Finalmente, saí daquele hospital. O dia de retornar para casa poderia ter sido ótimo, se Enrico não tivesse armado um teatro com a imprensa — a cara dele fazer isso, o marido perfeito e exemplar que busca a esposa no hospital após ela ter sofrido um acidente doméstico ao tropeçar em um tapete. Ele me levou na cadeira de rodas até o carro, enquanto um fotógrafo registrava tudo. O que ele não era capaz de fazer por causa da imagem?
Enrico não dirigiu sequer um olhar em minha direção, passou a maior parte do tempo no carro mexendo no celular. Não fiz nenhuma questão de que ele se dirigisse a mim, mas o mínimo que ele poderia fazer era perguntar se estava tudo bem.
— Amanhã vamos a um jantar com uns investidores; use sua tarde e arrume uma roupa à altura, são pessoas importantes — disse ele, sem tirar o olho da tela do celular.
— Sou mesmo obrigada a ir? — questionei.
— Sim.
— Eu acabei de sair do hospital, preciso descansar… eu não quero sair de casa.
— Você vai e ponto — a minha voz cada