A noite era surpreendentemente quente para a Serra Gaúcha naquela época do ano. O céu estrelado se estendia como um manto de luz sobre a propriedade, e a lua cheia refletia na superfície da piscina infinita localizada em um dos terraços mais afastados da mansão – um lugar que Christian havia me mostrado mais cedo, garantindo que raramente era usado pela família.— Esse negócio é aquecido? — perguntou Annelise, mergulhando a mão na água com cautela.— Trinta e dois graus, para ser exata — respondi, descalçando os sapatos. — Privilégios dos bilionários.Annelise já estava tirando o vestido leve, revelando o biquíni que aparentemente vinha usando por baixo da roupa o dia inteiro, como se tivesse planejado esse momento.— Então, isso é uma despedida de solteira? — Ela ergueu a garrafa de champanhe que havia "pego emprestado" da adega, seu sorriso travesso iluminado pelo luar. — Meio sem graça, não acha? Sem strippers, sem jogos constrangedores...— Perfeito para mim — respondi, entrando n
O silêncio do quarto contrastava com o caos que se instalara em minha mente. A manhã do casamento finalmente chegara, e eu me encontrava sentada diante do espelho, observando meu reflexo como se fosse uma estranha. O vestido branco – aquele mesmo que Christian havia comprado meses atrás – caía em ondas suaves pelo meu corpo, o tecido delicado capturando a luz que entrava pelas amplas janelas.— Você está absolutamente deslumbrante! — Minha mãe exclamou ao entrar no quarto, seus olhos brilhando com lágrimas contidas. — Minha filha, uma noiva.Tentei sorrir, mas o gesto pareceu forçado até para mim. Não era nervosismo o que sentia, ou pelo menos não o tipo normal de nervosismo que uma noiva deveria sentir. Era algo mais complexo, uma mistura de culpa, ansiedade e, surpreendentemente, uma estranha sensação de antecipação.— Uau! — Annelise parou na porta, boquiaberta. — Alguém vai ter um ataque cardíaco quando te vir nesse vestido, e não estou falando de Giuseppe.— Anne! — repreendeu mi
— Vou matar aquela vadia. Juro por Deus que vou matá-la — Annelise declarou assim que entrou no quarto, fechando a porta com força atrás de si. — Como ela teve a ousadia?Eu estava sentada na beirada da cama, olhando desolada para o vestido agora arruinado. A mancha de vinho tinto havia se espalhado pelo corpete e parte da saia, transformando o branco imaculado em um desastre escarlate. Minhas mãos tremiam, e eu lutava para respirar normalmente.— Precisamos focar, Anne — consegui dizer, engolindo o nó na garganta. — Não temos tempo para vingança agora.Annelise parou de caminhar de um lado para o outro e olhou para o vestido, depois para mim, avaliando a situação.— Qual a chance de conseguirmos outro vestido?— Nula. — Balancei a cabeça, sentindo o pânico crescer. — Nem mesmo Vivian conseguiria um milagre desses em cima da hora.Minha irmã mordeu o lábio, o cérebro claramente funcionando a mil por hora. Enquanto a observava tentando encontrar uma solução, algo começou a se formar em
Os olhos de Christian não deixaram os meus em nenhum momento enquanto eu avançava pelo tapete, meu pai ao meu lado. A mistura de emoções em seu rosto era indescritível – surpresa, admiração e algo mais profundo que não consegui identificar. Quando finalmente cheguei ao altar, meu pai apertou minha mão uma última vez antes de entregá-la a Christian.— Você é a noiva mais linda e mais inusitada que já vi na vida — ele sussurrou, seu sorriso genuíno iluminando seus olhos.— Achei que combinaria com o tema dos vinhos Bellucci — respondi, tentando soar casual apesar do coração acelerado.Christian riu baixinho, um som que apenas eu pude ouvir.— Sempre surpreendente, Zoey Aguilar. É isso que mais admiro em você. Nunca sei o que esperar, apenas que será extraordinário.O celebrante começou a cerimônia, sua voz serena ecoando entre as videiras. O sol da tarde lançava uma luz dourada sobre todos nós, criando uma atmosfera quase mágica. Mantive meus olhos fixos em Christian, com medo de olhar
