Capítulo 1

Engraçado como a vida é irônica, a gente nasce, cresce e morre em busca da felicidade, às vezes ela chega cedo, às vezes ela chega tarde, outras ela nem chega; no meu caso ela chegou tarde.

Alguém me falou certa vez que "felicidade sempre será felicidade, ainda que atrasada", mesmo que ela se atrase 8 meses, com foi no meu caso.

O término com meu último namorado foi um tanto quanto trágico, num domingo de manhã em que decidi visitá-lo, ele estava nu com outro homem na cama.

Aquilo me traumatizou, não sei se o que me deu mais raiva foi a traição ou ele me fazer ver aquela pouca vergonha.

Mas a verdade é que nem precisamos terminar, lógico que depois disso eu sequer me dei ao trabalho e ele também teve a dignidade de não vir falar comigo e tudo ficou por isso mesmo.

Mas uns dias depois um amigo do meu irmão começou a ser "um pouco mais gentil" do que o normal. Eu não tava com cabeça para namorar, meu término ainda era recente demais, menos de um mês pra falar a verdade, mas o Serginho estava sendo tão gentil e fofo que acabou me cativando.

Oficializamos uns dias depois do primeiro beijo e meu pai permitiu desde que nós nos respeitássemos, engraçado que ele fez questão de dizer "nós", o Thiago me explicou depois que o papai disse assim porque sabia a filha que tinha, eu pessoalmente não acredito que tenha algum problema nos meus shortinhos curtos, mas ele me proibiu de "mostrar as pernas" quando meu namorado estivesse em casa.

O Serginho chegou em nossa família como amigo do Thi, no entanto depois que oficializamos nosso relacionamento a amizade dos dois deu uma esfriada, talvez fosse porque ele passava mais tempo comigo.

As vezes eu achava que não merecia ele, era sempre muito fofo, gentil, educado, prestativo, fazia questão de me tratar como uma dama, trazia presentes quase sempre que vinha me ver, mesmo que fosse uma bobagenzinha, ele fazia questão de dizer que tinha pensado em mim.

Eu deixei bem claro para ele que não o via da mesma forma que ele me via, as feridas de meu ultimo relacionamento ainda me doíam nas madrugadas, mas ele se dispôs mesmo assim a ser o "homem perfeito" para mim e não sei se porque eu estava carente ou ferida mas decidi dar-lhe a chance que ele queria.

Esse cuidado todo foi aos poucos me conquistando, e poucos dias depois eu já estava com saudades num dia que ele viajou para outro estado para visitar sua família.

Saíamos juntos aos finais de semana e ele fazia questão que eu deitasse em seu colo e ficava horas brincando com meu cabelo e me dando carinho.

Tenho que reconhecer, o Serginho chegou em minha vida na hora certa, seu cuidado e seus carinhos cicatrizaram todas as feridas de minha alma, e quando eu não mais achei que era possível, ele me fez sentir felicidade.

Uma semana depois de completarmos cinco meses juntos saímos com outros dois amigos para um passeio, passamos o dia juntos como dois casais de namorados felizes, ao final do dia um vândalo qualquer muchou os quatro pneus do carro do amigo do Serginho e ao invés de chamar um táxi ou até voltarmos de ônibus, o Ginho decidiu ligar para outro amigo, para no caso de ele estar disponível, fazer a gentileza de nos deixar em casa, uma vez que o tal rapaz fazia serviços de táxi por aplicativo, sempre que precisava de um o Ginho ligava pra ele.

De fato valeu a pena a ideia do Serginho, em menos de 10 minutos o Sandero Vermelho encostou à nossa frente, o rapaz era bem humorado, educado e não cobrou nada do Ginho por nossa corrida, seu nome era Leonardo.

Ele e o Ginho me deixaram em minha casa, pois meu namorado não queria que eu chegasse tarde, já que tínhamos passado o dia juntos ele fazia questão que meu pai notasse que ele continuava sendo o candidato perfeito ao cargo de genro, mesmo meses depois de iniciarmos nosso namoro.

E pelo visto ele estava indo bem, pois meu pai não se cansava de tecer os mais variados elogios, toda vez que ele ia embora, meu irmão por outro lado parecia que me conhecia melhor do que eu imaginava:

— Bia não tô te achando tão empolgada assim com o Ginho, vcs estão bem?

— Claro que sim, eu tô bem, você sabe que não sou de ficar o tempo todo grudada em namorado.

— Mas você não tem aquele brilho nos olhos que eu já vi em outros relacionamentos seus.

— Impressão sua, Thi, eu só acho que tô ficando mais madura, sem aquela melação de adolescente.

— Nesse ponto tenho que concordar, você tá bem mais cabeça mesmo.

— As feridas que a vida faz ajudam a gente a amadurecer mais rápido.

