Capítulo 04

O dia foi tenso. Kate me olhava como se quisesse me matar e depois jogar meus restos aos porcos. Eu não queria mexer com alguém como ela, que com certeza pisaria em mim como se eu fosse uma mísera barata

Falei do ocorrido para Vanessa durante o horário de almoço e ela gargalhou.

— Eu não posso acreditar, Olivia. — Ela indagou ainda rindo.

— Foi muito constrangedor.

— Mas como ele é de perto e a sala dele?

— Ah, eu não reparei muito. — Finjo dar de ombros.

Ela me lança um olhar cético.

— Está bem, está bem. Ele foi educado e só. Somente isso, Vanessa. — Me rendo. — A sala dele é muito bonita.

— Podre de rico, tinha que ser né.

Para mim era estranho a visível divisão de classes. Enquanto Dominic tinha ouro e diamantes cravejados em uma simples garrafa de vinho italiano 1886, eu me humilhei mais cedo para continuar em um emprego de recepcionista.

Já estava nos últimos minutos do meu expediente.

— Finalmente, trabalho concluído. — Vanessa diz trocando de roupa.

— O dia foi duro hoje.

— Muito cansativo, e agora a minha noite vai ser fantástica.

— E por quê? — Pergunto.

— Tenho um encontro com um homem maravilhoso, ele é perfeito. — Ela diz fantasiosa.

— Uau, um homem perfeito?

— Quero dizer que aparentemente sabe fazer as coisas, entende? Não existe homem perfeito, dona Olivia.

— Certamente.

Depois de uma conversa divertida, Vanessa vai embora e eu caminho até a estação de metrô mais próxima que ficava a umas quadras da empresa. Ouvindo Don't stop me now do Queen, enquanto fazia o percusso.

Já estava tarde eu estava sozinha, mesmo sendo uma rua muito movimentada durante o dia, a noite tudo fica parado.

Sinto algo estranho e olho para trás, havia um carro preto atrás de mim, o motorista parecia me acompanhar, pois não acelerou muito. Me peguei pensando se não era um dos homens que meu pai devia, Sean ontem chegou a me ameaçar, mas nenhum daqueles traficantes de beira de esquina tinha culhão suficiente para um carro de luxo igual aquele. Eu não deveria ter ficado tanto tempo conversando com a Vanessa, agora tinha apenas meia duzia de pessoas na rua e estava escuro o suficiente para um sequestro relâmpago. O carro se aproxima de mim, eu me assusto e me afasto para mais longe da rua. O motorista finalmente abaixa o vidro e vejo quem era. Dominic.

— Quer que eu a leve para casa? — Perguntou ele.

— N-não, eu estou indo para a estação. — Minha voz falhou.

— Tem certeza? Está bem tarde, não vai me custar nada te levar pelo menos na rua da sua casa. — Insistiu.

— M-mesmo assim, não seria adequado. — Digo cruzando os braços, me protegendo do frio em minha barriga.

Ele olha para frente e b**e repetitivamente seu dedo indicar no volante, parecia pensar.

— Te levo pelo que aconteceu hoje, para ficarmos quites. Está bem?

Continuo relutante. Olho para rua deserta e em seguida para os olhos verdes do meu lindo chefe, o que parecia mais convidativo?

— Tudo bem. — Entro em seu carro. O cheiro que exalava era tão bom, perfume masculino e carro novo.

Ele dá partida, vamos a caminho da minha casa. Eu estava nervosa, aquele homem me tirava da minha zona de conforto. Permaneço olhando para frente, quase não pisquei para ser mais exata, sentia o olhar dele queimar na minha pele pálida, de vez enquanto.

— Você está desconfortável? — Diz ele ainda com a atenção voltada para a rua.

— Não é todo dia que alguém meu chefe me oferece uma carona.

Ele sorrir, mostrando os dentes mais perfeitos que já vi em toda minha vida.

— Não leve isso a mal, eu só a vi sozinha e não quis ser rude. — Continuou — acredite ou não, tento ser um cavalheiro que não faz distinção.

— Está tudo bem.

Eu não olhava em seus olhos, sentia vergonha, por outo lado, ele era o oposto de mim, sempre me olhava nos olhos, sem vergonha e com intensidade, talvez porque seus olhos eram duas piscinas esmeralda.

