Entre Dor e Amor
Entre Dor e Amor
Por: Mellody_981
Prólogo

JULIE

A chuva estava tão forte que fiquei com medo dos pneus derraparem na estrada, então decidi diminuir a velocidade, quando de repente um som irritante que apontava que eu havia ficado sem combustível.

— Não, não, não, nãooo — praguejei irritada e encostei o meu carro na beira da estrada.

Hana, minha, pastor alemão que até então estava jogada no banco de trás acordou com o barulho.

— Ta tudo bem, meu amor, vou tirar a gente daqui — acariciei o seu pelo.

O pior de tudo, era que eu estava no meio do nada. Reclamei internamente por ter esquecido de colocar gasolina. A estrada está deserta, ainda bem que existe o telefone nessa época, tenho que agradecer ao Martim Cooper por ter inventado o celular e mais ainda ao Steve Jobs por ter criado o meu amor lindo chamado iPhone. Beatrice vai ter que me tirar dessa, liguei para o seu celular e no segundo toque ouvi a sua voz sonolenta.

— Porra Julie, você me ligou às três da madrugada?! Sabe o quão é cansativo ter que trabalhar e cuidar de uma criança? — reclamou com uma voz rouca.

— Eu não ligaria se não estivesse em apuros, o meu carro meio que acabou a gasolina — falei cuidadosa, escutei Beatrice bufar do outro lado da linha.

— Manda a localização que eu já to indo — e desligou o telefone na minha cara. Vaca.

Observei a chuva cair como se estivesse com raiva, fazendo aquele barulhão, pelo menos apagou perto de Los Angeles, mas agora terei que ouvir Beatrice dando um discurso que eu deveria ter mais responsabilidade e tudo mais, até me assusta por Beatrice ter mudado desse jeito, quero dizer, ela ficou mais madura, sensata, culpa daquele panaca que roubou a minha amiga de farra.

Lembro que aos fins de semanas nos encontrávamos para ir às pubs, a gente se divertia à beça, agora não tenho ninguém para ir farrear, vida dura essa minha.

O carro de Beatrice parou na frente do meu carro. Era um Range Rover branco, ser mãe deve ser difícil, Beatrice preferia descapotável. Tranquei o meu carro levando apenas a minha bolsa como os documentos, os cartões de crédito, o celular e a Hana. Entrei no carro de Beatrice correndo tentando fugir da chuva.

— Como vai ficar o meu carro? 

— Não se preocupe, Zack vai chamar o guincho — me tranquilizou — que tipo de pessoa responsável faz quarenta e três horas de carro e esquece de colocar a gasolina?! — e vai começar o monólogo — é sério Julie, é bem perigoso ficar na estrada assim, ainda mais de noite, e se eu não tivesse atendido? Não pode…

Enquanto ela falava um monólogo sem fim, observei as características do seu novo carro, por dentro era mesmo um sonho e cheirava até a novo, atrás havia uma cadeirinha de bebé, posso apostar que essa cadeira pertence ao meu afilhado, no vidro de trás tinha um adesivo colado escrito "Baby on Board" (Bebé a bordo). Tudo no carro da minha amiga tinha mudado drasticamente, me pergunto se um dia conseguiria ser múltipla função como a minha amiga.

— ... Além disso, dormir é essencial, viajou quarenta três horas seguidas? Seria muito melhor se tivesse vindo de avião.

— Eu tinha algumas coisas para trazer, além disso, prefiro viajar no conforto do meu carro, e eu fui parando em hotéis para dormir — me defendi.

— Então por que só me avisou ontem que vinha? — tentou soar uma pergunta, mas falhou parecendo ofendida.

Eu fiquei muda por um momento. Talvez não tenha avisado porque Beatrice constituiu uma família e eu era só a sua melhor amiga, nem estávamos nos falando direito visto que ela estava bem... ocupada no seu trabalho e com o Eliot, já eu estava ocupada fazendo minha transferência, visto que vou continuar trabalhando para as empresas Emvergarden's Interprise, só vai mudar de prédio e chefe, adiante, eu estava ocupada, depois da faculdade, todos nos separamos. 

— Desculpa, só esqueci — foram minhas únicas palavras e Beatrice se calou mesmo eu podendo ver nos seus olhos que a resposta não a convenceu. 

Contar a ela sobre o quanto eu estou triste de "estar" sozinha estava totalmente fora de cogitação, não que eu estivesse com inveja, não, nem sei se quero procurar um amor, eu só queria curtir a vida, mas minha parceira se converteu em mulher compromissada, e mesmo muitos dizendo que isso não mudava nada, eu dscordei veemente porque eu sei que Beatrice tinha responsabilidades, uma família e eu sou realista, eu não participava dessa família mesmo que quisesse, então fiz o que achei mais sensato, eu me afastei. Queria que ela aproveitasse o seu felizes para sempre.

E eu... ficaria bem sozinha com Hana, já estava até de certa forma acostumada, durante toda a minha vida sobrevivi assim, não era agora que haveria mudanças. Há coisas que gosto de guardar para mim, ela não tinha a ver com os meus problemas. De certa forma, eu sentia falta dos tempos de escola, quando éramos adolescentes idiotas e não tínhamos previsão para o futuro, era apenas diversão e eu nunca estava sozinha, agora sou eu e Hana. É realidade.

Beatrice dirigia calmamente, não pude deixar de rir ao vê-la usando uma calça de moletom e uma t-shirt branca, antigamente ela diria que isso era um afronto contra a moda, que temos que estar bonitas mesmo quando dormimos. Quando Beatrice se olhou, ela logo entendeu o motivo de eu estar rindo e acabou rindo junto comigo.

— Estou feliz por estar de volta — declarou e eu sorri amarelo.

Mais à frente na estrada, avistei uma placa dizendo "Welcome to Los Angeles" (Bem vindos a Lós Angeles). 

Realmente voltar não foi fácil. Viver em Cambridge foi como fugir da realidade, é claro que eu tinha responsabilidades, alguns colegas da faculdade e do trabalho. Foi bom, mas por algum motivo, voltar, foi  a decisão mais acertada. Além disso, tenho um afilhado para mimar, quero fazer jus do meu trabalho de madrinha.

— Bom... Chegamos — Beatrice parou o carro em frente à sua grande casa.

Vim a essa casa poucas vezes, na maioria das vezes, ficava em casa dos meus pais ou num hotel. Beatrice girou a chave e assim entramos, as luzes estavam todas apagadas mostrando que todos dormiam, Beatrice ligou um abajur da sala apenas para dar um pouco de luz, havia brinquedos espalhados por toda a parte, mamadeiras nas bancadas, rabiscos em folhas na geladeira, uma cadeira de bebé para comer, uma casa colorida, na verdade, um típico lar de família.

— Bom, eu vou dormir, você pode ficar no quarto de hóspedes, só toma cuidado com os tapetes por causa da Hana — avisou e eu assenti.

Beatrice subiu as escadas parecendo um zumbi e eu decidi sentar no sofá, Hana subiu também e deitou a sua cabeça no meu colo, aproveitei para mexer os meus dedos entre o seu pelo, não estava muito cansada, acho que estava mais aérea do que qualquer coisa. Talvez voltar para Los Angeles me fez pensar nos bons e maus momentos em que tive nesse lugar. Mais nos maus do que nos bons.

Talvez ter voltado, não tenha sido uma boa ideia...

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