Duke surpreendeu Neelam quando ela deixava o colégio.
— Eu não acredito que ia embora sem se despedir de mim. Que coisa feia!
— O que você quer? — Neelam se virou, se certificando que Gillian não estava por perto para lhe arrumar mais confusão.
— Você mora longe? Posso te dar uma carona. — Disse Duke.
— Não quero que você saiba o meu endereço. — Falou Neelam.
— Qual o problema? Sua casa é tão ruim assim? — Disse Duke. — Já estive em lugares que fazem o inferno parecerem um paraíso.
— Eu agradeço a sua gentileza, mas minha mãe me mataria se me visse ao lado de um… Garoto como você. — Disse Neelam tentando não ser tão grosseira.
— Eu posso te deixar na esquina. — Insistiu ele.
— Sinto muito. Eu sou claustrofóbica. — Disse Neelam se afastando dele e indo embora.
— Mas eu dirijo uma moto. — Disse Duke a seguindo.
— Não moro longe. — Disse Neelam caminhando rapidamente.
— Ok. Podemos caminhar. — Disse Duke. — Merlyn sempre diz que preciso de um pouco de caminhada, que estou fora de forma. Acredita nisso?
— Sério? O que você quer de mim? — Neelam parou e o encarou.
— Killian encheu o meu saco por sua causa. — Disse Duke.
— Eu juro que mantive o nosso trato. Não disse nada. — Falou Neelam temendo que ele fizesse alguma coisa a Ken.
— Nada? Um beijo é nada para você? — Perguntou Duke a encarando.
Neelam não respondeu.
Nunca se interessara de verdade por um garoto em sua vida. Sempre preferira ficar na sua, e mesmo quando um garoto bonito se interessava por ela, fingia que não era com ela. De alguma forma, ela sentia que o amor não fora feito para ela.
Duke chegou mais perto dela e agarrou sua cintura com uma mão. Com a outra mão, acariciou o rosto dela. Neelam sentiu um calor com a proximidade. Nunca estivera tão próxima de um garoto antes. Nervosa, ficou parada, sem saber o que fazer. Quando os lábios de Duke tocaram os dela. Por um momento, ela desejou ardentemente ceder e corresponder aquele beijo, mas se conteve e empurrou Duke.
— Não me toque novamente! — Ela disse brava e foi embora.
— Eu não prometo nada. — Duke elevou a voz para que ela o ouvisse e riu.
† † †
Merlyn tirou seus sapatos e seu sobretudo. Desabotoou sua camisa e a tirou, expondo sua pele albina e a tatuagem de asas angelicais que tinha em suas costas. Foi até a sacada e olhou para o céu nublado. Suspirou e abaixou a cabeça, encontrando os olhos azuis da garota de aparência frágil que o espiava por uma fenda entre as cortinas, na casa da frente. Gianina Velardi. A garota sempre seria sua fã número um, sem dúvida. Ninguém, nunca seria tão obcecada por ele como ela era.
Os cabelos naturalmente louros – quase brancos – dele se agitaram ao vento, conferindo um ar feérico aquele belo rosto e, em especial aqueles olhos. Gianina amava os olhos dele porque o tornavam ainda mais especial. O direito era azul e o esquerdo era verde. Merlyn não gostava de sua heterocromia e sempre tentava disfarçá-la, usando lentes.
Merlyn acenou para Gianina e ela se escondeu, rindo, como uma fã apaixonada. Ele recuou, deixando a sacada.
† † †
Neelam tomou um banho e após se trocar, colocou um casaco amarelo de lã que pertencera a sua irmã mais velha. Deitou-se em sua cama e encarou o porta-retratos em cima do criado-mudo, admirando o sorriso de sua irmã. Tudo o que ela queria era se parecer com ela, mas para a sua decepção, ela falhava miseravelmente. Nunca seria perfeita como a irmã.
O som da guitarra
do vizinho invadiu seu quarto, a consolando de alguma forma, e ela sorriu. Não tivera a chance de conhecer seu vizinho, mas desde que se mudara, o ouvia tocar e tentava imaginar como ele era… Talvez, loiro, rebelde e sexy como Kurt Cobain? Ou moreno com cabelos longos, todo vestido de preto como um típico metaleiro, ou… Ruivo com um sorriso malicioso.
— Deus me livre! — Neelam se virou, afundando a cabeça no travesseiro.
Os próximos dias transcorreram naturalmente no colégio. Neelam evitou cruzar o caminho de Gillian e também o de Duke, preferindo passar mais tempo com Kendall. Ela o convidou para jantar em sua casa e ele aceitou.
Neelam vestiu um vestido branco estampado com bolinhas vermelhas, calçou um par de sapatilhas e pôs uma tiara vermelha na cabeça. Ela não gostava de usar muita maquiagem, por isso, sempre optava por um batom de cor clara ou um brilho labial.
Ao ouvir a campainha tocando, desceu as escadas correndo. Quando chegou na sala, sua mãe estava recebendo Kendall e uma garota que ela ainda não conhecia. Neelam se aproximou exibindo um sorriso tímido.
— Boa noite, Neelam? Espero que não se importe por eu ter trazido minha irmã, Juno. — Disse Kendall, sem graça.
— Não. Não me importo. — Disse Neelam, disfarçando.
— Hã, oi? Estava ansiosa para conhecer a amiga do meu irmão! — Falou Juno sorrindo.
— É um prazer. — Neelam disse.
— Bem, eu preciso voltar à cozinha, mas fiquem à vontade, crianças. — Mikaela disse antes de deixá-los a sós.
— Por favor, sentem-se? — Disse Neelam a Kendall e Juno.
Eles se sentaram e os três se encararam em silêncio por um tempo, até Juno quebrar o gelo.
— Tem uma casa linda!
— Obrigada! — Respondeu Neelam.
— E o seu jardim é um sonho! Invejo você! Ken e eu moramos em um apartamento minúsculo. Não é a mesma coisa que morar em uma casa grande com porão e jardim. — Falou Juno.
— Nós temos um gato, uma tartaruga e alguns peixes. — Disse Kendall.
— Oh, sim! Azazel, o gato. E Amy, a tartaruga. — Falou Juno.
— Azazel?! — Repetiu Neelam encarando Juno curiosa. Por que alguém poria o nome de um demônio em um gato?
— Minha irmã gosta de coisas sobrenaturais, como bruxas e demônios. — Disse Kendall, ao perceber que Neelam parecera pouco à vontade de repente.
Juno revirou os olhos.
— O que ele quer dizer é que eu sou uma adepta da Kaos Magick! — Falou Juno.
— Acho que já li algo a respeito uma vez. Vocês trabalham com tulpas, é isso? — Disse Neelam.
— Servidores Astrais é o termo correto. — Falou Juno. — Deveria experimentar essa forma de magia para atrair coisas boas para a sua vida.
— Como o quê, por exemplo? — Perguntou Neelam.
Juno sorriu e respondeu:
— Isso o que você secretamente deseja.
Neelam sentiu um arrepio. Aquela garota era estranha e quando a encarava, era como se pudesse ver sua alma.