Capítulo 2

JULIE

— Mentira, eu não acredito em você — riu da minha cara dando mais um gole da sua taça de vinho.

— É verdade — gargalhei sem conseguir parar, acho que já não controlo minhas ações — eu não tive namorado nenhum durante esses seis anos, foi só aquelas noites, você sabe — tombei minha cabeça na parede tentando pensar.

— Deve ter sido legal ficar longe, você parecia estar bem mais feliz lá do que aqui — dessa vez um tom mais magoado.

— Ah para com isso, você nem deve ter sentido a minha falta, aposto que estava ocupada demais para sentir — coloquei o resto do vinho na minha taça.

Eu olhei para a garrafa que a gente esvaziou ao longo da noite enquanto conversávamos sobre tudo. Foi como se não houvesse problemas, estava apenas eu, ela e uma garrafa de vinho para afogar as minhas mágoas e a solidão. Olhei para o lado e vi que Beatrice dormia com a cabeça encostada na parede.

Olhei no relógio e vi que já eram duas da madrugada. Me pergunto se vou conseguir acordar amanhã para trabalhar, acho que não, mas se eu me atrasar, eu definitivamente posso dar adeus ao meu emprego dos sonhos com o chefe gato dos sonhos.

— Acho que vocês beberam demais — Zack apareceu meio sonolento e olhou o nosso estado.

Eu e Beatrice estávamos sentadas no chão e encostadas na parede, fico feliz por termos tido esse momento de melhores amigas, eu precisava disso. Zack pousou as taças e a garrava de vinho em cima da mesa e pegou Beatrice que já estava no seu décimo sono.

— Eu vou levar ela para cama — subiu as escadas calmamente.

Eu me levantei e peguei as chaves do carro. Eu estava tão cansada que eu tinha que forçar os meus olhos a se manterem abertos, tenho que estar acordada para conduzir, do contrário causarei um acidente.

Saindo da casa destravei o carro e Hana entrou no carro.

— Julie, espera aí — Zack veio correndo até mim — eu te levo.

— Não obrigada, acho que consigo dirigir.

— Não é um pedido, eu realmente não quero me sentir culpado depois porque sofreu um acidente — mandou e eu bufei.

Acho que dirigir por hoje está fora de cogitação. Zack pegou a chave da minha mão e eu me sentei no lugar do passageiro me acomodando, passei o endereço para Zack e ele começou a dirigir calmamente.

— Ela sentiu sua falta — arqueei a sobrancelha não entendendo sua declaração.

— O que?

— Beatrice sentiu sua falta, ela se sentiu sozinha sem você, quero dizer eu estava lá, mas... você é como uma irmã para ela, e quando ela viu os seus posts, ela ficou com ciúme.

— Ela virou adulta e eu também, escolhi viver em Cambridge porque achei que era o melhor para mim — virei para observar as árvores em movimento ainda que fosse desinteressante.

— Porque vocês sempre fogem da mudança? Vocês realmente são irmãs — Zack gargalhou e eu arqueei a sobrancelha não entendendo o motivo da graça.

— Do que ta falando?

— Eu to falando que estava com medo, sei lá, talvez tenha se sentido, deslocada porque todos estávamos mudando o estilo de vida... e você não.

— Pode parar com isso, eu sei o que está tentando fazer, e não vai dar certo, eu não sou como Beatrice que você consegue desvendá-la com um estalar de dedos, se eu estava longe foi porque escolhi, não porque estava fugindo.

— Está usando a grosseria para fugir do assunto.

— Para de tentar se importar, eu te espanquei quando Beatrice desapareceu, você deveria me odiar — gritei irritada.

— Isso foi há seis anos e eu sei que fez isso porque se importa com Beatrice, não poderia odiar a melhor amiga da garota que eu amo, você não ta entendendo o quão ela te adora, falar de você a causa um brilho nos olhos.

Abaixei a cabeça sentindo a culpa me tomar, eu a fiz preocupar comigo, que merda de pessoa eu sou? Mas eu fiz isso para evitar me sentir deslocada, não queria meus amigos parassem de viver porque eu não estava sabendo lidar com as mudanças, não é culpa deles, eu só... odeio ficar sozinha, mas eu sabia que todos já tinham família... e eu não... Então eu me afastei pensando que seria o melhor a se fazer.