Mais tarde quando me deitei para dormir não pude deixar de pensar na observação de meu irmão, as vezes eu realmente sentia que faltava aquele "algo mais" do qual o Thi falara, e por mais que eu dissesse que não tinha nada de errado quando peguei no sono.

Uma semana depois acordei atrasada para a faculdade, o Ginho estava do outro lado da cidade e o Thi já tinha saído para o trabalho, eu não tinha dinheiro pra táxi e se eu fosse de ônibus a demora incomensurável de nosso sistema de transportes me deixariam com falta de qualquer maneira, sendo assim, por sugestão do Ginho, o amigo dele veio me pegar em casa poucos minutos depois.

— Você acha que consegue chegar na Unidas antes das 8 horas?

— Faculdades Unidas? Claro, conheço um caminho sem muito trânsito até lá.

— Mas é que eu tô tipo muito atrasada, mas muito mesmo.

— Relaxe moça, não vamos voando mas vamos conseguir chegar no horário.

Entrei no carro e ele já deu a partida me levando por outro caminho diferente do que eu seguia todos os dias.

— Você só trabalha com isso ou faz outra coisa?

— Na maior parte do tempo sim, as vezes concerto algum computador quando alguém me pede.

— Que legal, você também é técnico?

— Não chega a tanto, faço serviços básicos.

— Melhor que nada, pelo menos você não precisa pagar, meu irmão mal sabe desligar o computador dele.

— Como assim?

— Ah ele simplesmente puxa o fio da tomada e pronto.

— E ele sabe que mais dia, menos dia ele vai danificar o HD dele?

— Ja falei isso mas ele acha que eu é que tô exagerando.

— Nesse caso eu te sugiro que tire seus arquivos do computador dele, pois a qualquer momento a máquina vai parar.

— Ah eu nem mexo, tenho o meu próprio notebook, meu tablet e meu celular.

— Menos mal, se vc ja avisou e ele não lhe dá ouvidos, melhor se manter longe, principalmente porque até onde eu sei o Thiago é meio teimoso mesmo.

— Ah você nem faz ideia do quanto!

— Ele e o Félix são dois teimosos.

— Conhece o Félix também?

— Claro que sim, lá da igreja.

— Mas como se eu nunca te vi lá? Tem pouco tempo né?

— Uns seis meses mais ou menos.

— Mentira que você frequenta nossa igreja há seis meses e eu nunca vi! Ai meu Deus que vergonha!

— Calma, é normal isso, eu não sou muito de fazer amizades.

— Mesmo assim, você conhece meu irmão, o melhor amigo dele, frequenta minha igreja há seis meses e eu nunca vi você lá!

— Olha chegamos.

— Nossa, nem sei o que eu faria sem sua ajuda, mas me diz quem é seu amigo lá na igreja?

— Me dou bem com o Félix e o Thiago, conheço o Zec, que eu e lembre.... acho que só esses.

— E você tem namorada?

— Não oficialmente.

— Como assim?

— Tô ficando com uma garota, acho que você deve conhecê-la, já que conhece tanta gente lá.

— Quem é?

— O Nome dela é Amanda, sabe quem é?

— Aaaaahhh, para com isso, não acredito!

— Já vi que conhece ela né?

— Claro que sim, a Danda é minha melhor amiga, quase minha irmã se posso dizer assim.

— Pois é, não assumimos um relacionamento oficial por várias razões, mas tô achando legal como tão rolando as coisas.

— Ela me falou mesmo que tava ficando com um boyzinho bem legal, mas não falou que era você.

— Se decepcionou?

— Claro que não, você é bonito, bem humorado, gentil... enfim.

Ficamos por uns instantes nos olhando sem dizer nada, por uns segundos parecia até que o tempo parou, eu não imaginava que o tão falado boyzinho que a Danda tava pegando era esse sorriso lindo amigo do meu namorado e se eu não saísse logo desse carro começaria a pensar besteiras.

— Eu... eu preciso ir... — falei meio sem jeito e ou eu estava vendo coisas ou ele respondeu no mesmo tom, com a voz suave quase sussurrante, mas lindamente macia.

— Tudo bem... eu entendo. — só disse isso mas continuou sorrindo sem se mexer.

Abri a porta ao lado sem desgrudar meus olhos dos dele, coloquei um pé pra fora e não sei de onde consegui forças pra sair do carro.

Eu não precisaria pagar pela corrida, ele se entenderia com o Ginho depois, de modo que saiu com o carro assim que fechei a porta, mas encostei num poste de olhos fechados com a cabeça erguida como se estivesse olhando pro céu.

"Ai meu Deus isso não tá acontecendo! Por favor, alguém fala que eu tô sonhando! O que deu em mim, caramba!".

Segui pra minha aula já mega atrasada e ao final o Ginho veio me levar pra casa, ele não tinha carro mas fazia questão de me acompanhar mesmo de ônibus, eu achava isso muito fofo da parte dele, não é qualquer namorado que atravessaria a cidade de ônibus apenas para te fazer companhia de volta para casa.

