(Ponto de Vista de Serena)Estacionei em frente à casa de Matt, sentindo o estômago se contrair ao avistar a ambulância parada diante da calçada e alguns vizinhos reunidos, murmurando entre si com expressões tensas e preocupadas.Dentro, o ambiente estava carregado, pesado por um silêncio inquietante. Os médicos estavam ao lado da mãe de Matt, que repousava em sua cama, frágil e pálida, com a respiração superficial. Matt estava perto, rígido no canto, com as mãos apertadas na parte traseira de uma cadeira, e o maxilar tenso. Ele não estava chorando, mas eu podia perceber que estava se segurando, mal conseguindo manter-se firme.Ele me viu entrar e, por um breve momento, sua expressão se suavizou, mostrando um brilho de alívio nos olhos. Caminhei até ele e, ao tocar levemente seu braço, ofereci um lembrete silencioso de que ele não estava sozinho.Um dos médicos se afastou, e a mãe de Matt me notou. Ela sorriu, com aquele calor familiar brilhando através de tudo, apesar da situação.— S
(Ponto de Vista de Serena)Meu rosto estava encharcado, mas as lágrimas não paravam. Matt estava sentado à minha frente, olhando fixamente para o vazio, como se sua mente estivesse em um lugar distante.— Ela não queria um funeral. — Disse ele em voz baixa. — Foi escolha dela. Só uma cremação... Algo simples. — Engoliu em seco, ainda evitando meu olhar. — Disse que era melhor assim… Menos complicações.Era difícil imaginar não ter um adeus formal, algo para honrar a Sra. DuPont.— Você tem certeza disso, Matt?— Sim. Ela me fez prometer. — Respondeu ele, soltando um suspiro fraco. — Além disso... Todos os parentes e amigos dela ainda estão na França. Não faria sentido trazê-los para cá, e... Ela não queria que fizessem a viagem.— E... O que vamos fazer a seguir? — Perguntei.— Não tenho certeza. Provavelmente só vou até o crematório, assinar os papéis e... Esperar.Eu não queria pressioná-lo, mas parecia errado deixar tudo acabar assim.— Matt... — Falei devagar. — Você tem certeza de
(Ponto de Vista de Bill)Naquela noite, o sono simplesmente não vinha. Serena estava com um cara que parecia ter saído direto de um ringue de boxe - ou, quem sabe, de um anúncio de revista. Ombros largos, cintura estreita, braços que pareciam moldados para esmagar aço. E ainda por cima, mais jovem - pelo menos uns cinco anos, talvez até dez.Me virei, socando o travesseiro, tentando me ajeitar… Mas não ajudou. Minha mente insistia em voltar para a forma como ela o olhava… Ela parecia relaxada e à vontade.Eu tentava me convencer de que ele podia ser só um amigo. Talvez eu estivesse exagerando... Vendo coisa onde não havia.Mas havia algo na maneira como ele olhava para ela que fazia o sangue ferver nas minhas veias.Enterrei o rosto no travesseiro, como se isso bastasse para calar os pensamentos que me perseguiam. Mas eu sabia - o sono não viria. Eu ficaria ali, desperto, até o amanhecer.Esse, afinal, era o preço que eu tinha que pagar por todas as decisões idiotas que tomei ao longo
(Ponto de Vista de Serena)Sempre imaginei que uma arma fosse mais leve, mas aquela tinha um peso inesperado, sendo firme e sólida em minhas mãos. Logo, lancei um olhar para Matt, que estava próximo, atento a cada movimento meu.O estande de tiro ressoava com estalos e estampidos distantes, e mesmo sabendo que estávamos em um lugar seguro, um formigamento nervoso percorreu minha espinha.— Vamos começar pelo básico. — Disse ele, dando um passo mais perto. Sua mão se apoiou sobre a minha, ajustando meu aperto. — Segure firme. Viu aquele alvo?Assenti, estreitando os olhos na direção do alvo de papel ao fundo, o centro, desafiador, me encarando. Não queria me envergonhar na frente dele, mas minhas mãos estavam desajeitadas e tensas. Os dedos de Matt pressionaram os meus, ajustando minha pegada, estabilizando-me. O toque dele parecia... Ancorante. Ele exalava um perfume suave de colônia e couro, como se tivesse saído de um elenco de filme. E a forma como ele se inclinava, com o braço roça
