A possibilidade pairou no ar, quase tangível. As palavras de Anne reverberavam na minha mente como um eco impossível de ignorar. Quebrar o contrato? Transformar nossa farsa em realidade? Era algo que eu nem me permitia considerar, com medo de me perder em falsas esperanças.Mais uma vez, as palavras de Elise voltaram para me assombrar: "Ninguém nunca vai escolher alguém como você." Um homem como Christian Bellucci – rico, sofisticado, herdeiro de um império vinícola – escolheria voluntariamente ficar comigo quando não precisasse mais? Quando o acordo estivesse cumprido e seu avô seguro?— Eu não sei se ele...— Você perguntou?— Claro que não!— Então como sabe? — O tom dela era exasperado. — Olha, se ele está te mostrando lugares especiais, te dando joias, fazendo sexo incrível nos vinhedos...— Eu não disse que foi incrível!— Por favor, você não precisou dizer. É a Itália. Tudo é mais sensual aí. — Ela dispensou meu protesto. — O ponto é: esses não são comportamentos de alguém apen
Nossa última noite na Itália coincidiu com o encerramento do Festival da Colheita. Já estávamos na festa há quase duas horas, circulando entre barracas de comida, vinhos locais e artesanato. O festival estava ainda mais movimentado do que na primeira noite, com músicos tocando em cada esquina e jovens dançando nas ruas de pedra.Christian parecia completamente à vontade – mais relaxado do que eu jamais o vira no Brasil. Ele conversava em italiano fluente com os moradores locais, muitos dos quais o conheciam desde criança, e me apresentava com um orgulho que não parecia fingido. Para a comunidade local, éramos apenas um jovem casal apaixonado, aproveitando a noite italiana.— Você precisa experimentar este — disse ele, entregando-me um pequeno copo de um líquido dourado. — Licor de limão caseiro. A receita da Signora Ricci é lendária por aqui.Provei, sentindo o calor do álcool misturado com a doçura cítrica.— É delicioso! — exclamei, impressionada.A senhora idosa que nos servira sor
O último dia na Itália foi preenchido com despedidas. Despedida da villa, com seus afrescos no teto e janelas que emolduravam vistas de cartão postal. Despedida de Lucia, que me abraçou como se eu fosse família de longa data, sussurrando bênçãos em italiano e me entregando um pequeno pacote que continha, descobri depois, um conjunto de especiarias da Toscana "para quando sentisse saudades". Despedida de Bianca, que prometeu me visitar no Brasil em breve.Acima de tudo, despedida da versão de nós mesmos que tínhamos sido aqui.Porque agora o tempo estava acabando. A realidade se aproximava, implacável como as nuvens de tempestade que escureciam o horizonte durante nossa viagem para o aeroporto de Florença.— Você acha que Lucia vai ficar bem? — perguntei, tentando preencher o silêncio que se instalara entre nós desde a conversa na noite anterior. — Ela parecia tão emocionada quando nos despedimos.— Lucia sempre foi emotiva — respondeu Christian, os olhos fixos na estrada. — Mas ela é
Meus dedos se enterraram nos lençóis enquanto meu corpo arqueava em êxtase. Christian segurava firmemente meus quadris, seu ritmo impetuoso e implacável. O quarto estava imerso na penumbra, apenas a luz da cidade entrando pelas frestas da persiana, criando sombras dançantes em nossos corpos entrelaçados.— Christian... — meu gemido saiu como uma súplica quando ele intensificou seus movimentos, seus olhos nunca deixando os meus.Havia uma urgência em cada toque, cada beijo, cada investida – como se tentássemos recuperar algo que havíamos perdido na transição entre a Toscana e o Rio. Ou talvez estivéssemos tentando criar algo novo, algo que pertencesse a este lugar, a esta realidade.Ele capturou meus lábios em um beijo profundo e possessivo, abafando meus gemidos enquanto seus dedos encontravam o ponto exato onde eu mais precisava dele. Meu corpo inteiro estremeceu sob seu toque experiente, a tensão crescendo a cada segundo.— Olhe para mim — ordenou ele, sua voz rouca de desejo.Abri
