Elise sempre soube que sua vida não lhe pertencia. Adotada por uma família nobre após a misteriosa morte de seus pais, ela foi criada para ser uma sombra, uma ilusão. Seu propósito? Assumir o lugar da verdadeira herdeira e se casar com os reis lycans de Vittoria, selando uma aliança imposta pelo sangue e pelo destino. Agora, vestida em seda e envolta em medo, Elise vê diante dos dois lobos mais poderosos do reino – Astor, frio e calculista, e Lucian, enigmático e sedutor. O ritual liga a eles de forma irrevogável, mas o que deveria ser apenas um sacrifício silencioso se transforma em um jogo perigoso de segredos e poder. Há algo que os reis não lhe contaram. Algo que se esconde por trás de seus olhares intensos e de suas palavras cuidadosamente medidas. A guerra às portas de Vittoria é apenas parte do problema, e a insistência do conselho de um herdeiro pode significar muito mais do que Elise está disposta a aceitar. Presos em um casamento solicitado, cercado por intrigas e mistérios ancestrais, Elise precisa decidir: manter a farsa e sobreviver ou arriscar tudo para descobrir a verdade sobre seu passado e o motivo real de sua união com os reis. Mas será que a verdade será libertada… ou destruída?
Ler maisElise suspirava pela décima vez consecutiva, enquanto apertava suas mãos suadas uma contra a outra. O vestido branco de tecido fino e caro parecia ter o caimento perfeito em seu corpo na frente do espelho, mas a jovem não conseguia sorrir ou ao menos se sentir bela. O véu de seda, delicado e impecável, cobria parcialmente seu rosto, um lembrete cruel de que ela deveria se manter quieta, pelo menos até o momento do voto de sangue. Este, que selaria sua vida com os dois lobos mais poderosos de todo o reino de Vittoria.
Casamento. O dia que para muitas jovens deveria ser o mais mágico de suas vidas era para Elise uma mistura de pavor e repulsa. Mesmo que ela soubesse desde os catorze anos o motivo de ter sido adotada após a morte trágica de seus pais, nunca havia conseguido aceitar seu destino. Não era uma filha para aquela família, mas uma peça no tabuleiro político, um peão cuidadosamente moldado para se encaixar no lugar da filha verdadeira dos Delacroix. O pior de tudo? Ela aceitara.
Ou, pelo menos, permitirá ser levada como um cordeiro ao altar.
O peso daquela decisão lhe apertava o peito como uma corrente invisível. Os criados iam e vinham pelo quarto, verificando a barra do vestido, ajeitando seu cabelo, sussurrando palavras de ânimo que Elise não conseguia ouvir de verdade. Sua mente estava longe, perdida nos anos que antecederam aquele momento.
A primeira vez que escutou sobre o pacto fora uma noite de inverno, quando sua mãe adotiva a chamou para um encontro a sós no salão de chá. Era raro que a senhora Delacroix a tratasse com tamanha delicadeza. Elise se lembrava do calor da lareira, da porcelana fria entre seus dedos e da voz meticulosamente calculada de sua nova mãe.
— Você é uma menina inteligente, Elise — começara a mulher, servindo-lhe uma xícara de chá fumegante. — E, acima de tudo, é uma sobrevivente.
Elise nada dissera, apenas aguardara, sentindo o presságio amargo em seu peito.
— Desde o momento em que pisou nesta casa, houve um propósito para você — continuou a senhora Delacroix, mexendo o chá como se discutisse trivialidades. — O casamento com os reis lycans de Vittoria. Precisávamos de alguém que fosse capaz de assumir o lugar de minha filha, e você... bom, você se encaixou perfeitamente.
A xícara tremeu em suas mãos naquele dia, mas Elise não a deixou cair. Nem protestou. Nem fugiu. Sabia que não havia para onde correr.
Agora, anos depois, ali estava ela, vestida de branco, pronta para selar um destino que nunca escolhera.
— Senhorita, está na hora.
