Isabella chegou cedo novamente no terceiro dia, determinada a manter o ritmo. Cada vez mais, sentia que trabalhar para Ethan Blackwood era como caminhar em uma corda bamba: a menor falha poderia ser desastrosa. Ainda assim, havia algo nesse desafio que a fazia querer provar seu valor, tanto para ele quanto para si mesma.
Assim que se acomodou em sua mesa, Claire se aproximou com uma expressão séria. — O Sr. Blackwood pediu para encontrá-lo na sala de reuniões às 8h em ponto. Ele quer discutir um novo projeto confidencial. Isabella assentiu, ajeitando os papéis em sua mesa. — Alguma dica sobre o que se trata? Claire deu um sorriso quase conspiratório. — Não faço ideia. Quando ele diz que algo é confidencial, só saberemos o mínimo necessário. Mas boa sorte. Pontualmente às 8h, Isabella entrou na sala de reuniões. Ethan já estava lá, folheando um relatório, com a mesma postura impecável de sempre. Ele ergueu os olhos quando ela entrou, gesticulando para que se sentasse. — Bom dia, Srta. Martins. Espero que esteja pronta para lidar com algo um pouco mais complicado hoje. — Sempre, senhor — respondeu ela, com uma confiança que, na verdade, disfarçava a ansiedade crescente. Ethan colocou um tablet sobre a mesa, revelando uma apresentação detalhada. — Este é o nosso projeto de expansão no mercado asiático. É um movimento arriscado, mas necessário para mantermos nossa posição de liderança. Preciso que você organize toda a logística para a reunião com nossos parceiros em Tóquio. Isso inclui reservas de viagem, preparação de documentos e um relatório detalhado sobre a concorrência local. Isabella fez anotações rápidas enquanto ele falava. — Quando é a reunião? — Sexta-feira. — Ele a observou por um momento. — Isso dá três dias para você fazer o impossível. Ela sorriu levemente, encarando o desafio. — Não se preocupe, senhor. O impossível é minha especialidade. Ethan arqueou uma sobrancelha, quase sorrindo. — Veremos. A manhã passou em um turbilhão de tarefas. Isabella mergulhou nos detalhes do projeto, trabalhando em estreita colaboração com diferentes departamentos. Cada ligação e e-mail parecia trazer uma nova camada de complexidade, mas ela não desistiu. Ao meio-dia, Ethan apareceu ao lado de sua mesa, interrompendo-a no meio de uma ligação. — Vamos almoçar. Era uma ordem, não um convite, e Isabella rapidamente finalizou a chamada antes de segui-lo. Eles foram para a cafeteria do prédio desta vez, onde Ethan escolheu uma mesa em um canto reservado. — Como está progredindo com o projeto? — perguntou ele, enquanto analisava o menu. — Estou finalizando o cronograma e já revisei os documentos principais. Ainda preciso ajustar alguns detalhes sobre os concorrentes, mas acredito que terei tudo pronto até amanhã. — Impressionante. A maioria das pessoas teria entrado em pânico com tantas demandas. — Acredito que o pânico não resolve problemas, senhor. Ethan riu levemente, algo raro e inesperado. — Você está certa. Mas quero que saiba que não é apenas o trabalho técnico que importa aqui. Também estou observando como você lida com a pressão. Isabella percebeu que havia mais naquela conversa do que parecia. Ethan não estava apenas avaliando sua competência; ele estava testando seus limites. — E como estou indo até agora? — perguntou ela, em um tom que era ao mesmo tempo profissional e ousado. Ethan a encarou, seu olhar intenso como sempre. — Você está se saindo melhor do que eu esperava. Havia algo em sua voz que fez o coração de Isabella acelerar, mas ela rapidamente desviou o olhar para não deixar transparecer nada. De volta ao escritório, Isabella trabalhou até tarde, revisando cada detalhe do relatório. Quando o relógio marcou 20h, ela ainda estava na mesa, ajustando os últimos gráficos. Foi quando ouviu a porta da sala de Ethan se abrir. — Ainda aqui? — perguntou ele, com um tom que misturava surpresa e aprovação. — Só quero garantir que tudo esteja perfeito para amanhã. Ethan caminhou até sua mesa, parando ao lado dela. Ele olhou para o computador, analisando o que ela havia feito. — Isso está muito bom. Na verdade, está melhor do que eu esperava. O elogio inesperado fez Isabella corar levemente. — Obrigada, senhor. Ethan inclinou-se levemente, apoiando as mãos na mesa, e por um momento parecia menos o chefe exigente e mais um homem comum, cansado, mas curioso. — O que a motiva, Isabella? Por que trabalhar tão duro? A pergunta a pegou de surpresa. Ela hesitou por um instante antes de responder. — Acho que quero provar que sou capaz. Não apenas para os outros, mas para mim mesma. Ethan assentiu, como se entendesse exatamente o que ela queria dizer. — Isso é bom. Mas não se esqueça de que é preciso saber quando parar. — Talvez seja o caso de o senhor dar o exemplo, então — respondeu Isabella, antes que pudesse pensar nas consequências. Ele ergueu uma sobrancelha, claramente surpreso com a ousadia, mas não parecia irritado. Pelo contrário, havia um leve sorriso nos cantos de seus lábios. — Touche. Enquanto Isabella terminava de arrumar sua mesa para ir embora, Ethan permaneceu parado ali, observando-a em silêncio. A proximidade entre os dois criava uma tensão que parecia crescer a cada segundo. Quando ela finalmente pegou sua bolsa, ele deu um passo para trás, abrindo espaço para que ela passasse. — Boa noite, Srta. Martins. — Boa noite, Sr. Blackwood. Mas, quando Isabella estava prestes a sair, ele chamou seu nome. — Isabella. Ela se virou, curiosa e apreensiva. — Sim, senhor? Por um momento, Ethan pareceu considerar suas palavras, como se estivesse pisando em território desconhecido. — Apenas... bom trabalho hoje. O comentário era simples, mas o tom tinha algo de pessoal que fez Isabella sorrir levemente. — Obrigada, senhor. Ela saiu do escritório com o coração batendo mais rápido do que gostaria de admitir. Ethan Blackwood não era apenas exigente; ele era enigmático. E Isabella sabia que, se não tomasse cuidado, poderia acabar cruzando uma linha que não deveria. Enquanto o elevador descia, ela prometeu a si mesma manter as coisas estritamente profissionais. Mas, no fundo, sabia que isso seria mais fácil de dizer do que fazer.