As palavras dele fizeram minha loba soltar um rosnado. Enquanto a acalmava, retruquei:
— Você não sabe por que a minha coroa da Luna continua vazia?
Na minha vida passada, a joia da coroa foi roubada por Mariana. Eu fiquei furiosa, mas, por ser irmã dele, acabei cedendo e gastei quase toda a herança que tinha para comprar um diamante como substituto.
Agora eu já não me importava, e jamais seria tola a ponto de gastar o dinheiro que meus pais me deixaram com isso.
Eu ainda precisava pagar as mensalidades caras da universidade.
Curvei os lábios num sorriso frio:
— Alguns dias atrás, eu te dei vinte mil para, quando fosse até a alcateia vizinha, comprar um adorno de cabeça para mim.
— Não quero mais. Apenas me devolva o dinheiro.
A mão dele, que segurava a joia, parou no ar. Franzindo a testa, murmurou em voz baixa:
— Mariana gostou de um perfume de edição limitada. Eu estava sem dinheiro na hora, então usei esse valor temporariamente.
Minha loba riu friamente dentro da minha mente. Permaneci em silêncio, fechei a porta com uma expressão impassível.
A voz de Marcos soou furiosa do lado de fora:
— Você está prestes a firmar o vínculo de companheiros comigo! O que tem de mais eu usar um pouco do seu dinheiro? Qual é o problema? Não é como se eu não fosse devolver!
Abri a porta novamente e joguei contra ele aquelas bugigangas sem valor que ele me dera antes.
— Leve essa porcaria para a Mariana. Veja se ela aceita.
O rosto dele escureceu, mas não disse mais nada. Eu soltei um resmungo frio e voltei para o quarto para dormir.
Minha loba assentiu:
— Muito bem, é assim que deve ser.
…
No dia seguinte, comecei a organizar os velhos objetos.
Incluindo o amuleto de metal que ele me deu quando nos reconhecemos pela primeira vez.
Agora, nada mais pareciam que pedaços de ferro baratos, manchados de afeto falso.
Enquanto eu arrumava minhas coisas, Marcos entrou e jogou um maço de dinheiro sobre a mesa:
— Para você.
Olhei por cima: vinte mil certinho. Acenei com a cabeça, indicando que tinha entendido.
Ao ver que eu o ignorava e seguia concentrada na arrumação, ele franziu o cenho e falou num tom hesitante:
— Há lugares limitados no veículo que vai para as Terras do Sul. Prometi levar Mariana comigo. — Fez uma pausa. — Você não precisa arrumar nada.
Continuei a separar os pacotes como se não tivesse ouvido.
Ele ficou parado, observando meu jeito indiferente, e bufou:
— O que há com você? Eu disse que não precisa arrumar nada e ainda assim está aqui. Você anda diferente ultimamente.
Suspirei, parei o que fazia e o encarei.
Embora eu soubesse que Marcos só queria Mariana, ele não tinha ideia de que, no lugar da assinatura de Luna, eu já havia escrito o nome dela… Se ele descobrisse antes da partida, não seria nada bom.
Eu não queria mais nenhum vínculo com ele.
— Só estou me preparando para a mudança. — Afinal, depois da cerimônia de marcação, a Luna deveria se mudar para o castelo central da alcateia. Deixe que ele entenda errado.
O semblante dele suavizou um pouco e acrescentou:
— Não é que eu não vá levar você. É só que Mariana nunca saiu da alcateia... Ah, e o Rei Alfa deu uma vaga de recomendação para a Universidade Emory. Ceda a ela primeiro.
— No ano que vem haverá outras vagas, eu colocarei o seu nome.
Fiquei surpresa por um instante, mas minha loba explodiu imediatamente:
— Isso é nosso! Como pode simplesmente entregar?!
Por fora, apenas assenti. Mas, por dentro, cerrei os punhos com força.
Essa vaga sempre pertenceu à Luna da alcateia. Não haveria uma segunda. Era também um dos aspectos da política do Rei Alfa: garantir que as Luna das alcateias recebessem educação em ciências políticas, facilitando a gestão.
Agora, Marcos simplesmente entregava isso para Mariana.
Na minha vida passada, acreditei de todo coração. Esperei quatro anos inteiros, até Mariana se casar com o comandante da Primeira Legião da cidade de Atlanta, nas Terras do Sul. Ele voltou sozinho.
Eu sempre procurava assuntos para conversar. Agora, mesmo depois de tanto tempo falando, não desperdicei uma única palavra à toa, e ele parecia não se acostumar com isso.
— Você não queria ver alianças de casamento? — Perguntou com cuidado. — Amanhã vamos dar uma olhada?
Eu não tinha vontade alguma. Amanhã precisava cuidar dos bens fixos que meus pais tinham deixado.
Ainda pensava em como recusar educadamente quando Mariana falou primeiro:
— Irmão, você tem compromisso amanhã?
Marcos estendeu o dedo e tocou a testa dela com carinho:
— Amanhã vou ao shopping com Rafaela. Você vem junto.
— Amanhã preciso ver o Sumo Sacerdote, então não vou.
O rosto de Marcos escureceu:
— O Sumo Sacerdote você pode ver a qualquer momento. Amanhã vamos primeiro olhar as alianças.
Sua voz carregava aquele habitual tom controlador.
Mariana falou de forma manhosa:
— Será que a Rafaela não quer que eu vá junto?
Eu não quis me dar ao trabalho de recusar. Apenas assenti e concordei.
Na manhã seguinte, assim que desci as escadas, vi Marcos atencioso, enchendo o prato de Mariana.
O lembrete no meu celular apitou: faltavam cinco dias.
Cinco dias e eu não veria mais aquelas duas faces repugnantes.
Depois que terminaram de comer, Marcos, prestativo, pegou a bolsa de Mariana.
Sentei-me ao lado, observando com frieza.
Na vida passada, pensei que, ao me tornar sua Luna, ele também cuidaria de mim assim.
Ainda perdida em lembranças, vi Marcos estender uma pequena caixa para mim. Dentro havia um anel incrustado de pedras preciosas.
— Este é o símbolo da Luna da alcateia. Estou te entregando antecipadamente.
Não estendi a mão.
Na vida passada, ele nunca me deu esse chamado símbolo.
Mariana agarrou a caixa e, piscando os olhos, exclamou:
— Uau, a pedra na inscrição brilha tanto! Queria tanto ter uma também!