(Ponto de Vista de Aria)

No primeiro dia em que Isabella se mudou para a casa principal, ela já começou a mandar nos ômegas de patente inferior, além de redecorar a sala de estar deixada pela mãe de Ethan.

— Este estofado de couro preto é muito sombrio. — Comentou, passando os dedos delicados sobre o material antes de se virar para Ethan com um sorriso suave. — Ethan, e se trocássemos por móveis trançados com vinhas de luar? Combinariam bem mais com seu status de Alfa.

Ethan sequer pestanejou. Apenas ordenou ao mordomo Beta ao seu lado:

— Faça como a Srta. Isabella quiser.

Eu estava parada no patamar da escada que levava ao segundo andar, observando enquanto guerreiros fortes da alcateia levavam embora o cobertor tradicional que eu mesma havia tecido seis meses antes.

Tinha sido feito com pelagem de lobos da neve e enfeitado com musgos brilhantes, como uma forma de comemorar o sucesso dos filhotes na conclusão da primeira provação.

Naquele momento, Mason e Maya seguiam Isabella como duas sombras animadas, apontando coisas pelo caminho, com suas vozes agudas chamando:

— Titia Isabella, esta almofada feita de flores-estrelas também tem que ir! A tapeçaria da mamãe é muito feia e nada macia!

Isabella acariciou a cabeça dos dois com doçura exagerada, ao mesmo tempo respondia com voz melosa:

— Está bem, vamos trocar tudo.

Embora meus dedos tenham se fechado com força e as unhas quase tenham perfurado a palma da mão, obriguei-me a relaxar, controlando a tensão que me dominava.

"Aquelas mantas e almofadas... Tinham sido tecidas por mim, linha por linha, com a habilidade de cura da minha loba, enquanto eu ainda estava grávida! Suportei todo o desconforto do novo vínculo de companheirismo para fazê-las. E enchi cada peça com as plumas mais macias de coelhos da neve e sementes de flores da lua calmantes, pois, como filhotes, eles eram alérgicos a muitos materiais comuns!

Agora, tudo aquilo estava sendo jogado no lixo sem o menor remorso!"

Nos dias seguintes, aquela casa antes tão familiar tornou-se cada vez mais estranha, impregnada pelo cheiro doce demais da ômega chamada Isabella.

Onde Ethan e os filhotes passaram a mimá-la como se ela fosse a verdadeira Luna daquela alcateia…

— Isabella, você não deveria se ocupar com tarefas tão pesadas. — Disse Ethan, interrompendo-a quando ela tentou arrumar uma bagunça. Seus dedos longos repousaram com delicadeza no pulso frágil dela, e o tom que usou foi mais gentil do que eu jamais ouvira. — Suas mãos servem para misturar ervas raras e acariciar os filhotes, não para isso.

— Titia Isabella, eu carrego esta cesta de bagas da lua para você! — Exclamou Mason, tomando a cesta das mãos dela com uma expressão bajuladora que eu nunca havia visto em meu orgulhoso filhote Alfa.

— A Srta. Isabella só precisa descansar e cuidar do próprio cheiro de ômega, para se preparar... Para o futuro. — Comentou o mordomo Beta, entregando-lhe um par de chinelos feitos com pele de raposa da neve. — Deixe o resto conosco.

"Quanta ironia…"

Eu acreditava ser a Luna desta alcateia, protegendo silenciosamente cada membro com meu dom de cura. No entanto, tudo foi tomado como garantido, sem que ninguém notasse.

Isabella, por outro lado, não precisou fazer nada. Bastou aparecer para ser tratada como uma princesa, mimada por todos os lobos com o máximo de cuidado.

Naquele instante, os ômegas cochichavam entre si. Apesar de usarem as ligações mentais discretamente, meus sentidos remanescentes de Luna ainda conseguiam captar alguns fragmentos.

'O Alfa é tão atencioso com a Srta. Isabella… Aquele olhar dele poderia derreter qualquer uma. Ele nunca foi assim com a Sra. Aria.'

'É verdade. E os filhotes só querem saber dela, vivem chamando "titia Isabella" pra cá e pra lá. Aposto que logo essa alcateia terá uma nova Luna de verdade.'

Como meu coração já estivesse morto por dentro, simplesmente ignorei tudo, concentrando-me em arrumar silenciosamente os poucos pertences que ainda restavam, à espera da noite de lua cheia.

Até que, naquela tarde, meu celular, que eu costumava usar apenas para mensagens administrativas da alcateia, começou a vibrar sem parar.

Eram dezenas de mensagens enviadas por Isabella no grupo público da alcateia.

Com uma sequência de fotos e vídeos curtos tirados no celular dela, registrando os supostos momentos "divertidos" no acampamento de treinamento dos filhotes.

Nos vídeos, Mason e Maya apareciam orgulhosos no meio de um grupo de filhotes, apresentando Isabella, que estava ao lado:

— Esta é a nossa... Nova mãe! Ela é uma loba muito poderosa!

Suspiros de inveja surgiram entre os outros filhotes da alcateia:

— Uau! A nova mãe de vocês é tão bonita! O cheiro dela é tão bom!

— O papai Alfa de vocês é forte e bonito, e a nova mamãe é linda e gentil. Que alcateia sortuda!

— Então, quem é que cuida de vocês na casa principal? Quem faz a comida e prepara os banhos de ervas? — Indagou um dos filhotes de uma alcateia menor, curioso, como se ainda não tivesse entendido exatamente o que estava acontecendo.

No vídeo, os rostinhos de Mason e Maya se contraíram por um instante, e as orelhinhas de lobo se mexeram de forma desconfortável. Em seguida, murmuraram:

— Ah, é… É só uma ômega da alcateia que cuida da gente. Ela não tem patente alta.

Assim que ouvi a resposta, minha mão tremeu inesperadamente, derramando toda a água morna com ervas calmantes no chão.

E aos poucos, me abaixei, observando as folhas molhadas espalhadas ao redor, até que um riso escapou. Um riso triste, profundo, cheio de dor.

"Então, era isso. Durante todos esses anos, no fundo do coração deles, eu nunca fui mais do que uma ômega de conveniência... Uma espécie de babá de luxo.

Mas isso não importava mais.

Pois essa "ômega babá" estava prestes a se demitir.

A partir de agora, que a "verdadeira mãe", com seu sangue nobre e cheiro adocicado, assumisse seu lugar e cuidasse deles!"