Occisor II

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      LÁGRIMAS DE ÓDIO

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No exato momento em que Mari abriu a boca para começar a contar a verdade para o jovem sentando ao seu lado na cama, um vento gelido e forte soprou abrindo as janelas de madeira do pequeno quarto em um baque alto assustando Occisor, Mari se levantou em silêncio e fechou as janelas passando o trinco.

Mais uma vez respirou fundo, apesar de muitos a enxergarem como um ser frio e sem coração ( e realmente ela não tinha um), ela se preocupava demais, tanto com Occisor quanto com Margareth. Eles eram a sua família, e por eles era capaz de tudo.

— Você sabe o que é uma velut luna? — Mari questionou ainda de costa para Occisor.

— Sim, li em um dos livros de Margareth que a fêmea com esse título é a companheira do macho alfa — em sua voz dava pra sentir o orgulho. Isso era nítido para qualquer um, Occisor amava dar uma de inteligente e ser o destaque.

— Então você sabe bastante sobre a raça dos licantropos, não é? — finalmente voltou a caminhar retornando para a cama e sentando ao lado do menino.

— Não muito, Margareth disse que aquilo não era livro para a minha idade, discordei, mas ela não deixou eu ler mais nada, aquela chata! — fez bico e Mari segurou a vontade de rir na cara emburra do pequeno.

— Entendo, você alguma vez já se perguntou por que gosta de comer apenas canes mal passada, quase crua? 

— Eu sei o porquê, é porque elas são deliciosas! O que eu não entendo é o por quê nem você e nem a Margareth gostam de comer essas iguarias. Não tem refeição melhor! Vaja como sou forte! — estufou o peito e cruzou os braços, contudo, em menos de três segundos seus braços caíram, um em cada lateral de seu corpo — Mas... O que isso tem a ver com a minha mãe?

Mari outra vez respirou fundo, e Occisor não deixou de observar isso, no lado de fora do quarto, Margareth estava com o ouvido colocado na porta. Ela também queria saber a verdade sobre Occisor, tudo o que ela soube quando ele chegou é que a mãe e a tia aviam sido assassinadas pelos cruéis lobos e que ela o salvou de ter o mesmo destino.

— Ela era uma velut luna — Mari falou sem rodeios e observou a reação do garoto a sua frente. Nada. Ele não disse uma palavra se quer, então ela continuou — O que eu vou lhes dizer, não é uma história bonita. Está pronto, ou prefere esperar um pouco mais?

— Estou pronto — ele falou firme, mas seus olhos estremecem.

— Muito bem, a cinco anos atrás, em um inverno rigoroso, a lua brilhava forte no céu e a velut luna deu a luz a um filhote. Os lobisomens quando geram suas proles, eles...

— Ficam em suas formas lupinas até que as crias cheguem aos seis meses de vida, e os filhotes só dão sinais de humanidade com esses seis meses - Occisor interrompeu Mari e completou a frase dela, já perdendo um pouco da paciência.

— Sim, você já sabia disso. No entanto, quando você nasceu...

Ela parou por alguns instantes, os olhos curiosos do garoto estavam nublados. 

"Será que ela já imagina o que pode ter acontecido? — Mari se questionou enquanto observava o garoto que a ouvia atentamente.

— O parto forçou a sua mãe a voltar para a forma humana e então você você nasceu, como se fosse um bebê com apenas sangue humano, sem nenhuma característica licantropiana.

— Por que?... — ele sussurrou, mas Mari ouviu e ignorou a pergunta. 

— Sua mãe foi acusada de traição e de envolvimento com os bruxos para esconder o cheiro do homem com quem ela traiu o seu companheiro. A execução ocorreu na mesma noite, mas ela lutou e fugiu, sua tia os ajudou a fugir, as duas acreditavam que a deusa o escolheu para algum propósito, e com isso. Uma luna cimex se rebelou contra toda a alcatéia e pagou o preço com a própria vida, mas infelizmente sua mãe se machucou muito e não conseguiu mais correr, impossibilitada de poder continuar te protegendo ela o confiou a mim, os lobos a encontraram e mataram, eles te rejeitaram e te caçaram.

— Qual... Qual era o nome da minha mãe e dá minha tia? — questionou com os olhos fechadas, não queria chorar, não na frente de uma mulher.

— Esmeralda, e a sua tia se chamava Rubi. 

— Como... Como elas eram? — sua fala saiu entrecortada.

Occisor estava com seus olhos fechados fortemente, o ardor era muito, as lágrimas queriam sair a qualquer custo.

— Sua mãe tinha longos cabelos negros e olhos verdes. Rubi tinha cabelos castanhos avermelhados e olhos âmbar. As duas eram extremamente lindas, fortes e...

— Nunca! — Margareth finalmente apareceu e abriu a porta em um estrondo — Nunca essa raça m*****a vai ser linda! São todos horríveis! Cruéis! Miseráveis...

— Cala a sua boca! — Occisor gritou e deitou de bruçu na cama. O ardor em seus olhou ficaram ainda mais forte.

— Vai chorar!? Aqueles desgraçados deixaram a sua tia com o corpo irreconhecível, a pisotearam até não sobrar nada de seu corpo e a sua mãe com a cabeça decepada, eles fizeram isso com a própria raça e só não fizeram o mesmo com você por causa....

— Já mandei calar a boca! — dessa vez ele gritou soltando logo depois um rosnado que fez os olhos de Margareth arregalarem e estremecerem. 

— Você só pode está brincando comigo, não acredito nisso Mari — Uma lágrima desceu solitária dos olhos de Margareth.

— Margareth, escute...

Margareth não deu ouvidos, ela virou as costas e correu pelo corredor. Mari olhou para Occisor e decidiu deixar ele ingerir toda a história, sozinho. Agora ela precisava encontrar Margareth.

Com sua velocidade vampirica que ultrapassava a velocidade do som, Mari em segundos alcançou Margareth e a virou de frente para si, ver as lágrimas em seus olhos a deixou triste, não queria vê-las lá, e na tentativa de não vê-las mentiu para Margareth dezendo que Occisor era simplesmente um bebê humano, que foi fruto de desonra na raça licantropa. Mas sempre soube que mais cedo ou mais tarde esse dia chegaria e que não seria fácil. Com cuidado ela elevou seu polegar até às bochechas da jovem e limpou as lágrimas.

— Por que você fez isso? Ele é um deles...

— Não Margareth, Occisor é um dos nossos, ele assim como você, é um Van Helsing. Os dois são meus filhos! 

Mari abraçou a jovem que chorou como se não houvesse amanhã. Depois de fungar muito ela se desvencilhou dos braços de sua guardiã.

— E se... Ele ficar igual aqueles monstros? E se ele...

— Nunca serei como nenhum deles! Eu vou matar aqueles monstros! Irei caça-los um por um, eu os rejeito, assim como fizeram comigo, farei muito pior com eles! — Occisor pronunciou cada palavra com os punhos fechados e tremendo.

Margareth se assustou, ela não tinha notado a presença do pequeno. Ela o olhou hesitante, mas logo qualquer dúvida foi extinta de sua mente. Dos olhos de Occisor não parava de cair lágrimas, mas a firmeza em seu olhar, era transparente o ódio.

— Conte comigo! 

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