A magia toda a sufocava. Ela estava presa em uma roda de fogo com a música mais calma que já tinha escutado, mas que não fazia jus da situação. A risada macabra se misturava com a melodia. O ar não lhe chegava aos pulmões fazendo com que a mesma se debatesse à procura de uma salvação. Ela viu o rosto enrugado passar pelas chamas.— Irá queimar, criança— a velha disse.Evie perfurou a mão com as unhas pontiagudas e a falta de ar já se tornava horrível. A velha ainda a observava com satisfação no rosto. A menina ficou tonta e no último momento de sua lucidez viu os olhos da fera se inclinando sobre ela.**Evie acordou assustada. Percebeu um lençol diferente em uma cama diferente. O quarto era decorado com rosas rubras e folhas verdes, ela percebeu estar escuro pela pouca quantidade de luz que aquele quarto possuía. Era um pouco frio e a sensação de estar sendo observada era constante. Parecia um sonho encantada estar naquele cômodo, entretanto a aura daquele local não parecia nada en
Observar tão de perto as íris que a perseguiam, fez seu corpo inteiro arrepiar. Instantaneamente sentiu o toque em seu cotovelo queimar sua pele e o coração, já afoito, bateu tão rápido que ela podia ouvi-lo. Com os olhos arregalados, Evie gritou tentando, sem sucesso, se afastar do toque estranho.Aquele mesmo homem era o monstro a quem seus pesadelos pertenciam. Um homem que virava fera!Ela tentou se soltar,mas quanto mais se mexia, mais se notava a força do homem.Evie parecia uma boneca se remexendo nas mãos do dono. —Me solte— Implorou aos berros.Ele não soltou. A arrastou sem dificuldade alguma de volta ao castelo com o semblante sério e cansado. O homem tornou a encara-la quando ela se cansou e parou de se debater.—Não vou machucá-la— Garantiu com um suspiro quase entediado. Evie não acreditou em nenhuma palavra que saia de seus lábios, mas sabia que não se soltaria dele se debatendo com desespero. Ela tentou regular sua respiração enquanto as portas principais se aproxima
Evie parou de soluçar depois de algum tempo. Os olhos amistosos de Troye ainda estavam gravados em sua mente. Ela até havia se esquecido, por um momento, de que chorava por culpa dele, por ele ter feito ela perceber as coisas como são. A menina de alguma maneira acreditou quando ele disse que não iria machucá-la. Seus olhos exalavam verdade e doçura. Naquele momento, Evie estranhou o fato do homem ser mesmo a fera que dizia ser, mas assim que ele negou seu pedido de saída, soube exatamente que nunca sairia daquele castelo. E que ele realmente era uma besta. E ela…sua prisioneira. Evie se levantou da cama e decidiu sair do quarto. Quando abriu a porta, conferiu se não havia ninguém por perto, estranhando o fato de um lugar tão grandioso estar totalmente vazio. Ela saiu pelos corredores a fim de encontrar algo que a fizesse esquecer dele e de todos os seus entes. Se não pudesse fugir do castelo — ainda — ela gostaria de explorá-lo para se informar onde estava. A garota não se lembra
CORTE DO AR- HÁ 50 ANOS Ele encarava seu reflexo observando como suas íris destilavam ódio. Um criado ajeitava seu terno branco enquanto Troye analisava ao redor, com um ar enojado. De sua janela conseguia ver as grandes torres de pedra infestadas de soldados armados e os muros decorados de rosas vermelhas com fadas do fogo enfeitando seus portões. Sentia o cheiro do pó mágico invadindo suas narinas e ouvia as criaturas das três cortes chegando em seus portões. O vento forte sussurrava em seus ouvidos que os minutos estavam passando rápido demais e que o tempo não possuía paciência alguma diante de sua situação. Troye odiava tudo o que seus olhos capturavam. Seu castelo estava com a decoração mais feia que já tinha visto e seus criados já não eram mais os mesmos. A rosa tatuada em seu pulso estava quase aberta por completo e o impaciente tempo estava prestes a terminar. Quando a coroação chegasse, seria seu fim. O fim de sua vida. O fim de seu reinado. Ninguém gostaria de ter u