Mas a noite quando deitei na cama, aquele sorriso maravilhoso tirava meu sono, eu virava de um lado para o outro na cama sem conseguir esquecer aquela boca perfeita.

Demorei muito pegar no sono mas felizmente consegui e no dia seguinte aproveitei o feriado pra visitar Amanda, fazia tempo que não nos falávamos, eu até mandava mensagens no celular dela mas seu trabalho de socorrista emergencial não lhe permitia ficar pendurada no whatsapp como eu costumava ficar.

— Conheci seu boyzinho – comentei com ela assim que nos jogamos em sua cama. 

— O Léo? Onde?

— Eu e o Ginho saímos Domingo passado e um vândalo qualquer muchou os pneus do carro do amigo do Ginho e ele chamou o Léo pra deixar a gente em casa, ele trabalha com táxi, né?

— Sim, ele passa o dia como motorista de aplicativo e às vezes faz uns bicos com computadores, mas e aí o que você achou dele?

— Meu Deus, Danda, aquele boy é perfeito! Onde você achou ele?

— Pianista da igreja, a gente se cruzava sempre lá mas começamos a conversar mais por que fui parar na mesma classe de jovens que ele lá na igreja, o resto você já sabe.

— Parabéns, hein?

— Obrigada miga mas e o Ginho, como vocês estão?

— Ah a gente está super bem, ele foi me buscar de ônibus na facul ontem.

— Ai Bia, ele é um fofo, o Ginho tá sendo maravilhoso mesmo.

— E você e o Léo, por que não assumem oficialmente?

— Ele tá um pouco receoso com a reação do Thi, eles são amigos e você sabe que minha história com seu irmão é bem antiga né?

— Ele parece ser um cara bem honesto mesmo.

— É todo certinho, Bia, aff tem hora que me dá até nos nervos, já me fez voltar no supermercado pra devolver cinquenta centavos que veio a mais.

Não tive coragem de contar pra Danda do clima que rolou no carro quando ele me deixou na facul, por um lado foi legal saber que minha amiga tava achando um carinha tão legal como o Léo parecia ser, mas por outro, sei lá, quando ela falou sobre ele ser honesto, alguma coisa me incomodou.

Não sei explicar o porquê mas uma parte de mim não gostou de ouvir aquilo, eu amava a Danda mais do que qualquer coisa, nunca tivemos segredo nenhum uma com a outra, mas ela estava tão feliz com o lance dela e o Léo que eu não tive coragem de ser sincera.

E para piorar minha situação aquele sorriso surreal me perturbava cada vez mais, naquele mesmo dia, a última coisa que me lembro antes de dormir foi de falar sozinha na minha cama no escuro: "Meu Deus do céu, eu preciso daquela boca, por favor!"

Algumas semanas se passaram e eu e o Ginho acresentamos mais um mês juntos ao nosso namoro, de vez em quando o Leonardo sempre aparecia com o Ginho ou então vinha nos buscar de carro para irmos a algum lugar, ou então ele simplesmente decidia sentar perto de nós na igreja e me deixar divivida entre espiar discretamente seu rosto ou prestar atenção na mensagem aprensentada.

Um, dia eu saí do banheiro e fui direto aos bebedouros e enquanto eu bebia água segurando meu cabelo pra não molhar, senti um olhar indiscreto queimando minhas costas, sabe aquela sensação estranha de alguém te observar quando não há ninguém por perto? Pois foi exatamente assim, até que ele saiu de trás de uma coluna sorrindo educadamente pra mim.

— Estava escondido aí me espiando é? — Perguntei sorrindo pra ele.

— Não necessariamente te espiando, só... — então ele me olhou dos pés a cabeça novamente antes de continuar— ...te olhando.

— Tava olhando meu bumbum? — perguntei com apenas uma sobrancelha levantada e os braços cruzados.

— Não, eu... eu não estava era... só — ele gaguejou todo embaraçado na resposta até que por fim suspirou fundo antes de se entregar— É eu estava sim, desculpa, mas... como vou dizer, foi sem querer.

— Tudo bem — respondi sorrindo afim de diminuir seu embaraço—Vamos fazer de cont que ninguém viu.

— Por favor, não comente isso com o Sergio, vou me sentir mal se ele souber que eu estava te olhando assim tão indiscretamente.

— Relaxa bobinho.

Aquilo para mim foi um presente, acho que nem quando achei dinheiro na rua eu tinha ficado tão feliz, um gato lindo daquele me olhando escondido, voltei ao meu lugar dentro da igreja com um sorriso de uma orelha na outra mas pra meu desespero o dito cujo veio sentar-se ao lado do Ginho pra tirar meu fôlego como sempre fazia.

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