A mansão parecia diferente naquela noite. As luzes suaves criavam um ambiente acolhedor no salão de jantar principal, que raramente era usado para reuniões tão íntimas. A mesa comprida de madeira escura havia sido arrumada com a melhor porcelana da família, taças de cristal cintilavam sob o lustre, e arranjos discretos de flores frescas completavam o cenário.Minha família parecia quase cômica em seu deslumbramento. Matheus tirava fotos discretamente com o celular, enquanto minha mãe passava os dedos sobre os talheres de prata como se temesse quebrá-los. Annelise, por outro lado, havia se adaptado ao ambiente luxuoso com uma facilidade surpreendente, especialmente depois de descobrir que ficaria sentada ao lado de Marco durante o jantar.— Seu avô vai se juntar a nós? — perguntei a Christian, que verificava os últimos detalhes com o mordomo.— O médico o liberou para o jantar. — Ele consultou o relógio. — Deve estar chegando a qualquer momento.Como se invocado por nossas palavras, a
O café da manhã na mansão Bellucci tinha um ar quase irreal. A elegante sala de refeições matinais, com suas janelas amplas permitindo que o sol da manhã inundasse o ambiente, parecia saída de uma revista de decoração. Eu tentava manter a compostura enquanto observava a mãe de Christian, Isabella Bellucci, cortar meticulosamente uma fatia de pão como se estivesse realizando uma operação delicada.Ela não havia parado de falar desde que desceu para o café, seu sotaque italiano sutilmente acentuado quando convinha — principalmente quando falava sobre a "importância das tradições familiares". Cada palavra era cuidadosamente escolhida, cada gesto perfeitamente calculado. Ao contrário de Giuseppe, cuja nobreza vinha de uma autenticidade natural, Isabella exalava uma aristocracia forçada, como se estivesse constantemente lembrando a todos sobre sua posição.— É uma pena que tenhamos chegado apenas ontem — ela comentou, olhando diretamente para mim. — Mal tivemos tempo de conhecer a noiva do
A noite era surpreendentemente quente para a Serra Gaúcha naquela época do ano. O céu estrelado se estendia como um manto de luz sobre a propriedade, e a lua cheia refletia na superfície da piscina infinita localizada em um dos terraços mais afastados da mansão – um lugar que Christian havia me mostrado mais cedo, garantindo que raramente era usado pela família.— Esse negócio é aquecido? — perguntou Annelise, mergulhando a mão na água com cautela.— Trinta e dois graus, para ser exata — respondi, descalçando os sapatos. — Privilégios dos bilionários.Annelise já estava tirando o vestido leve, revelando o biquíni que aparentemente vinha usando por baixo da roupa o dia inteiro, como se tivesse planejado esse momento.— Então, isso é uma despedida de solteira? — Ela ergueu a garrafa de champanhe que havia "pego emprestado" da adega, seu sorriso travesso iluminado pelo luar. — Meio sem graça, não acha? Sem strippers, sem jogos constrangedores...— Perfeito para mim — respondi, entrando n
O silêncio do quarto contrastava com o caos que se instalara em minha mente. A manhã do casamento finalmente chegara, e eu me encontrava sentada diante do espelho, observando meu reflexo como se fosse uma estranha. O vestido branco – aquele mesmo que Christian havia comprado meses atrás – caía em ondas suaves pelo meu corpo, o tecido delicado capturando a luz que entrava pelas amplas janelas.— Você está absolutamente deslumbrante! — Minha mãe exclamou ao entrar no quarto, seus olhos brilhando com lágrimas contidas. — Minha filha, uma noiva.Tentei sorrir, mas o gesto pareceu forçado até para mim. Não era nervosismo o que sentia, ou pelo menos não o tipo normal de nervosismo que uma noiva deveria sentir. Era algo mais complexo, uma mistura de culpa, ansiedade e, surpreendentemente, uma estranha sensação de antecipação.— Uau! — Annelise parou na porta, boquiaberta. — Alguém vai ter um ataque cardíaco quando te vir nesse vestido, e não estou falando de Giuseppe.— Anne! — repreendeu mi