— Então... você chegou bem? — perguntei, enrolando uma mecha de cabelo em volta do dedo. O telefone estava no viva-voz sobre a ilha da cozinha enquanto eu preparava um café.— Sim, sem problemas — respondeu Christian, sua voz soando estranhamente formal através do alto-falante. — O voo foi tranquilo. Como está sendo seu primeiro dia de volta?— Normal. Bem normal. — Fiz uma careta para mim mesma. Desde quando eu usava a palavra "normal" duas vezes na mesma frase? — Ainda estou arrumando as malas, organizando as coisas.Um silêncio desconfortável se instalou. Podia ouvir o som de papéis sendo mexidos do outro lado da linha. Christian provavelmente já estava em seu escritório, voltando à rotina.— E o projeto? — perguntei finalmente, tentando parecer interessada sem soar desesperada por manter a conversa.— Bem. Estamos tendo alguns problemas com o solo em uma das áreas, mas nada que não possamos resolver.— Isso é... bom. — Outra pausa constrangedora. — E Giuseppe?— Animado com sua vi
~ Christian ~O café da manhã na propriedade dos Bellucci na Serra Gaúcha sempre foi uma refeição solitária para mim. Durante minha infância e adolescência, era raro ver meus pais à mesa. Os funcionários mantinham distância respeitosa, e eu me acostumei a comer em silêncio, revisando mentalmente meus compromissos do dia.Exceto quando Giuseppe estava presente.— Isto não é café da manhã! — exclamou meu avô, olhando com desaprovação para meu café preto e a torrada que eu mal havia tocado. — Na minha época, homens comiam como homens! Ovos, pão fresco, presunto... — Ele gesticulou para o seu próprio prato abundante. — É por isso que sua geração está sempre ansiosa. Não comem direito!Sorri, apesar do cansaço. Havia dormido mal, acordando várias vezes durante a noite, meu corpo procurando instintivamente por Zoey ao meu lado. O telefonema constrangedor pela manhã só piorou meu humor.— Estou bem, Nonno. Apenas sem muito apetite hoje.Giuseppe me estudou com aqueles olhos perspicazes que p
O jatinho particular da família Bellucci sobrevoava o território gaúcho, e eu ainda não conseguia me acostumar com a ideia de que, pelo menos tecnicamente, esta aeronave também era "minha". Annelise, por outro lado, já parecia perfeitamente confortável com a nova realidade.— Explica para mim de novo por que você ainda paga aluguel naquele apartamento minúsculo? — perguntou ela, reclinando-se no assento de couro branco enquanto uma aeromoça lhe servia mais champanhe. — Porque sinceramente, maninha, isso aqui é... — Ela fez um gesto abrangente para a cabine luxuosa. — É outro nível.— Anne, fala baixo — sussurrei, embora soubesse que a tripulação estava treinada para ser discretamente surda às conversas dos passageiros.— Por quê? — Ela riu. — É a verdade. Você é praticamente dona desta coisa magnífica e age como se fosse um táxi qualquer.— Não sou dona de nada — corrigi automaticamente. — É de Christian.Anne revirou os olhos de forma tão exagerada que quase pude ouvir o movimento.A
Eu estava mesmo fazendo isso.Andava de um lado para o outro na antessala do salão de festas do Hotel Milani, um dos lugares mais luxuosos da cidade, tentando convencer a mim mesma de que aquilo era uma boa ideia. Contratar um gigolô para fingir ser meu noivo? Deus me perdoe, mas eu não tinha escolha.Meu ex-noivo estava prestes a se casar. E não com qualquer pessoa, mas com a minha ex-melhor amiga. Sim, eu fui duplamente traída, num pacote "compre um, leve outro" que eu nem sabia que estava assinando. Se existisse um programa de fidelidade para otárias, eu já teria acumulado pontos suficientes para resgatar um tapa na cara e uma passagem só de ida para o fundo do poço.Ignorar o casamento? Era o que eu queria. Mas Elise fez questão de me ligar pessoalmente! Claramente ela estava querendo rir de mim, me humilhar. Mas eu não podia perder aquela briga. Então disse que iria. Mas pior: eu disse que iria acompanhada pelo meu noivo incrivelmente gato e rico!— Rico? — Ela riu, parecendo não