Ele não aguentou mais e antes que cometesse uma loucura, resolveu se retirar. Levantou-se, mas antes de sair, ainda ameaçou:
— Nosso casamento acabou, mas você ainda terá que cumprir os contratos em vigor que contém sua participação e não se esqueça que é acionista e vice-presidente da Empresa. Ela sorriu, não adiantava ele ameaçar, ela se preveniu por todos os lados. Ele errou feio ao não incluir sua assinatura nos contratos. — Se tiver a minha assinatura… Ele finalmente saiu e Cláudia pode ceder a vontade de rir e dar sua opinião sobre o assunto. — Para, Cláudia! Vai te dar dor na barriga. — repreendeu-a Renata. Aos poucos, Claudia foi se acalmando e falou: — Desculpe, mas me contive tanto que, agora que liberei, não consegui parar. — Tão divertido, assim? — Sim, vê-lo tão furioso e você tão calma, foi hilário. Se pensarmos que, nos últimos três anos você foi a perfeita esposa, dócil e meiga, foi uma mudança muito drástica. — Talvez eu não devesse me esforçar para ser o que não era. Poderia ser que ele me preferisse e seu interesse não esmorecesse. — respondeu Renata, pensativa. — Você ainda gosta dele? — Não. Na verdade, acho que nunca o amei, realmente, ou teria ficado arrasada, quando descobri que estava me traindo. Tive tempo para analisar e me organizar, antes de dar um basta. — É, amiga, o pior ainda está por vir e ele nem desconfia. Claudia se jogou no sofá, recostando com os braços abertos e pondo os pés na mesa de centro. — Você sabe que este lugar é para receber os clientes, não é? — Ah, eles nem vão saber que coloquei os pés na mesa e meus pés são cheirosinhos, pago uma nota na podóloga. Foi a vez de Renata soltar risada. — Como uma advogada eficiente e fera nos tribunais como você, se comporta como uma garota da periferia? — Não denigra a imagem delas, se comportam melhor do que eu, pelo menos, na autenticidade. — Você é terrível, Cláudia. Agora me deixe trabalhar. — Que dispensada, mas tudo bem, volto quando tiver os papeis do divórcio. Tchau, baby. — Tchau. Renata sabia que tinha muito o que fazer, antecipou todos os atos de Donald e já começou a retaliação. Enviou e-mail para os últimos parceiros de negócio da empresa Peixoto e ofereceu seus serviços, separadamente. Já tinha duas reuniões marcadas para a manhã seguinte e aguardava que os outros três respondessem. O telefone interno tocou, era a secretária: — Tem três empresários brigando entre si para falar com a senhora. — Onde estão? — Na recepção. — Pegue o nome deles e da empresa que representam e me passe. Sabendo quem eram, ela autorizou que os três entrassem, mas esperassem fora do escritório e atendeu um por um. Pediu à secretária que imprimisse os contratos com o nome das devidas empresas e trouxesse para que assinassem. Conversou com cada um, viu qual a necessidade e o contrato padrão não serviria, por isso fez outro a parte e pediu sigilo sobre ele. Concluíram a transação, com os três saindo satisfeitos. Eles não precisam mais da empresa têxtil dos Peixoto e teriam muito mais lucro com as propagandas da One. Renata sorriu e girou em sua cadeira, comemorando. A secretária entrou na sala e perguntou: — Mais alguma coisa, senhora? — Não, Rosa, se já guardou tudo, pode ir. Receberá um bônus especial no final do mês e manterá tudo sigiloso. — Com certeza, senhora, muito obrigada e boa noite. — despediu-se Rosa, sorridente. Sua chefe era justa e sentia prazer em trabalhar para ela. Renata fechou tudo, trancou e foi para a garagem subterrânea onde estava seu carro e lá, esperando por ela, havia outra surpresa. — Marcela? O que faz aqui? — Preciso falar com você. — falou a outra, andando apressada, com passos curtos, tentando acompanhar Renata. — Ou? — Por favor, serei rápida. Renata continuou andando, muito elegante e segura de si, em seu terninho bege, apesar do dia cheio que teve. — Vá falando, estou cansada, doida por um banho e um bom jantar. — Por favor, Renata, me ouça. Renata parou, olhou-a virando só o rosto e falou: — Infelizmente, já estou ouvindo e não somos íntimas, me chame de senhorita Soares. — Continuou andando. — Me perdoe, por favor. Eu não devia ter me deixado envolver por Donald. — Pare de enrolar, nós duas sabemos quem envolveu quem. Diga logo o que veio fazer aqui. — Havia chegado ao carro e abriu a porta de seu utilitário. Marcela percebeu que não dava para enganar aquela mulher tão inteligente e baixou a cabeça, humilhada e sentindo o peso de sua má conduta. Olhou a empresária, parando para abrir a porta do seu carro e estranhou a simplicidade do veículo. Renata nunca gostou de ostentação e seu veículo combinava com ela, prático e elegante, porém simples. — Precisamos de você para cumprir os compromissos da empresa. Todos os contratos são conjuntos com sua firma e precisamos de tempo para resolver a sua saída. — Lançou a isca, a secretária que via todo seu investimento caindo por terra. — Diga ao Donald que marque uma assembleia em dois dias, irei lá para explicar e resolver essa questão. Agora, chega. Renata entrou no carro e seguiu seu caminho, deixando para trás uma mulher que se achava superior por ser amante do CEO, mas percebeu como foi arrogante e acabou humilhada pela verdadeira esposa. Renata havia alugado um flat, onde ficaria até que a reforma do apartamento que comprou, ficasse pronta. Depois de tomar um banho e vestir um roupão, pediu uma refeição e enquanto esperava, desfez a mala que ainda estava fechada no closet. Quando, enfim, deitou em sua cama, cobriu-se e dormiu, imediatamente, sem preocupações e nem culpa. * Thomas estava parado no terraço de sua cobertura, sobre o deque da piscina, observando o mar no horizonte. Era uma visão privilegiada, que na maioria das vezes o acalmava, mas hoje, nada o tranquilizava. Deu uma tragada no cigarro, desagradando-se da sensação , mas não conseguiu evitar. Parou de fumar a algum tempo, mas quando estava muito agitado, voltava a dar umas tragadas e tudo por causa dela. — Ela está tão linda… me enganou com aquele disfarce e só depois de a rejeitar, conheci sua beleza. Fui um tolo, deixei passar a mulher e a melhor Firma de propaganda do momento. Sou um idiota, mesmo. Parou de se lamuriar e entrou para verificar suas últimas informações e tentar dormir. Pegou seu tablet e ao ver as mensagens de Miguel, seu assistente direto e amigo, ficou estarrecido. — Eles se divorciaram! Ela está livre, será que era isso que comemoravam no restaurante? Mas e quanto a empresa? Enviou uma mensagem para Miguel, que logo respondeu, pois não desgrudava do seu tablet: Segundo minhas fontes, a Empresa Peixoto e a ONE, tinham um contrato que terminou ontem.