— Vou matar aquela vadia. Juro por Deus que vou matá-la — Annelise declarou assim que entrou no quarto, fechando a porta com força atrás de si. — Como ela teve a ousadia?Eu estava sentada na beirada da cama, olhando desolada para o vestido agora arruinado. A mancha de vinho tinto havia se espalhado pelo corpete e parte da saia, transformando o branco imaculado em um desastre escarlate. Minhas mãos tremiam, e eu lutava para respirar normalmente.— Precisamos focar, Anne — consegui dizer, engolindo o nó na garganta. — Não temos tempo para vingança agora.Annelise parou de caminhar de um lado para o outro e olhou para o vestido, depois para mim, avaliando a situação.— Qual a chance de conseguirmos outro vestido?— Nula. — Balancei a cabeça, sentindo o pânico crescer. — Nem mesmo Vivian conseguiria um milagre desses em cima da hora.Minha irmã mordeu o lábio, o cérebro claramente funcionando a mil por hora. Enquanto a observava tentando encontrar uma solução, algo começou a se formar em
Os olhos de Christian não deixaram os meus em nenhum momento enquanto eu avançava pelo tapete, meu pai ao meu lado. A mistura de emoções em seu rosto era indescritível – surpresa, admiração e algo mais profundo que não consegui identificar. Quando finalmente cheguei ao altar, meu pai apertou minha mão uma última vez antes de entregá-la a Christian.— Você é a noiva mais linda e mais inusitada que já vi na vida — ele sussurrou, seu sorriso genuíno iluminando seus olhos.— Achei que combinaria com o tema dos vinhos Bellucci — respondi, tentando soar casual apesar do coração acelerado.Christian riu baixinho, um som que apenas eu pude ouvir.— Sempre surpreendente, Zoey Aguilar. É isso que mais admiro em você. Nunca sei o que esperar, apenas que será extraordinário.O celebrante começou a cerimônia, sua voz serena ecoando entre as videiras. O sol da tarde lançava uma luz dourada sobre todos nós, criando uma atmosfera quase mágica. Mantive meus olhos fixos em Christian, com medo de olhar
A festa de casamento se estendeu até o anoitecer, quando as últimas taças de champanhe foram esvaziadas e os convidados finalmente começaram a se despedir. Meus pés doíam nos sapatos de salto que eu havia usado por horas, e meu rosto quase doía de tanto sorrir para as fotografias.— Acho que sobrevivemos — comentou Christian, enquanto subíamos a escadaria principal da mansão.— Quase não acredito — respondi, ajustando uma das pétalas que ameaçava se soltar do vestido. Eu deveria ter me trocado. Usado um vestido diferente para a recepção. Mas o vestido customizado fez tanto sucesso que Vivian me obrigou a ficar com ele até o final.A adrenalina do dia começava a diminuir, dando lugar a um cansaço que se espalhava por meus músculos.Quando chegamos ao corredor que levava aos quartos, parei automaticamente. Uma nova realidade se apresentava: éramos oficialmente marido e mulher. Para onde eu deveria ir agora? Meu quarto de hóspedes, onde minhas coisas estavam, ou...— Pensei que poderíam
Acordei com os primeiros raios de sol infiltrando-se pelas cortinas entreabertas, minha cabeça ainda pesada pelo vinho da noite anterior. Demorei alguns segundos para registrar onde estava – e mais importante, com quem. Christian dormia profundamente ao meu lado, um braço ainda frouxamente ao redor da minha cintura. Observei seu rosto relaxado no sono, tão diferente da expressão controlada que mantinha quando acordado.Cuidadosamente, me desvencilhei de seu abraço e levantei. Tínhamos um voo para pegar – para a Itália. A ideia ainda parecia surreal, quase cômica. Eu, que nunca havia sequer saído do Brasil, agora embarcaria para uma lua de mel em Montepulciano.Por sorte, eu tinha um passaporte válido. Eduardo havia insistido que toda a equipe de RP da Vale do Sol tivesse documentação internacional em ordem, alegando possíveis viagens a feiras de vinho no exterior. Uma das poucas coisas úteis que ele havia feito por mim, afinal.Enquanto me vestia, Christian acordou, seus olhos encontr