Anny
O som do relógio preenchia o silêncio do meu escritório. Os ponteiros pareciam arrastar-se, como se estivessem zombando da minha tentativa de manter o foco nas papeladas espalhadas pela mesa. O setor jurídico do hospital estava sob minha responsabilidade, e aquele trabalho burocrático deveria ser o suficiente para ocupar minha mente. Mas não era.
Cada assinatura, cada carimbo, cada página revisada apenas reforçava o vazio que Miguel havia deixado. Por mais que eu tentasse me convencer do contrário, ele ainda estava em mim. Suas palavras, seus gestos e de como estava arrependido. Tudo isso insistia em ecoar dentro de mim, como uma melodia impossível de ignorar.
O telefone tocou, tirando-me dos pensamentos.
— Doutora Anny, — a voz da minha secretária soou do outro lado da linha. — Um dos advogados chegou para a entrevista. Posso deixá-lo entrar?
Não me lembrava de ter agendado uma entrevista com advogados para hoje, mas talvez fosse algum detalhe que havia escapado em meio à rotin