— Eu confesso que nunca a vi na empresa, é funcionária nova?

— S-sim, eu fui contratada há dois dias por um homem de sanidade duvidosa.

Ele rir do que fale.

— Não seja tão cruel, o setor do Rh é onde eu mais pego no pé. Eles devem ser seletivos. — Paramos no sinal, não havia muitos carros má avenida. Senti seu olhar queimar sobre mim, de novo — assim como eu.

Sua voz ficou rouca der repente, e a expressão de animação sumiu de sua face em um instante. Ele continuava me encarando, eu por um momento de loucura o encarei de volta.

— Olivia? — Ouvi sua voz bem no fundo, era como se eu tivesse apagada ainda de olhos abertos — Pode me dizer sua localização?

— Ò, sim. Me desculpa. — Fecho os olhos e balanço a cabeça. — Queens.

O resto do percurso eu não abri a boca pra falar nem um "a", aparentemente ele percebeu que eu quase babei em seu carro após aquela troca de olhares de segundos.

Finalmente parou o carro em frente à minha casa, que situação estranha.

— Chegamos. — Ele desliga o carro.

— Obrigada, senhor Dominic.

— Foi um prazer, Olivia.

A cada vez que ele falava meu nome eu sentia meu corpo dar pequenos espasmos, o sotaque dele falando meu nome me instigava.

Saio de seu carro e entro logo em casa, ainda estava ofegante e com muita vergonha. Subi e fui direto para o banheiro, liguei o chuveiro e deixei a água escorrer pelo meu corpo. Me lembrava daquele homem e meu coração acelerava. Um sorriso bobo escapou de meus lábios.

Minutos depois saí do banheiro e fui para meu quarto, me joguei na minha cama e fiquei fitando o teto branco.

Era bobagem ficar pensando nele, um homem como Dominic Caccini não era qualquer um, ele tinha muitas outras melhores do que eu, e com certeza mulheres que não tinham tantas rugas de preocupação ou fios de cabelo branco aos vinte e três anos.

Esqueça o Dominic Caccini.

No dia seguinte, acordei mais cedo, não queria ser punida novamente. Levantei e fui direto para o banheiro, tomei banho e vesti minha roupa de sempre, mas antes de sair fui no quarto da minha mãe, dei um beijo em sua testa, porém quando ia sair ela segurou meu pulso.

— Olivia? — Falou fraco.

— Descanse, mamãe. — Passo minha mão em sua cabeça sem um fiapo de cabelo. A quimioterapia já tinha feito seus cabelos loiros caírem há dois anos atrás.

— Estou sentindo muitas náuseas.

Lagrimas quiseram vacilar dos meus olhos, nem eu, nem Abby fazíamos a menor ideia do que nossa pobre mamãe sentia. Ela mesmo com tudo isso se mantinha forte, mas como todos, às vezes ela falhava. Me forcei a abrir um sorriso, entreguei o remédio designado para náuseas.

— Durma, vai ficar tudo bem.

Saio do quarto e suspiro. Desde que meu pai descobriu que minha mãe estava com câncer, após uma longa briga onde ele a culpou pela doença e alguns dias depois fugiu de casa, não o vimos em lugar algum, nem nós, nem os criminosos que ele devia. As únicas lembranças que tenho de meu pai foram as dívidas e as diversas brigas que teve com minha mãe, às vezes essas brigas se tornavam físicas.

Abby ainda era uma criança quando tudo começou a desmoronar. Levaram tudo, até a nossa casa de bonecas que ficava no quintal ao lado da piscina de plástico. O que vemos hoje é apenas resquícios de uma vida que um dia fora feliz, o quintal estava cheio de mato que mal podemos ver acerca do outro lado. Era triste olhar pela janela da cozinha e ver tudo isso, mas não ter forças para arrumar toda aquela bagunça, e a minha bagunça interna muito menos.

Vou para a estação e espero o metrô, quando finalmente chega eu entro e me sento em um banco vazio ao lado de uma moça. Encosto minha cabeça no vidro da janela e penso em tudo que aconteceu ultimamente, Abby sempre dizia que eu era a pessoa mais forte e destemida que ela já conhecera, mas às vezes eu me sentia fraca e impotente, como agora.

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