Depois de morrer uma vez, eu finalmente estava vivendo a vida que jamais ousei imaginar em minha vida passada. No entanto, eu nunca esperei ver Damian novamente, que, ao que tudo indicava, também havia renascido.
Nos reencontramos durante a Cúpula Anual da Aliança das Alcateias, logo depois de virar duas noites seguidas sem dormir, finalizando os rascunhos iniciais para uma exposição de joias no mundo humano. Por isso, desarrumada e exausta demais para trocar de roupa, fui direto para o grande salão onde Damian permanecia no centro da alcateia Lua de Prata, com o braço enlaçado na cintura esguia de Aria, saboreando os elogios da multidão.
— Damian, você é o orgulho da nossa alcateia! Em poucos anos desde que se tornou Alfa, já dobrou nosso território!
— É verdade, seu poder é imenso. Os anciãos dizem que sua aura rivaliza com a do lendário Rei Alfa!
— Alfa Damian, minha alcateia deseja jurar lealdade a você. Basta dizer uma palavra, e nosso apoio será seu!
Um guerreiro Beta na multidão perguntou com curiosidade:
— Alfa Damian, é verdade que você e a Srta. Aria realizarão a cerimônia de acasalamento na próxima lua cheia?
Damian inclinou-se, inalando com ternura o perfume do pescoço de Aria, a fragrância única de seu sangue Alfa.
— É isso mesmo. Na próxima lua cheia, completaremos nosso acasalamento.
O anúncio foi recebido com uma nova onda de uivos e bênçãos. De repente, um velho amigo se manifestou.
— Damian, você ainda mantém contato com a Selene? Lembro que vocês eram os companheiros destinados escolhidos pela própria Deusa da Lua! Ouvi dizer que até seu primeiro rugido de Alfa foi um chamado para encontrá-la!
Ao ouvir meu nome, a expressão de Damian se transformou em gelo, e seus olhos dourados de lobo escureceram ligeiramente. Contudo, foi Aria quem se afastou de seu abraço, com um leve e ensaiado sorriso nos lábios.
— Damian e eu em breve estaremos unidos para toda a vida. — Disse ela, com a voz suave e o sorriso elegante e contido.
— Os fios do destino podem ser entrelaçados novamente, já que erros fazem parte da juventude. Mas, no caso de Damian, aquele vínculo impróprio já foi superado há tempos.
— Você tem razão, meu amor. — Concordou Damian. — Ter te conhecido me tornou mais forte.
Os membros da alcateia riram juntos, seguindo com os elogios, chamando-os de um casal verdadeiramente abençoado.
Só que eu me lembrava…
Eu me lembrava do primeiro rugido de Alfa que ele soltou ao completar dezoito anos... E da primeira vez em que seu lobo uivou por mim.
Em nossa vida passada, éramos companheiros destinados, escolhidos a dedo pela Deusa da Lua, atraídos um pelo outro por uma conexão que ia além da alma. Assim, ele me encurralou contra uma árvore de louro, deixando que seu hálito quente acariciasse meu ouvido:
— Selene, olhe para mim! Meu lobo escolheu você. O vínculo de companheiros nunca mente.
E, com todo o meu coração, eu acreditei nele. Porém, no fim, ele traiu a vontade da Deusa.
Enquanto isso, observei-os da entrada, ocultando meu verdadeiro rosto sob uma indiferença cuidadosamente construída. Só então, com passos firmes, adentrei o salão, onde um Beta de olhos atentos me reconheceu imediatamente.
— Selene, finalmente você chegou!
— Pelos deuses, você ainda está usando roupas humanas... Nem mesmo uma túnica cerimonial teve o cuidado de trazer!
— Foi expulsa da sua alcateia, não foi? Afinal, não carrega marca alguma, e o cheiro da sua loba está quase desaparecendo! Então, diga de uma vez por todas: onde esteve escondida esse tempo todo para conseguir sobreviver?
Ao notarem minha aparência, vários lobisomens ao redor não contiveram os risos maliciosos, mas não me preocupei em responder, apenas curvei levemente os lábios em um sorriso contido, segurando firme o último traço da minha dignidade.
Desde o momento em que pisei no recinto, os olhos de Damian me alcançaram com a precisão de uma lâmina afiada, sendo que bastou aquele único olhar para que eu soubesse que ele também havia voltado… Assim como eu.
— Há quanto tempo… — Disse com frieza.
Seus olhos carregavam uma tempestade de emoções antes de assumirem o brilho cortante do escárnio.
— Selene. Já se passaram sete anos, e sua loba quase desapareceu. Que ômega patética.
Aria, é claro, não tinha a menor intenção de me poupar, e se via em seus olhos que estavam tomados por uma malícia divertida. Logo ela se aproximou de propósito, colando-se ainda mais ao corpo de Damian, em uma declaração de posse clara e provocadora.
— Damian, não seja tão cruel. Ela já é lamentável o suficiente, então não precisamos piorar.
Seus olhos percorreram meu corpo dos pés à cabeça, sem esconder o desprezo.
— Mas, Selene, sua roupa realmente está... Miserável. Por mais difícil que a vida esteja, uma loba precisa ter algum orgulho. Do contrário, que alcateia aceitaria uma ômega rejeitada e inútil como você?