Morte

- Vamos time, vamos time!" Sons de torcida ecoavam no estádio.

- Camila, aqui aqui!" disse Marcos.

- Oi, amor! Vim o mais rápido que pude. Demorei?" Respondeu Camila, enquanto pegava refrigerante das mãos de Marcos.

- Não, Camila, você está no horário." Respondeu Marcos, sorridente.

- Vaiiiii, filhoooooooooo!" gritou Camila, o mais alto que pôde.

- Camila observou que seu telefone não parava de tocar. Ela tentou ignorar por um tempo, mas não conseguiu aguentar.

- Ela olhou para Marcos, que estava fixado no jogo do filho, e depois para o celular, vendo que a chamada era de Simon.

- Ela tentou disfarçar, mas sabia que iria tornar uma briga ali. Então, ela jogou seu copo de refrigerante ao chão e criou uma cena.

- Droga! Derrubei tudo." Disse ela, fingindo indignação.

- Quer que eu busque outro, Camila?" perguntou Marcos, com tom de carinho.

- Não, amor, eu mesmo busco. Quer algo?" respondeu ela, impaciente.

- Não, não, não demore. Tenho certeza que Benício vai fazer uma grande defesa hoje." Respondeu Marcos, olhando sempre para o campo com orgulho do filho.

- Camila balançou a cabeça com sinal de sim e saiu do meio da multidão.

- Oi, Simon! Você me ligou? O que posso ajudar?"

- Camila, conversei com a Bárbara e achei estranho uma coisa. Ela tem um documento que a torna responsável legal da empresa na ausência dos Kity, e ela não permitiu a averiguação e nem entrevista na fábrica. E tem mais, encontramos o Sr. Kity... quer dizer, uma parte dele." Respondeu Simon,

- Camila? Oi, como você está, querida?" Era nada mais nada menos que a sogra de Camila.

- Oi, Dona Odete! Vim buscar um refrigerante. Aceita?"

- Não, querida, obrigado. Eu estava de longe vendo você desesperada com o telefone. Algum problema? Quer o meu emprestado? A minha operadora é ótima." Disse Odete, se gabando do plano de

- Alô?"

- Camila, o chefe está aqui. Quer que você venha imediatamente à casa dos Kity." Disse Simon, com ar de desespero.

- Simon, eu estou muito ocupada no momento..." respondeu ela, olhando a cara da Odete, que fazia questão de ouvir a conversa.

- Camila, você conhece muito bem o Pablo. Acho bom você aparecer aqui, ou esse caso será passado para Tânia." Respondeu Simon, com voz baixa.

- Ok, estou a caminho..." disse Camila, suspirando de decepção.

Ela precisava ir, não tinha escolhas. Então, ela seguiu em direção ao carro, colocou o cinto e foi em direção à casa dos Kity. Ela tentou ligar em meio à viagem para Marcos, mas ele não atendia. Ela pensou que depois conversaria com ele e explicaria a situação, ele iria entender.

Chegando na Casa dos Kity, parecia déjà vu. Mesmas pessoas, mídia, cartazes, seus colegas, mas agora seu chefe os acompanhava. Ela foi em direção a eles, que estavam dessa vez na cozinha.

- Boa tarde, rapazes. E aí, quais novidades? - disse ela, debruçada sobre a pedra da cozinha.

- Camila, vocês olharam a cozinha? - disse Pablo, com tom de desconfiança.

- Sim, Pablo. Por que acharam corpo aqui? - respondeu ela, olhando o ambiente.

- Abra o congelador, parece quente aqui, não? - disse Pablo, ironizando a situação.

Camila achou estranho, mas abriu. Ela olhou uns pacotes de carne, sorvetes e congelados, quando deparou com uma cabeça entre eles. O susto foi tão grande que ela tropeçou em cima de Jorge, que a agarrou pela cintura, para que ela não caísse em cima de Pablo.

- Esse é o Sr. Kity? - disse ela, apavorada.

- Sim, próxima vez que você for averiguar um local, por favor, olhe tudo. Já basta de tantas besteiras que você fez nesse caso, não? - disse Pablo, inconformado.

Ela apenas balançou a cabeça e foi fazer mais uma varredura nos eletros e armários da cozinha. Não encontrou mais nada. Ela viu o celular vibrar e era Marcos. Ela achou melhor não atender naquele momento, pois sabia que viria discussão e aquele não era o momento. Ele insistiu algumas vezes, mandou mensagens que ela achou melhor não ver para não atrapalhar sua mente no momento. Viu a ligação da sogra e deixou tocar. Seu pensamento era: "Essa vaca também querendo dar uma de advogada do Diabo, não dá".

Camila voltou aos rapazes. Pablo já tinha partido.

- E agora, o que mais vamos encontrar? - disse Simon.

- O resto do corpo do Sr. Kity - disse Camila, olhando para Jorge, que não saía do celular.

- Camila, preciso que você entre de cabeça no trabalho. Você está na beira de ser demitida - disse Jorge.

- O que você está dizendo? Eu dou o meu melhor - argumentou Camila.

- Pablo me ofereceu o seu cargo - disse Jorge.

- Como assim? Todos aqui precisam mesmo dessa competição? - disse Simon, indignado.

- Pablo não sabe o que estou passando em casa... Enfim, eu vou conversar com ele. Obrigado por ser honesto comigo, Jorge! - disse Camila, segurando a mão de Jorge com ar de agradecimento.

O telefone de Camila já tinha mais de 30 mensagens de Marcos Ela foi até o carro, sentou e resolveu ver as mensagens.

"- Camila, o Benício bateu a cabeça na grade e parece que foi bem feio. Venha para o hospital agora mesmo."

"- Camila, me atende. Nosso filho está em cirurgia."

"- Camila..."

Todas as mensagens diziam do estado do menino que acidentou, mas uma em especial a preocupou mais que todas:

"- Como sempre, você chegará tarde demais."

Camila acelerou o carro, saiu cantando pneu desesperadamente em direção ao hospital. Estacionou o carro, pegando 2 vagas, saiu desesperada à recepção, perguntou sobre Benício. As recepcionistas a encaminharam à sala de cirurgia. Chegando lá, ela encontrou Marcos em prantos, Odete e o sogro e tios todos chorando desesperados.

- Marcos, cadê meu filho? Cadê ele? Está tudo bem? Marcos, me responda! - gritava Camila.

Marcos não conseguiu falar, apenas se jogou no chão e suplicava:

- Meu Deus, não! Traga-o de volta! Não, não eu não vou conseguir sem ele...

- Marcos? Cadê o Benício? - gritava Camila, quando foi amparada por Odete.

- Filha, sinto muito. Ele se foi - disse ela, com os olhos escorrendo de lágrimas.

Camila correu em direção às salas, olhou apenas o corpinho de seu filho coberto por um lençol azul. Ela o pegou em seu colo, o sacudiu

Camila foi sedada por médicos e enfermeiras do hospital e acordou algumas horas depois em sua casa. Ela acreditou ter sido um sonho, mas quando levantou e desceu as escadas, viu todos os familiares e amigos vestidos de preto. Ali, ela soube que agora não era ela quem trabalhava com a morte, mas sim a morte que havia trabalhado com ela, levando o seu filho. A dor e o luto a consumiam, e a realidade cruel a atingia com força. A perda do seu filho era uma ferida profunda que parecia não ter cura.

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