A voz de uma das criadas a trouxe de volta ao presente. Elise sentiu o coração acelerar, seu corpo rígido como se feito de pedra. As portas duplas do quarto se abriram, revelando o longo corredor iluminado por candelabros. A música cerimonial já ecoava pelo grande salão à frente. Seus pés vacilaram, mas logo foram guiados por mãos firmes, levando-a ao inevitável.
Cada passo que dava em direção ao altar era um tormento. O salão estava repleto de nobres, soldados e embaixadores. Mas nada ali importava mais do que os dois homens que a aguardavam no final do caminho.
Os reis lycans.
Eles estavam lá, de pé, majestosos e imponentes. Vestiam trajes cerimoniais negros, bordados com fios de ouro, contrastando com a pele pálida e os olhos predatórios que refletiam a luz das velas. O rei mais alto, de cabelos longos e escuros, ostentava um olhar frio, quase analítico, enquanto o outro, de traços mais afiados e expressão endurecida, parecia estudá-la como se pudesse enxergar sua alma através do véu.
Elise sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O salão estava silencioso, todos aguardando que ela assumisse seu lugar entre os dois reis, prestes a selar seu futuro com um único corte de lâmina e a mistura irrevogável de seu sangue com o deles.
Seus olhos varreram o salão uma última vez, como se buscassem uma saída impossível. O medo rugia dentro dela, mas algo mais forte começava a despertar em seu âmago.
Ela não queria ser uma peça. Não queria ser apenas uma substituta.
E, naquele instante, tomou uma decisão.
Mas não havia mais tempo para hesitação.
A lâmina foi erguida, o voto de sangue estava prestes a ser feito.
O que aconteceria a seguir... dependeria dela.
A noite envolvia a floresta com um manto denso de sombras e silêncio. A fogueira crepitava suavemente, lançando clarões laranja no rosto de Elise, que mantinha o olhar fixo nas chamas. O calor do fogo não era suficiente para aquecer o frio que se alojava dentro dela. O peso de suas escolhas, a incerteza do futuro, a presença constante de Viktor ao seu lado — tudo isso a consumia.Viktor repousava perto dela, ainda fraco, mas já demonstrando sinais de recuperação. O exílio tinha sido decretado, mas Elise se recusava a aceitá-lo como um fim definitivo. Ela havia desafiado tudo e todos para tirá-lo dali, mas agora precisava encontrar um meio de convencê-los a reconsiderar a sentença.O vento trouxe consigo um arrepio estranho, um pressentimento. Seu instinto gritava que alguém a observava. Seu coração acelerou quando levantou o olhar e viu a silhueta de Astor no alto do penhasco. O luar projetava um brilho prateado sobre ele, fazendo sua figura parecer ainda mais imponente. Seu olhar era
A tempestade que rugia lá fora parecia refletir a inquietação dentro de Astor. Desde que Elise desaparecera com Viktor, sua mente estava tomada por dúvidas e irritação. Não apenas pela ousadia dela, mas pela sensação incômoda de que, talvez, ele tivesse cometido um erro ao ignorar seus argumentos.Ele estava sentado em sua sala de guerra, cercado por mapas e relatórios das buscas. Espiões e batedores haviam sido enviados para todas as direções, mas Elise havia sido cuidadosa. Nenhum rastro óbvio, nenhum informante confiável que soubesse para onde ela e Viktor tinham ido. A única certeza era que haviam deixado a cidade e que a tempestade dificultava ainda mais qualquer perseguição.— Maldição — murmurou, passando as mãos pelos cabelos em frustração.O som de passos firmes ecoou pelo corredor antes que a porta se abrisse. Lucian entrou, a expressão tão sombria quanto a tempestade lá fora.— Alguma novidade? — perguntou o outro rei, cruzando os braços e encarando Astor com severidade.—