— Eu também senti a falta dela — contei enquanto me desdobrava em lágrimas.

Eu nunca mais vou beber, chorar à frente do Zack... Que mico. Quando o carro parou, Zack me entregou a chave do carro.

— Como vai voltar?

— Eu dou meu jeito.

— Zack — chamei o mesmo — obrigada pela carona e... pela conversa — ele assentiu e saiu andando.

Entrei no elevador e carreguei no botão esperando pacientemente chegar ao meu andar. Entrei em casa, coloquei comida para Hana e joguei os sapatos e o casaco para qualquer lugar e praticamente capotei na cama.

[...]

Despedida, mal paga e mal amada.

É assim que eu vou ficar se eu não chegar em quatro minutos na empresa. Droga, porque eu bebi a garrada ontem?! Mas eu simplesmente não quis me conter com apenas duas taças, se bem que para vinho eu sou meio fraca.

Estacionei o carro e entrei no grande prédio de vidro, verifiquei novamente no meu relógio e vi que faltava um minuto assim suspirando aliviada. Não será hoje que serei demitida.

Dei duas leves batidas na porta e logo se ouviu a voz grave e masculina do meu chefe pedindo que eu entrasse.

— Bom dia Julie, bom, hoje a secretaria do meu irmão não veio, parece que ela está doente, então ela não poderá te ensinar onde estão as coisas, eu vou te mostrar onde é a sua sala, e qualquer dúvida, mande para o meu e-mail.

— Sim senhor.Evergarden.

Até parece que eu sou uma novata. Com licença, acho que sei me virar sozinha.

— Me chame de Kitt, por favor, usar o sobrenome me faz parecer mais velho.

O Sr. Evergarden, digo, o Sr. Kitt me mostrou a minha sala, eu fiquei tão feliz. Na outra empresa eu dividia um cubículo com mais uma pessoa, e agora eu tenho uma sala só para mim. Assim que ele me deixou na minha sala, tratei logo de fazer lembretes para suas reuniões e organizar os arquivos, no meu trabalho tem que estar tudo na mais perfeita ordem.

Ouvi o telefone tocar e mais do que depressa atendi.

— Secretária do Sr. Kitt.

— Julie, me traga um café, gosto dele puro.

— Sim Sr. Kitt.

Fui a cafeteria do prédio e passei um novo café seguindo as instruções do Kitt em relação ao seu gosto. Voltei para o meu andar e bati na porta.

— Aqui o seu café, do jeitinho que pediu.

— Obrigada Julie — agradeceu ao tomar um gole — foi você que fez o café?

— Sim.

— Absolutamente magnífico.

De repente alguém entra sem bater, que se diga de passagem que é uma falta de educação.

— Odeio quando você não bate na porta — resmungou Kitt olhando pro café.

— Ah Hello Kitty sabe que não gosto dessas formalidades.

Mas... Essa voz... Não pode ser...

Lá estava ele, num terno azul-real, rosto quadrado, seus cabelos haviam crescido consideravelmente, ele tinha uma barba rala no rosto e parece que com a idade ele ficou mais gato...

— Julie? — questionou surpreso.

— Simon — saiu como um sussurro.

Meus olhos se manteram fixos nos dele, como... uma conexão, inigualável. Eu não sei porque nem como, mas meu cérebro agia de modo seguro dizendo:

Desvia

Desvia

Desvia

Enquanto meu coração, que só para constar é traidor, dizia:

Não desvia

Não desvia

Não desvia.

E o pior de tudo é que EU não queria desviar. Mas afinal eu estou de que lado?! Ah sim, eu sou do time do cérebro.

— Vocês se conhecem? — Kitt questionou quebrando o momento, conexão entre nós. Agradeci mentalmente.

— Sim — respondeu Simon.

— Não — Respondi.

— Sim ou não?

— O melhor amigo panaca dele é casado com a minha melhor amiga.

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