Céu | Terra e Céu - Livro 2
Céu | Terra e Céu - Livro 2
Por: Letícia Black
O planeta Azul

Ainda estava se acostumando as interfaces daquela nave ostensiva e poderosa.

Em seus tons de preto, prata e branco, lhe trazia familiaridade. A falta de cor era algo que se acostumara, dentre calabouços e espeluncas nos últimos anos.

O que ele não conseguia se acostumar era com os ambientes amplos, com boa sonoridade e o fato de que todos pareciam respeitá-lo só com um aceno de cabeça.

Ah, claro, e o poder.

Não o poder que lhe vinha como comandante principal e o título de Imperador, mas o controle. Fechou as mãos esticadas para a frente, puxou-as um pouco para si e girou-as levemente para a direita. A nave respondeu imediatamente, seguindo os seus comandos.

Estava em seu sangue.

Ele não acreditou da primeira vez que ouviu, achava que não tinha acreditado até que finalmente a viu obedecê-lo, poucos ciclos atrás.

Ainda o assombrava ter tanto poder. A nave mais poderosa do universo, a frota mais temida e respeitada de todas as galáxias, respondia ao seu sangue. E apenas o seu.

Exceto...

Suspirou.

Aquela aventura estava sendo um pouco mais complicada do que deveria. Traições e perdas. Sempre soube que seria difícil, só não entendia o quanto do seu coração teria que definhar pelo bem maior.

Agora já entendia uma parte do problema. Ainda brigava para que perdesse menos do que parecia que teria que perder, mas já doía.

Virou-se de costas para a porta de sua sala principal, imponente em tons de preto e ainda sem muitos toques pessoais. Precisava começar a se sentir bem ao menos naquele lugar, mas como fazer isso quando ainda tinha tanto de seu antigo ocupante?

Lá estava ela.

A visão lhe tirou de seus pensamentos. Já tinha visto uma parte do universo e a visão da Terra ainda lhe tirava o ar.

Era um lindo planeta quebrado.

Encostou sua mão na parece de vidro de seu escritório e a tela respondeu. A imagem da Terra, em tempo real, foi encolhida para exibir uma da Terra em seus tempos áureos ao lado.

Quase assustador. O antigo planeta azul agora era um lampejo de verde, amarelo e cinza.

Suspirou. Jogou a imagem do planeta azul por cima do planeta verde. No lugar vazio, cálculos começaram a ser feitos, cálculos terras inutilizáveis, danos, radioatividade. Anos terrestres para conserto, medidas necessárias. Um dia, talvez, aquele planeta voltasse a ser azul.

Um dia, depois de muitos anos terrestres.

Empurrou as duas imagens e os cálculos e a visão em tempo real apareceu novamente. O Imperador do universo suspirou, apaixonado. Mesmo destruída, era um dos lugares mais belos que já havia visto. Se lembrava muito bem de quando a vira da primeira vez de tão alto e parecia ainda mais bela agora.

Imaginava como seria se estivesse inteira.

A larga floresta Esmeralda era estonteante, ao contrário do resto do planeta, prosperara na adversidade. Resistira através dos anos de consequências da guerra e até mesmo multiplicara em tamanho. Brilhava, mesmo à luz do dia, com seu veneno fatal.

Tivera que ordenar que seus soldados usassem proteção e ficassem pouco tempo em terra firme. Alguns deles eram mais sensíveis e ele achava que não sobreviveriam muito tempo em contato com aquele ambiente tão hostil.

Uma luz vermelha se acendeu na parte inferior de seu painel de vidro e ele clicou sobre ela. O rosto de seu imediato apareceu por cima da imagem do planeta, sério e prático.

"Senhor, pegamos ele em uma das edificações do globo" anunciou. O Imperador acenou, aliviado. Era menos um problema. "Estava com a garota".

Sua garganta se fechou em um nó apertado e ele teve dificuldade em engolir sua saliva. Quando falou, a voz saiu saiu falhada e mais aguda que o normal, mas seu imediato teve o respeito de não esboçar nenhuma reação.

  — Com a garota? — Perguntou, quase não acreditando no que estava ouvindo.

"Sim, senhor" respondeu o imediato. "Ela deu mais trabalho que ele, na verdade".

O Imperador franziu a testa para a declaração e apenas se dignou a concordar coma cabeça. Marco, o imediato, aguardou. O Imperador trincou os dentes, ainda não muito acostumado ao fato de que todos esperavam que ele ordenasse o próximo passo. Não fazia muito tempo em que ele que ouvia ordens da resistência.

  — Você sabe o que fazer com ele — disse. — E ela... Traga-a para mim agora.

Marco concordou, arriscou uma breve reverência e encerrou o contato. A imagem da Terra quase morta estava escura, mesmo depois de encerrada a tela sobre ela e talvez tivesse algo a ver com sem humor. Com um aceno, o vidro escureceu, mas o brilho esverdeado o incomodou, então acenou novamente e a tela ficou inteiramente branca.

Letras começaram a aparecer e ele se pôs a ler o relatório da inserção à Terra, sendo escrito em tempo real por cinco mãos. Foi-se no trecho que narrava sobre o outro lado do planeta, do qual não fizera parte intimamente. Muitos criminosos presos, mais que em Esmeralda. Suspirou.

O tempo não demorou a passar enquanto estava distraído com a leitura, mas seu coração permaneceu atento, estourando de nervoso em seu peito a cada segundo a mais que aguardava.

Não faltava muito agora.

Concentrou-se. Uma lista de prisioneiros de Esmeralda começou a ser redigida em algum lugar da frota. Abriu o arquivo, percebendo que estava em ordem alfabética. Não demorou para reconhecer um nome ou outro, torcendo o nariz.

A incursão se tornava cada vez mais difícil e mais pessoal.

O aviso prévio de movimentação nos arredores do escritório do Imperador do universo apareceu em seu visor. Seu imediato tinha permissão máxima e acesso a todos os cantos da nave, mas o aviso ainda aparecia quando ele se aproximava do escritório e era um pouco mais urgente quando vinha acompanhado. Clicou no aviso e moveu a mão esquerda para que aumentasse.

Um vídeo abriu, a visão dos corredores mais próximos. Marco vinha a frente, sua posição altiva quase o fazia invejá-lo por tamanha naturalidade em posições de poder.

Atrás deles. Três guardas continham uma figura pequena e magra. Os longos cabelos negros balançavam ao protesto da garota, o que fazia o caminho ser ainda mais demorado.

O imperador sorriu. Na tela, apertou o botão verde, desativando o alarme e a visualização dos futuros visitantes. Fechou sua leitura, a tela voltou a ficar preta e a sala escureceu.

E, no breu, ele aguardou.

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