A festa de casamento se estendeu até o anoitecer, quando as últimas taças de champanhe foram esvaziadas e os convidados finalmente começaram a se despedir. Meus pés doíam nos sapatos de salto que eu havia usado por horas, e meu rosto quase doía de tanto sorrir para as fotografias.— Acho que sobrevivemos — comentou Christian, enquanto subíamos a escadaria principal da mansão.— Quase não acredito — respondi, ajustando uma das pétalas que ameaçava se soltar do vestido. Eu deveria ter me trocado. Usado um vestido diferente para a recepção. Mas o vestido customizado fez tanto sucesso que Vivian me obrigou a ficar com ele até o final.A adrenalina do dia começava a diminuir, dando lugar a um cansaço que se espalhava por meus músculos.Quando chegamos ao corredor que levava aos quartos, parei automaticamente. Uma nova realidade se apresentava: éramos oficialmente marido e mulher. Para onde eu deveria ir agora? Meu quarto de hóspedes, onde minhas coisas estavam, ou...— Pensei que poderíam
Acordei com os primeiros raios de sol infiltrando-se pelas cortinas entreabertas, minha cabeça ainda pesada pelo vinho da noite anterior. Demorei alguns segundos para registrar onde estava – e mais importante, com quem. Christian dormia profundamente ao meu lado, um braço ainda frouxamente ao redor da minha cintura. Observei seu rosto relaxado no sono, tão diferente da expressão controlada que mantinha quando acordado.Cuidadosamente, me desvencilhei de seu abraço e levantei. Tínhamos um voo para pegar – para a Itália. A ideia ainda parecia surreal, quase cômica. Eu, que nunca havia sequer saído do Brasil, agora embarcaria para uma lua de mel em Montepulciano.Por sorte, eu tinha um passaporte válido. Eduardo havia insistido que toda a equipe de RP da Vale do Sol tivesse documentação internacional em ordem, alegando possíveis viagens a feiras de vinho no exterior. Uma das poucas coisas úteis que ele havia feito por mim, afinal.Enquanto me vestia, Christian acordou, seus olhos encontr
O jato particular dos Bellucci pousou suavemente no aeroporto internacional de Milão. Através da janela, vi o sol da manhã italiana lançando uma luz dourada sobre a cidade que, até então, eu conhecia apenas por revistas de moda. Um calafrio de excitação percorreu minha espinha, apesar da exaustão das doze horas de voo – durante as quais Isabella Bellucci fez questão de compartilhar em detalhes seus pensamentos sobre como uma esposa adequada para um Bellucci deveria se comportar.— Não era para irmos direto para Montepulciano? — perguntei a Christian, baixinho, enquanto coletávamos nossas malas.— Mudança de planos — respondeu ele, com um suspiro resignado. — Mamãe insistiu em uma parada estratégica na capital da moda.Isabella se aproximou, elegante mesmo após o voo transcontinental, nem um fio de cabelo fora do lugar.— Queridos, já fiz reservas no Hotel Millani. O mais exclusivo de Milão. — Ela olhou diretamente para mim. — Ninguém visita a Itália sem passar por Milão. Especialmente
O pôr do sol italiano tingiu o céu com tons de laranja e rosa enquanto nosso carro subia por uma estrada sinuosa ladeada por ciprestes. Depois de doze horas num voo com meus sogros e um dia exaustivo em Milão, meu corpo implorava por descanso, mas meus olhos se recusavam a fechar por um segundo sequer – não quando havia tanta beleza ao meu redor.— Estamos quase chegando — disse Christian, apontando para uma curva à frente.Quando o carro finalmente contornou a última curva, perdi completamente o fôlego. À nossa frente, banhada pelo ouro do sol poente, erguia-se uma villa toscana que parecia saída diretamente de um filme. Construída em pedra dourada, com janelas altas emolduradas por persianas verdes, a casa se estendia majestosamente no topo da colina. Videiras perfeitamente alinhadas desciam pelo vale adjacente, criando um padrão hipnótico de verde e terra.— Villa Bellucci — anunciou Christian, um toque de orgulho genuíno em sua voz que raramente demonstrava ao falar da mansão no B