A tempestade rugia lá fora, uma sinfonia de trovões e ventos uivantes que pareciam refletir o caos dentro de Astor. Ele estava sentado à mesa de seu gabinete, os dedos tamborilando contra a madeira escura, o olhar perdido entre os papéis espalhados diante de si. A tinta fresca de relatórios e mensagens de espiões secava lentamente, mas sua mente não conseguia focar nos números ou nas estratégias. Tudo o que via era o rosto determinado de Elise, a expressão rígida de Lucian, e a sombra da traição que agora pairava sobre o castelo.Ele passou a mão pelos cabelos, frustrado. As ações de Elise tinham sido imprudentes, perigosas. Resgatar Viktor daquela forma comprometeria não apenas sua autoridade, mas todo o equilíbrio que ele e Lucian haviam lutado para manter. Mas por mais que quisesse condená-la por sua impulsividade, uma parte de si não conseguia ignorar a coragem que ela demonstrara. Quantas pessoas arriscariam tudo para salvar alguém que o mundo inteiro considerava culpado?Astor b
O som do sino ecoava como um rugido sombrio pelas paredes úmidas das masmorras. Elise sentia cada badalada reverberar dentro de si, um lembrete constante de que o tempo estava contra eles. A fuga precisava ser rápida e precisa.Viktor ajeitou-se ao seu lado, ainda se recuperando das correntes que o mantiveram cativo. Seu corpo carregava marcas de tortura, mas sua determinação permanecia intacta. Ele se movia com a cautela de um guerreiro experiente, mas a respiração pesada denunciava o esforço que fazia para acompanhar o ritmo da fuga.— Eles sabem que escapamos — murmurou ele entre dentes. — Não vão demorar para selar todas as saídas possíveis.Elise trocou um olhar breve com o arqueiro de capuz escuro, o misterioso aliado que havia surgido no momento certo. Seu arco estava preparado, a tocha em sua mão mal iluminava os túneis subterrâneos, mas era o suficiente para seguir em frente.— Precisamos sair antes que os corredores sejam bloqueados — respondeu Elise, seu tom frio e calculad
O amanhecer trouxe um peso adicional sobre os ombros de Elise. A noite mal dormida deixara sua mente ainda mais inquieta, os ecos da discussão com Lucian e Astor ressoando em seus pensamentos. Seu corpo estava exausto, mas sua determinação apenas crescia. Algo dentro dela dizia que não poderia recuar. Se Viktor estava certo sobre a ameaça dentro do castelo, então não havia tempo a perder.Vestindo um traje discreto, Elise deixou seus aposentos e caminhou pelos corredores, atenta aos olhares dos servos e guardas. Algo havia mudado. Havia mais vigilância, mais sussurros interrompidos assim que ela passava. Era evidente que seus movimentos na noite anterior não haviam passado despercebidos. Sentia-se vigiada.Ao chegar à sala do conselho, encontrou Lucian e Astor já sentados à mesa, suas expressões fechadas. Outros membros do conselho real estavam presentes, assim como Seraphine, que ostentava um sorriso enigmático. Elise endireitou os ombros e sentou-se, recusando-se a demonstrar qualqu
Elise sentia o peso do dia em seus ombros, mas seu corpo e sua mente recusavam-se a descansar. A conversa anterior com Lucian e Astor ainda girava em sua cabeça, trazendo uma inquietação que não conseguia ignorar. Seraphine havia lançado uma provocação sutil, e Elise não podia fingir que aquilo não a afetava. O que estavam escondendo dela? E até que ponto poderia confiar nas pessoas ao seu redor?Sentada à beira da cama, observou sua própria imagem refletida no espelho. Seu olhar carregava uma mistura de determinação e dúvida. A raiva e a frustração misturavam-se a um cansaço emocional profundo. Tudo parecia mais intenso do que o normal, e ela sabia que os hormônios da gravidez estavam contribuindo para isso. Sentia-se vulnerável, algo que odiava admitir, mas ao mesmo tempo, aquela sensação apenas alimentava sua necessidade de agir.Decidida a não esperar mais respostas vazias, Elise levantou-se e caminhou até a porta. Se ninguém lhe diria a verdade, ela mesma a encontraria.Elise fez
Último capítulo