Seus passos eram desleixados pela floresta densa e esbranquiçada. A neve caia em peso grudando em sua capa comprida e quente enquanto ela vagava por entre as árvores sem folhas, afundando os pés na neve fofa e gélida. A garota sentiu alguém se aproximando, mas não se importou em verificar quem poderia ser, apenas continuou sua caminhada arrastando o vestido vermelho como sangue pelo cenário claro. Evie sentiu a presença estranha cada vez mais próxima, estava perto o bastante para que conseguisse enxergar a silhueta masculina, embora não conseguisse identificar suas feições, pois seu rosto era um borrão escuro e esganiçado. Desse modo, ela desistiu de observar o homem sem rosto e seguiu para longe, se emanharando nos confins da floresta. O sol estava se pondo junto ao sorriso genuíno que a menina possuía ao começar sua caminhada inocente. Avistou de longe algo que lhe chamou atenção. Era vermelho, da cor de seu vestido, e cintilava sobre a neve branca. A rosa vermelha brilhava int
Batom, pó, pérolas e seda estavam jogados em frente a Evie. Suas irmãs invadiram seu quarto alegando que ela precisava de ajuda para o grande baile. Evie não queria ir, mas se dissesse algo às suas irmãs, teria que contar do noivado arranjado e isso era algo que a garota estava mantendo a sete chaves. Pelo menos até pensar em um plano decente. Heloisa e Beatriz ajeitavam tudo com um grande sorriso no rosto enquanto Evie suspirava olhando da janela a neve cair. Ela estava pensando que a noite poderia passar despercebida. Não queria nem ao menos colocar um vestido grandioso como os de suas irmãs. A vontade de atazanar o Visconde no baile havia passado e agora a garota gostaria apenas de silêncio para pensar com clareza. Ela precisava ser esperta se quisesse vencer Johnny. — Vamos, Evie — Beatriz a puxou pelo braço colocando-a no centro do quarto. Bia e Heloisa a rodearam uma de cada vez enquanto Evie mordia os lábios olhando para o vestido verde simples que usava. Estava pensando e
As irmãs de Evie derraparam abruptamente no meio do caminho, tamanho era a surpresa ao ouvirem as palavras da mais nova. Os convidados tentavam de todo modo se aproximar dos anfitriões a fim de ouvir a conversa completa. Até mesmo os músicos cochichavam entre si, deslumbrados com a possível fofoca da elite. Entretanto, para Evie, aquilo não era um espetáculo qualquer, era a vida de sua família seguindo um rumo decepcionante e infeliz. O visconde sorria tão descaradamente que não seria possível esconder sua vitória. — O que está fazendo? — O duque, pela primeira vez, parecia genuinamente preocupado com a filha mais nova. Evie passou grande parte da sua vida esperando receber aquele olhar, mas naquele momento não sentia nada que não fosse revolta. Estava decepcionada e com raiva.— A escolha certa — Disse em tom amargo— Já que o senhor optou pela errada.— Não — Falou entre os dentes — Não tomei a escolha errada. Você não deveria ter se metido nesse assunto, Evie.— O que está aco
A fera sentiu alguém tocar o muro de espinhos. Em específico uma das três grandes rosas. E isso o assustou. Com um rugido feroz, correu pela floresta de sua corte, assustando as pequenas criaturas que habitavam a noite nebulosa. Troye berrou sobre o vento observando o muro — que dividia o seu mundo do mundo asqueroso dos humanos — cada vez mais próximo. Quando enfim chegou a divisa, parou abruptamente sobre o local exato em que as rosas encantadas eram protegidas. Havia uma para cada corte: Ar, Fogo e Gelo. Significavam a criação. A existencia de todas as criaturas mágicas. Elas criaram raizes juntos as plantas seculares que encobriram a barreira. Eram protegidas pelo espirito dos deuses dos três elementos do mundo mistíco. E uma delas não estava ali. Ninguém além dos guardiões poderiam tocá-las. Troye observou a rosa de sua corte e da corte de Gelo intactas. Mas a rosa de fogo havia sumido e o guardião legítimo, herdeiro do fogo, estava muito longe para necessitar de sua r