O celular de Renata tocou e ela viu que era do escritório de Donald. Atendeu, imaginando sobre o que ele queria falar.
— Alô. — Senhora Peixoto, aqui é Marcela. O senhor Peixoto deseja conversar com a senhora, pode vir ao escritório? — Eu tenho uma agenda cheia, Marcela. Se Donald quiser falar comigo, que venha ao meu escritório e sou Senhorita Soares, agora. — Mas, senhora, é assunto de trabalho, contratos vantajosos para a senhora. — Claro. Estou terminando de almoçar, então, só transmita o meu recado. Adeus, Marcela. Renata desligou, deixando Marcela surpresa. — O que ela disse, Marcela? — perguntou Donald, que não teve coragem de ligar para a esposa. — Ela disse que está ocupada e mandou você ir até ela. Ele socou a mesa com o punho fechado e xingou a mulher. — Quem ela pensa que é, aquela bruxa. Eu fiz um favor ao me casar com ela, aquela vaca feia e deselegante. O que seria daquela 'firminha' dela, se não fossemos nós? Marcela observava o CEO descontrolado e não o reconheceu. Nunca o viu naquele estado e percebeu que julgou o caráter do homem, erradamente. Ele era fraco, usurpador e enganador. Não precisou suar a camisa pela empresa, seu crescimento era todo devido a propaganda e marketing de sua esposa. — Por quê você não vai até o escritório dela. Talvez, se você mostrar interesse, ela ceda. O prejuízo financeiro é muito grande para ceder ao orgulho. Seu conselho entrou como espinhos na cabeça e nervos do CEO. A raiva o tomou e ele socou a mesa, novamente. — Quem é você para me dar conselhos sobre minha esposa? Não lhe ocorreu que a culpa é sua…? Marcela ficou calada, era muita injustiça da parte dele. Embora ela tenha se insinuado para ele, foi ele quem descuidou dos negócios e da esposa. Podia ter separado as duas situações e agora não perderia tudo, pela ruptura com ela. — Faça o que achar melhor, então. Ela se virou e saiu e ele foi até a janela, observou o dia claro e tentou se acalmar. Jamais imaginou que Renata tivesse coragem de deixá-lo. Sempre acreditou que ela era apaixonada por ele e o amava mais do que ele a ela, e isso bastava. Ela parecia tão dócil e boba, fazendo questão de cozinhar para ele e cuidar pessoalmente de sua aparência. Será que ela não percebeu que, praticamente, o fazia atraente para outras mulheres? Seus pensamentos vagaram pelos dias em que chegou em casa e ela cheirava a gordura e tempero e tudo que ele queria, era uma mulher cheirosa que o recebesse com um drink e massageasse seus ombros. Qual o homem que gosta de uma mulher desleixada e mal cheirosa? Nunca ocorreu a ele, que ela trabalhava na empresa, o mesmo tanto de horas que ele, e corria para casa para preparar o jantar e verificar se a empregada tinha cuidado da casa e das roupas perfeitamente. Resolveu ir até ela, deixaria Marcela encarregada da agenda do restante do dia. Resolveria logo essa questão ou perderia muito dinheiro e o rompimento poderia repercutir negativamente nas ações da empresa. Respirou fundo várias vezes, logo que deixou o prédio, aproveitando o ar natural. O motorista dirigiu com suavidade até o prédio onde ficava a firma de Renata. Donald desceu do carro e entrou pelas portas principais, identificou-se na recepção e esperou ser liberada a sua entrada. Pegou o crachá, reclamando por passar por aquele constrangimento. Quando chegou no escritório, precisou esperar mais uma vez, até a secretária permitir sua entrada. Observou o tamanho e o requinte do lugar, não esperava que fosse tão luxuoso. Nunca esteve ali. — Era necessário tudo isso, Renata? — reclamou, irritado, assim que passou pela porta. Só depois de falar, Donald percebeu que ela não estava sozinha. — Boa tarde, Donald. Esta é minha amiga e advogada, Cláudia Meireles. — Olá. O que você pretende, Renata? Não está satisfeita com seus honorários, quer mais atenção ou é só uma vingança? — Por quê não se senta, Donald. Quer uma água ou um café? — Não me trate como um imbecil, ainda sou seu marido! Renata encostou na cadeira macia e cruzou os braços, olhando diretamente para ele, com ar de enfado. Não falou nada e a fúria do homem aumentou com o descaso. — Não vai dizer nada? — perguntou ele. — Não vejo necessidade, está tudo preto no branco. Nosso casamento se desgastou com o tempo, ao ponto de você arrumar outra mulher e o nosso contrato de trabalho terminou. Simples assim. Donald não entendeu como ela podia estar tão tranquila com a situação. Se fosse ele que descobrisse uma traição, teria, no mínimo, cobrado uma satisfação. — Então, você não me ama mais? — Se você não me ama, por que eu deveria continuar o nosso relacionamento? — Mas eu ainda te amo! — Quem ama não trai, não troca a esposa por outra mulher e nem faz pouco caso do trabalho dela. Ele abaixou a cabeça, não por sentir vergonha ou arrependimento, mas para não ter que concordar com ela. Resolveu se acalmar e pensar no prejuízo que teria, caso ela não renovasse o contrato. Sentou-se à frente dela. — Tudo bem, já assinei os papeis do divórcio, esse assunto está concluído. Mas quanto ao contrato entre as empresas, por quê não renovar? — Não é do meu interesse, quero trabalhar em projetos novos sem ter vínculo com uma empresa têxtil. Ela sabia que a maioria dos contratos que eles tinham, conseguiram graças à parceria com a firma dela. Mas agora, cansou-se de servir sem ser servida e o pior ainda estava por vir — Você não tem medo de não conseguir clientes e ir à falência? Ela quase gargalhou de sua tentativa, mas fez de conta que aceitou. Cláudia, entretanto, não segurou o riso e ele percebeu, rangendo os dentes de raiva. Renata interviu para não piorar a situação. — O que sinto ou não, não lhe diz mais respeito. Agora, se me der licença, preciso trabalhar. — Então é assim, vai me dispensar sem mais nem menos e quanto aos nossos bens? — Não leu as regras do divórcio? Eu já saí do apartamento, também já contratei um profissional e ele cuidará da divisão de bens. Quando assinou os papeis, concordou com isso. Mais alguma coisa? — Tá… mas e quanto aos contratos, temos uma oferta excelente da Nixor, tem certeza que não quer fazer parte disso? É um contrato grande. Renata sorriu, levou dois anos para ele voltar e insistir no negócio, agora era o momento para testar a quem os parceiros queriam de verdade, a empresa têxtil e comercial ou a One. Cláudia, ao ouvir o nome do novo contratante, entendeu a aproximação do homem no restaurante. Provavelmente, ele queria a amaciar para conseguir a parceria. — Não tenho interesse, estou iniciando outras parcerias. Já ofereci meus serviços ao Presidente Prentiss e ele não se interessou. Acho que você deve se orgulhar pela parceria, deve ser pela empresa Peixoto e não pela One.