(Ponto de Vista de Serena)— O que aconteceu com você, Matt?A pergunta saiu antes que eu pudesse suavizá-la. Ainda estava tensa com a forma como ele disparava, tiro após tiro, atingindo o alvo com uma energia carregada de raiva que parecia mais do que um simples desabafo. Ele sempre foi calmo, sendo até um pouco arrogante às vezes. No entanto, naquele momento… Aquilo era algo diferente, algo mais sombrio.Ele me olhou, com a expressão saindo da defensiva para algo mais culpado.— Não é o que você está pensando. — Disse ele, emitindo uma voz baixa. — E me desculpe. Sério. Não era minha intenção que isso saísse de controle.Cruzei os braços, arqueando a sobrancelha.— Então o que seria? Porque eu te disse desde o começo que não queria que isso fosse uma desculpa para você apenas... Descarregar toda sua raiva.Parei, observando seu rosto, buscando alguma pista.— Você não está aqui atirando só para aliviar a dor pela sua mãe, está?Ele hesitou, parecendo querer negar, mas acabou balançan
SerenaMeu Marido e a sua linda assistente Doris estavam rindo e comendo como se eles estivessem no primeiro encontro deles. Mas a piada era eu…Eu estava ali, a mulher do Bill, assistindo eles do outro lado da sala, cuidando da minha barriga rasa que abrigava a pequena vida.Claro, Bill não sabia ainda não sabia do bebê. A notícia ainda estava fresca na minha mente, mal tinha algumas horas.Era suposto ser um encontro para um jantar familiar, mas eu nunca era bem-vinda, mas sim uma intrusa.Assistindo o Bill levando o pedaço de carne cortada e dando para a Doris, a melhor amiga dele da juventude que o conhecia melhor que ninguém, eu acho que estaria a estragar a diversão deles se contasse que estava grávida.— Doris, o Bill mencionou que você está estudando para ter um mestrado em negócios e administração, por que você não nos conta um pouco de como está indo? — Helena, a mãe do Bill perguntou. Eu sabia que aquele jantar não era só para colocar a conversa em dia. Helena queria exibir
Ponto de vista da SerenaÉ engraçado como a adrenalina pode fazer você esquecer da dor por um tempo.Ao sair do hotel, meu joelho esquerdo começou a latejar de novo.— Bom, pelo menos saí de lá, — murmurei para mim mesma.Ainda ouvia a confusão lá dentro. A família do Bill estava cuidando da Doris. Nossa, estavam exagerando. Ela só havia caído, não era como se tivesse perdido uma perna. Enquanto isso, eu sentia como se fosse perder a minha perna a qualquer momento.Foquei-me na respiração para aliviar a dor. Distraída, esbarrei num homem que vinha na direção oposta. O impacto leve me fez perder o equilíbrio.— Ops, desculpe.Ele percebeu que eu estava desequilibrada e segurou no meu braço para me ajudar.— Cuidado! Hmm... acho que já te vi antes. Ah! Você é a Serena, a esposa do Bill, certo?Ótimo, mais um familiar que irá me odiar. E eu achando que a noite não podia ficar ainda melhor.— Ah... sim, sou eu.Curiosa para saber quem ele é, olhei para o rosto. O tempo não deixou marcas m
Ponto de Vista da SerenaPor um segundo, pensei que o Bill realmente se importasse com a minha perna. Mas não, ele voltou a ser um babaca completo.— Eu tropecei fora do hotel e... — Comecei a explicar.— Sabe de uma coisa? Não interessa. Só vá pedir desculpas para a mamãe e para a Doris — Ele disse, sem sequer me deixar terminar.E lá está ele de novo, me cortando como se eu fosse apenas um ruído qualquer. Aquilo era tão ridículo. Por que eu continuava tolerando ele me tratando como lixo?Eu estava prestes a dizer ao Bill que ele ia ser pai, mas me controlei. Não podia deixar nosso filho crescer nos vendo brigando o tempo todo. Não era assim que relacionamentos saudáveis deviam ser. Honestamente, comecei a achar que talvez fosse melhor criar nosso bebê sozinha.Baixei a cabeça e sussurrei, — Quero o divórcio.Já estava dito — Não tinha mais volta. Mas, estranhamente, me senti mais leve, como se estivesse prendendo a respiração por tanto tempo e, finalmente a pudesse soltar.O silênci