês passado eu fiquei olhando apartamento.

Desci do carro e avistei a mansão que antigamente eu chamava de casa, nem sei como, definitivamente esse lugar não parecia uma casa, um espaço para as minhas festas? Sim, casa? Não.

Entrei na casa e Felícia, a governanta veio me saudar.

— Bem-vinda de volta Senhorita Julie.

— Olá Felícia, só vim pegar umas coisas no meu quarto — informei e a mesma assentiu. Ela não era exatamente alguém que eu sentisse afeto, ninguém daquela casa eu sentia afeto, Felícia só era educada e bom, e acho que eu era educada com ela pelo fato dela nunca ter me questionado minhas ordens ou passado olhares de frieza como as outras empregadas.

— A senhorita deseja alguma coisa?

— Um suco, pode levar para o meu quarto — subi as escadas e entrei no primeiro quarto do corredor que era logo o meu.

O quarto estava exatamente como deixei, é claro que não tinha pó porque eles devem limpar para não ficar sujo, mas de resto... tudo estava igual.

Peguei umas caixas e pousei na cama começando por pegar algumas fotos e quadros assim depositando nas caixas.

— Aqui está, Senhorita Julie — colocou um suco de laranja natural em cima da mesa — quer ajuda com alguma coisa?

— Pode ser, me passa os casacos do meu closet — pedi e Felícia foi pegando, dobrando e guardando nas caixas.

Inusitadamente ouço vozes muito conhecidas, meus pais estavam... aos berros? Meu pai e minha mãe nunca brigavam, eles estavam sempre em concordância que o trabalho vinha em primeiro lugar.

— Me diga Felícia, meus pais têm brigado com frequência? — pergunto como quem não quer nada depois de dar um gole no meu suco.

— Creio que sim, talvez estejam com problemas com alguns dos seus vários investidores, ou devem estar estressados com um novo projeto.

— Deve ser isso.

Ao terminar de empacotar as caixas, eu e Felícia levamos tudo até à porta das traseiras para eu colocar no carro, se meus pais chegaram brigando, agora não é o momento certo de dizê-los que estou aqui.

— Obrigada, Felícia, por toda a ajuda, não conte aos meus pais que estive aqui, creio que eles não estejam num bom dia.

— Sim senhora.

Com o carro abarrotado de coisas enfim cheguei ao prédio do meu apartamento, comecei a descer as caixas até o elevador e com muita dificuldade e um pouco de ajuda do senhor que estava na portaria consegui trazer tudo até o meu apartamento.

Desempacotar, só amanhã. Por agora tenho que pegar a minha cadela linda que eu não vivo sem ela.

[...]

— Madina Ju — meu pequeno pulou em mim e eu o rodopiei no ar, seu sorriso era tão contagioso — hoje você vai bincar comigo? — o coloquei no chão novamente.

— Você quer brincar? Pois, bem — eu o peguei e comecei a fazer cócegas e ela ria que era impossível não rir junto.

Quando parei de fazer cócegas vi minha cadela dormindo calmamente no canto da sala e Bello, o gato da Beatrice estava em cima dele, era a coisa mais fofa que eu havia visto.

— Vai ficar para jantar Julie? — perguntou Beatrice com uma colher de pau na mão.

Olhei para o Zack que segurava a risada ao me ver afoita no que responder. Vamos deixar uma coisa bem clara, Beatrice é ótima em muita coisa, mas cozinha?... caso esteja perante a um prato feito por Beatrice e quer arriscar a sua vida comendo, pelo menos leve uma serra para cortar, até a faca de serra quebra ao tocar em sua comida e mesmo eu esteja morrendo de fome por só ter tomado café da manhã, eu ainda prefiro os meus requentados.

— Ah, eu só vim pegar a Hana, já estou acomodada em casa.

Como eu sou um génio em pessoa minha resposta saiu perfeitamente normal.

— Fica para jantar, Julie — Zack tocou nos ombros de Beatrice — ou vai me dizer que prefere comida de restaurante, a uma comida caseira?

Eu prefiro viver... só isso.

— Estou de dieta, nem estou jantando — soltei um sorriso amarelo.

— Que pena, então sou só eu e você Zack, você vai amar a minha caçarola — olhou esperançosa para o Zack que torceu o nariz na hora — mas pelo menos fica, assim poderemos colocar a conversa em dia.

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