Eu nunca perdoarei meu pai. Essa era uma certeza. A segunda é que eu nunca me arrependerei de minhas escolhas.
Isabell - 1496
— Pai, o que você está fazendo? - Perguntei aos prantos, enquanto alguns guardas reais me arrastavam para o calabouço.
— Você irá saber logo Isabell, afinal, você sabe muito bem o que você fez. — Disse ele, friamente, ao mesmo tempo que mandava seus guardas me levarem para uma sala escura, utilizada para interrogar presos.
Um dos guardas me jogou ao chão e senti a dor do impacto, já que vestia apenas uma camisola de alças, branca e de algodão.
— Agora você receberá sua punição, vadia inútil! - Gritou meu pai, fazendo meu corpo todo tremer e mais lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
— Mas… Por quê? - Perguntei com a voz embargada.
— Você se deitou com um mordomo Isabell, você deixou de ser pura e agora não terei uma aliança valiosa por sua culpa, sua vagabunda! - Senti a mão de meu pai apertar meu pescoço a cada palavra dita e tudo que pude fazer foi chorar.
— Eu não ligo para suas alianças estúpidas, eu só quero ele e você me privou disso! - Falei, ofegante, devido ao aperto em meu pescoço.
— Sua vadia! - Meu pai gritou ainda mais alto, desferindo um tapa em meu rosto.
— Tragam ele! - Continuou ele, dando ordens aos guardas.
Minutos depois, eles voltaram, trazendo com eles meu amado Kennay, acorrentado, machucado e descalço,o jogando em minha frente.
— Bell, meu amor, o que fizeram com você? - Disse Kennay, tentando se aproximar de mim, porém sendo impedido por um dos guardas.
— Soltem ele! Parem com isso! - gritei, desesperada. Isso não podia estar acontecendo, meu pai não podia machucar ele assim!
— Você escolheu isso, Isabell e ele morrerá por sua culpa. - Afirmou meu pai, me olhando friamente.
Engatinhei lentamente até Kennay, mas meu pai me puxou pelos cabelos, arrancando um gemido de dor de meus lábios.
— Por favor pai, deixa ele ir, faça o que quiser comigo, me mate se for o caso, mas não o machuque.- Supliquei, com as lágrimas incessantes molhando meu rosto.
— Tudo bem meu amor, não foi uma escolha somente sua, se for assim, eu também sou o culpado. eu escolhi te amar, eu escolhi entregar meu coração a você. - Disse Kennay, me encarando profundamente com os lindos olhos azuis que tanto amo.
— Silêncio! - Gritou meu pai, enquanto acertava um chute na barriga de Ken. Meu coração se apertou ainda mais, eu não estava suportando ver aquilo. — Mandem chamar o vampiro e a bruxa imediatamente! - Ordenou e assim os guardas o obedeceram, no entanto, eu estava perplexa, afinal, desde quando vampiros e bruxas existem?
Minutos depois, o tal vampiro apareceu com a bruxa ao seu lado.
— Me chamou majestade? - Disse o homem, enquanto sorria perversamente.
— Façam o que tem que fazer. - Dito isso, meu pai saiu da sala.
— Vamos lá boneca, seu pai me pagou uma boa quantia para fazer algo tão simples... - Disse o vampiro, se aproximando de mim.
Me encolhi contra uma das paredes e fiquei em silêncio. Eu não sabia o que meu pai havia combinado com ele e aquilo me amedrontava.
Em uma velocidade sobrenatural, o vampiro me ergueu pelo pescoço, prendendo-me contra a parede e assim, ele mordeu o próprio pulso forçando o mesmo contra meus lábios. Tentei me soltar, mas meus esforços foram em vão e acabei ingerindo aquele sangue nojento. Num piscar de olhos, senti suas mãos em meu pescoço e antes que pudesse raciocinar, aquele monstro quebrou meu pescoço e tudo escureceu.Acordei horas ou dias depois, não sabia com clareza. Não fazia ideia do que estava acontecendo, meu corpo doía, minha boca estava seca, minha garganta ardia e eu estava sentindo muita sede, uma sede horrível, que eu não conseguia controlar.
— Finalmente você acordou, loirinha! - Resmungou a bruxa. Porque eles ainda estavam ali?
— O… Que...Aconteceu comigo? - Perguntei assustada.
— Ah, sua tola, não é óbvio? Agora você é uma vampira! - ela meneou a cabeça com desdém. - De qualquer modo, agora vem minha parte favorita, o feitiço! - Exclamou a mesma.
— Que merda vocês estão fazendo comigo? Onde está o Kennay? - Exclamei, me levantando com dificuldade. Nesse momento, percebi que minhas mãos já não estavam mais presas.
— Seu namoradinho? Bem… Ele está aqui ao meu lado. - Disse a bruxa, segurando Kennay pelo braço.
— Bell! Céus, eu pensei que você estava morta! Aquele homem… Ele… Ele… - Kennay falava com lágrimas nos olhos e vê-lo assim era uma tortura. — Calados! Eu tenho um feitiço a fazer! - Resmungou a bruxa.
— Feitiço? Que feitiço? - Perguntei desesperada.
A bruxa se irritou e me lançou contra a parede e, no mesmo instante, senti minhas costas arderem. Tentei me levantar, mas não consegui, eu estava fraca, exausta, confusa e com medo.
— Monstro, pare de machucar ela! - Gritou Kennay, tentando se soltar.
A bruxa o ignorou e começou a recitar um feitiço em uma língua estranha, senti a magia dela percorrendo meu corpo e a sensação me causava arrepios e calafrios… E por fim, ela me encara e sorrindodiabólica.
— Quais são suas últimas palavras para seu amado plebeu? - Disse ela, com aquele sorriso macabro ainda em seus lábios.
— Por favor, não faça isso, eu lhe imploro! - Supliquei novamente pela vida de Kennay.
— Resposta errada! - a bruxa respondeu, enquanto cravava uma adaga no peito de Ken.
Ele caiu no chão e sangue começou a escorrer por sua boca. Meu mundo caiu, meu coração se quebrou e um grito saiu de meus lábios.
— Não! Não! Kennay! - Corri até ele, porém, seu sangue... Seu sangue estava me atraindo. Me afastei dele em prantos. Eu não sabia o que fazer, minha garganta doía, de uma hora para a outra, meus dentes caninos começaram a ficar pontudos, machucando meus lábios. Eu precisava beber sangue, mas eu não faria isso, eu não poderia fazer isso.
— Bell, eu… eu te amo! - Disse Kennay com dificuldade, devido ao ferimento e ao sangue que escorria de sua boca.
— Não se preocupe, Isabell, a cada 100 anos você o encontrará e um ano depois o verá morrer e nunca, nunca conseguirá impedir sua morte. A partir de agora, essa é a sua maldição. - Dizendo isso, a bruxa saiu dali, deixando-me com o corpo de Kennay e a sede, a maldita sede pelo sangue do homem que eu amei.