Familia

Chegando à delegacia, Camila olhou para o celular para ver as horas e pensou: "São 10h00, ainda dá tempo de eu participar de uma das entrevistas com os vizinhos dos Kitys".

- Bom dia a todos! - disse Camila a todos na delegacia.

- Bom dia, Camila - respondeu Carlos, um dos seus subordinados.

- Carlos, já chegaram algumas testemunhas? Preciso abordá-las.

- Camila, chegou um casal de vizinhos. Estão na sala de interrogatório - respondeu Carlos enquanto revirava alguns papéis em sua mesa.

- Ótimo, estou indo até lá - respondeu Camila, caminhando rapidamente em direção à sala de interrogatórios.

Chegando à sala, ela viu um jovem casal: uma moça alta com um vestido alaranjado, sandálias rasteiras e uma bolsa linda amarelada. Seus cabelos eram de cor escura, com um tom de castanho acobreados. Tinha lindos olhos azuis. O rapaz era mais modesto, mas também muito vaidoso, com um relógio caro e cabelos cacheados muito definidos. Camila percebeu que eles estavam entrelaçando os dedos das mãos, como se um estivesse dando força ao outro, talvez por conta do nervosismo. Ali, ela já sabia que era a primeira vez de ambos na delegacia.

- Bom dia. Eu vou fazer algumas perguntas em individual e depois conversamos em grupo. Tudo bem? - disse Camila, encarando os dois pelos olhos.

Eles acenaram com a cabeça. Então, a moça saiu e ficou primeiro o rapaz.

- Bom, deixa eu ver... - falava Camila, revirando a folha de sua mesa com as informações do casal.

- Vai demorar muito? - disse o rapaz.

- Não, o suficiente para que possamos entender o caso. Você se chama Arthur, certo?

- Sim - respondeu cautelosamente Arthur.

- Certo, e você tem 28 anos, certo? - perguntou Camila, ainda revirando os papéis.

- Sim - respondeu novamente breve o rapaz.

- Arthur, você pode me descrever exatamente o que você ouviu naquela tarde? - perguntou Camila, cruzando os braços e aproximando de si um copo com café.

- Era por volta das 12h00 quando eu vi o Exdras na portaria do condomínio e achei estranho porque ele estava com um corte na cabeça e um punhado de gelo. Eu me ofereci para ajudar e perguntei se estava tudo bem. Ele disse que tinha caído no campo de golfe. Depois, eu fui embora para casa e minha esposa disse ter ouvido barulhos na casa dos Kitys. E só o que eu sei - disse Arthur.

- E o que sua esposa disse ter escutado? - perguntou Camila, enquanto anotava em seu bloco de notas.

- Que escutou gritos e chingamentos, e depois um barulho de murmúrio, como se alguém estivesse com muita dor - respondeu Arthur.

- Certo, você lembra de algo mais que possa ajudar? - perguntou Camila, desviando a atenção para o braço do rapaz que estava machucado.

- Infelizmente não, mas acredito que algo muito sinistro aconteceu. Talvez todos tenham brigado entre si - respondeu Arthur, questionando Camila.

- Não sabemos de nada ainda, Arthur. É por isso que queremos todos os detalhes possíveis - respondeu Camila, enrolando o cabelo com os dedos.

Um silêncio apareceu por alguns momentos.

- Sabe aquela família? Não era uma família comum. Eles nunca brigavam, nunca sequer você ouvia uma discussão. Era apenas gargalhadas e sorrisos, sons de festa. E às vezes eu até me perguntava como eram tão felizes daquele jeito. Você sabe que tudo era tão perfeito que parecia ser estranho - disse Arthur, como um tom de desabafo.

- Ok, Arthur. Última pergunta: como você se machucou? - perguntou Camila.

Arthur olhou para Camila, deu um sorriso de deboche, estendeu o braço e resmungou:

- Dra. Camila, né? Camila, eu não matei ninguém, se é o que você quer saber. Eu apenas me arranhei enquanto apanhava umas laranjas na chácara de meu sogro. Eles podem confirmar o que eu disse, se for o caso.

- Certo, todos são culpados até que provem o contrário, se tratando de crime como esse, certo? - disse Camila, encarando-o pelos olhos.

- Estou liberado?

Perguntou o rapaz

- Sim peça a sua esposa para que entre por favor. Pediu Camila ao rapaz.

Arthur saiu e mais que depressa sua esposa já estava sentada frente a Camila.

- Seu nome? - perguntou Camila, já com a resposta em mãos.

- Maria Clara - respondeu a moça.

- Qual seu sobrenome? - perguntou Camila com um suspiro de cansaço.

- Kity, mas gostaria de dizer que não tenho parentesco algum com eles. Quero dizer, se eu tivesse, eu seria milionária, não estaria me casando com um... - respondeu Maria Clara, sendo interrompida por Camila.

- Você casou porque seu esposo é milionário? - perguntou Camila.

- Não, não, eu amo Arthur. Eu apenas quis ficar fora desse caso e deixar claro que não tenho nada a ver com aquela família - respondeu Maria Clara.

- Entendi, mas vamos direto aos fatos... - disse Camila, olhando novamente para o relógio que já marcava 11h30.

- Eu estava trabalhando no meu artigo, digo, sou jornalista, quando escutei os Kitys discutindo algo inusitado, porque ali era como um conto de fadas. Então meu esposo chegou e eu contei a ele, e quando vimos, já estava todo um tumulto em nosso condomínio - respondeu Maria Clara.

- Maria Clara, você conheceu a família? - perguntou Camila.

- Ah, vezes ou outra nós encontrávamos nas reuniões do condomínio, apenas - respondeu Maria Clara, cutucando o esmalte que saía de suas unhas longas.

- Além de vocês, mais alguém ouviu? - perguntou Camila.

- Ah, quase todos. Os gritos eram aterrorizantes - respondeu Maria Clara.

- Dava pra ouvir o que se dizia? - perguntou Camila, anotando em seu bloco.

- Não, só mesmo murmúrios e gritos de dor, como "ai, ai" coisa assim - respondeu Maria Clara.

Camila precisava de mais informações, mas estava com o horário apertado para o jogo do filho. Então ela apenas finalizou a conversa com mais algumas perguntas de como era a família e como era a convivência com todos, e as respostas eram sempre as mais perfeitas possíveis. Ela deixou o casal ir embora e ficou de fazer um interrogatório com ambos no dia seguinte na casa do casal.

Pegou sua bolsa e foi em direção à escola de futebol de Benício, enquanto isso, no caminho, ela pensava no quanto a família é importante e o quanto as pessoas observam tudo ao redor, e ela e o esposo brigavam diariamente por conta da ausência que ela tinha em casa por causa do trabalho

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