Capítulo 2
Assim que ela concluiu suas palavras, os lobos ao redor explodiram em gargalhadas, como se tivessem aguardado exatamente por aquilo. E, infelizmente, ela tinha razão.

Naquele momento, Aria vestia um traje cerimonial feito sob medida, complementado por um colar de pedra da lua que evidenciava a nobreza de sua linhagem. Seus cabelos brilhavam sob a luz com um esplendor etéreo, de forma que sua presença impunha, ao mesmo tempo, beleza e a majestade natural de uma princesa loba.

E então havia eu, que havia acabado de me levantar da bancada de trabalho, depois de um turno ininterrupto de vinte e quatro horas para cumprir um prazo. O que se via ali era um espectro: exausta, abatida, sem nenhum traço de glória.

Fora que as roupas que vestia pertenciam a uma marca humana comum, pálidas diante de todo aquele esplendor.

— Obrigada pelo conselho, mas não preciso dele. — Respondi simplesmente, caminhando até a mesa do bufê e me sentando. Depois de tanto esforço, meu corpo gritava por energia.

Enquanto eu me concentrava na comida, Damian apareceu subitamente diante de mim. E, bem na minha frente, ele lançou o brasão da alcateia Lua de Prata sobre a mesa.

— Estou fazendo isso por caridade, em respeito à vida passada e ao amor que um dia existiu. Então, trate de cuidar melhor de si, busque uma alcateia que a aceite, compre roupas mais apropriadas e comece, finalmente, a se valorizar.

— Selene, o que passou, passou. Por favor, não viva para sempre sob a sombra da minha rejeição…

— Se você não tivesse... Deixa pra lá. Não adianta falar disso agora.

— O essencial é que não abra mão de si mesma por minha causa. Afinal, sua vida vale mais do que isso, portanto não a desperdice como uma loba errante, está claro?

Ergui os olhos, ainda confusa, e encarei Damian.

As palavras interrompidas que escaparam de seus lábios despertaram lembranças adormecidas da vida passada… Os mesmos motivos que, após o renascimento, o levaram a me descartar com tanta frieza.

Na existência anterior, havíamos sido companheiros escolhidos pela Deusa da Lua.

Ele nutria uma ambição feroz, desejava tornar-se o Alfa mais poderoso de todos, enquanto eu sonhava com algo completamente distinto: queria ser reconhecida mundialmente como designer de joias.

No entanto, naquela época, o mundo dos lobos estava mergulhado no caos, com as alcateias se mantendo em guerra, e Damian precisava de vastos recursos para garantir sua posição.

Por isso, permaneci ao seu lado.

E por amor a ele, abandonei sem hesitar a oportunidade de estudar em Paris.

Nos períodos mais sombrios de sua jornada, troquei minhas joias artesanais mais preciosas, aquelas que nunca revelei a ninguém, em troca do favor de nobres pertencentes a outras alcateias, garantindo, dessa forma, os recursos e os guerreiros poderosos de que ele tanto precisava.

Ele lutou incansavelmente, enfrentando perigos um após o outro, sempre voltando coberto de sangue e prestes a desabar.

E eu, por minha vez, continuava ali, firme, sustentando-o. Era quem acalmava sua essência Alfa, intensa e descontrolada, todas as vezes que ele entrava em casa, exausto e quebrado por dentro.

Acreditei que não precisávamos verbalizar nosso amor, pois ele estava implícito em cada gesto.

Porém, jamais passou pela minha cabeça que, após se tornar o Alfa supremo, quando finalmente pedi que obedecesse à Deusa e se unisse a mim, ele reagiria com tamanha frieza.

— Pois fique sabendo: o pai da Aria garantiu que, se eu me acasalasse com ela, a alcateia dele firmaria uma aliança com a minha.

— Me arrependo amargamente de ter acreditado no destino e marcado você.

Depois daquilo, ele simplesmente deixou de se aproximar, como se tivesse perdido o instinto de permanecer por perto. Já não era mais o mesmo Alfa que, um dia, havia lutado por justiça.

E, por causa das palavras dele dizendo "me arrependo", lambi minhas feridas em inúmeras noites solitárias.

Ainda assim, fiz uma última tentativa desesperada, abraçando-o com força enquanto murmurava, com a voz embargada:

— Damian, vamos ter um filhote nosso, por favor.

Contudo, ele reagiu com violência, empurrando-me bruscamente enquanto a repulsa transbordava em seu olhar.

— Já te avisei antes: eu detesto o choro de filhotes! E não quero por perto uma criança contaminada pela sua fraqueza!

Aquelas duas frases foram o suficiente para destruir por completo tudo o que eu acreditava sobre o chamado amor verdadeiro…

Na noite em que a cerimônia de nosso acasalamento estava destinada a acontecer, o ataque inimigo que nos tirou a vida não foi um horror, e sim algo que se assemelhava surpreendentemente a um alívio.

Naquele momento, o medo simplesmente não existiu, substituído por uma sensação de libertação tão intensa quanto desconhecida.

Desde então, após o renascimento, cada um trilhou um caminho distinto e, diante disso, já não havia sentido algum em voltar ao passado.

Por isso, empurrei o brasão de volta para ele, sem demonstrar qualquer emoção.

— Não, obrigada. Não tenho intenção de me juntar à alcateia de um estranho.
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