Capítulo V - Sophie

Eu já não entendia mais nada, em um minuto tudo estava bem, parecíamos finalmente estar nos entendendo e no outro ele estava correndo para longe de mim.

Tentei me virar quando ele parou e tirou os dedos de perto de mim, mas me segurei e não me virei para confrontá-lo, não sei o que poderia ter feito Patrick me largar ali naquela biblioteca. Eu estava de costas para ele e sua máscara ainda cobria o rosto, não tinha a menos possibilidade de que eu conseguisse vê-lo.

Ainda conseguia sentir os dedos dele sobre meu corpo, apertando, massageando e me penetrando. Esfreguei a mão em meu pescoço sentindo o calor subir só em pensar nos lábios dele ali.

Eu não podia deixar que ele fizesse isso de novo, me beijasse, me tocasse, acendendo meu corpo por inteiro e sair correndo novamente como se o inferno tivesse chegado a terra.

Sai de lá marchando decidida a fazê-lo me dar ao menos uma explicação para o surto de hoje, mas foi só chegar ao corredor principal que eu trombei com uma muralha e mãos fortes me seguraram para não cair.

— Cuidado Senhora. — a voz de John soou antes mesmo que ele me erguesse. — Correndo assim pode acabar se machucando.

— Te disse pra me chamar de Sophie e não de senhora.

John era quase da minha idade, ele me contou na viagem para cá que tem só vinte e cinco anos, não tinha motivos pra me chamar de senhora, sem falar no quanto eu detestava ser chamada daquela forma.

— Se o chefe me escutar chamando a senhora assim ele me mata. — ele disse com um sorrisinho que não me permitia dizer se era uma brincadeira ou verdade. — Ele ficou com raiva quando eu falei o quanto é bonita e disse com todas as letras que eu ficaria sem os dentes se falasse assim novamente.

— Ele não disse isso. — murmurei incrédula de que o mesmo homem que jogava na minha cara que eu só estava ali para ter seus filhos cada vez que tinha a chance, se importaria em ouvir outro homem me elogiar.

— Porque eu mentiria sobre isso? E para não arriscar é melhor eu tirar as mãos da senhora também. — ele respondeu parecendo mais sério, soltou meus braços e deu um passo para trás.

Eu já não estava entendendo nada, porque o homem ficaria fugindo de mim assim e para os outros agia como um marido ciumento?

— O que está acontecendo aqui? — Holly apareceu nos pegando de surpresa.

— Eu estou tentando dizer pra Senhora Carter o quanto o patrão é ciumento e que eu devo manter distância. — ele ergueu as mãos como se quisesse comprovar que estava longe de mim. Mas a senhora era bem mais esperta que ele e acertou um tapa em seu braço. — Ai, o que eu fiz agora?

— O que você não fez, dê o fora daqui e me deixe conversar a sós com Sophie. — o homem não perdeu tempo, apesar do tamanho dele Holly colocava medo em qualquer um. — Agora vem aqui querida, me conta o que aconteceu que você está com essa carinha de confusa?

Me deixei ser guiada até a cozinha e o cheiro da comida finalmente abriu meu apetite, o ronco do meu estômago deve ter sido tão alto que até ela ouviu, pois a senhorinha se afastou e começou a me preparar um prato.

— O que aconteceu com Patrick? — joguei a pergunta na lata, não era o principal motivo da minha expressão de confusão, mas me levaria até o objetivo. — Porque ele se esconde nessa casa e usa aquela máscara. Eu sei que foi um acidente, mas como? Como isso aconteceu?

Holly voltou com um prato cheio de uma lasanha que encheu minha boca de água só em olhar.

— Essa história não é minha para eu te contar, na hora certa tenho certeza que Patrick vai te dizer tudo o que quiser saber. — ela respondeu com uma paciência de dar inveja, até mesmo a expressão dela era de calmaria, quando tudo o que eu queria fazer era gritar com ele.

— E até lá eu faço o que? Engulo os ataques dele, finjo que ele não existe, relevo todas as vezes que me beija e corre? — eu sabia que não deveria estar falando com ela sobre isso, para Holly ele era ótimo, mas eu não tinha mais ninguém para desabafar ali.

— As vezes? Ele te beijou de novo?

Mordi o lábio sem jeito, a euforia dela me dizia que aquilo provavelmente era um milagre que não esperavam tão cedo.

— Ele foi até a biblioteca e nós... — como eu diria o que fizemos a ela? — Nós não se beijamos, ele não queria tirar a máscara, mas ele me tocou e...

— Ok, eu já entendi menina. Posso ser velha, mas não sou uma puritana. — ela balançou a mão como se quisesse dizer que aquilo era uma bobagem, mas meu rosto em chamas deve ter dito a ela que não era uma bobagem pra mim. — Oh querida você nunca... você é virgem Sophie?

Eu queria ser enterrada agora mesmo, ou ao menos voltar no tempo até essa manhã e apagar tudo o que fiz desde que acordei.

— Sou sim, mas não é esse o caso, ele começou... e então correu pra longe de mim.

Ok, na minha cabeça eu era bem mais resolvida com essa coisa de sexo do que agora falando com uma mulher que conheci ontem. Eu estava com vergonha de mim mesma nesse instante, mas isso não era o foco ali.

A única pessoa que eu conversei sobre sexo foi com Rosa, ela insistiu que eu precisava de instrução nesse assunto, mas isso foi quando eu tinha quinze anos. E eu nunca tive realmente a chance de namorar vivendo naquele manicômio de casa, os únicos garotos que eu já tinha beijado foram da escola e nem de longe esses beijos se comparavam ao de Patrick.

— Minha filha, Patrick é um caminho longo e tortuoso, que pode te levar a um paraíso, mas pra isso tem que passar toda a dificuldade. — franzi o cenho querendo que ela me desse algo mais que uns enigmas de coisas que eu já sabia. — Ele sofreu muito no primeiro casamento e isso o fez ter problemas em confiar nas pessoas, com o acidente isso piorou ainda mais e é por isso que ele vive aqui.

— Ele já foi casado antes? E o que aconteceu com a esposa dele? Eles não tiveram filhos? Quanto tempo durou o casamento?

— Se acalme! — ela gritou parando a enxurrada de perguntas que eu tinha na ponta da língua. — Isso é tudo o que eu posso te dizer.

— Mas como isso me ajuda a entender o motivo dele correr de mim?

— Vai ter que descobrir diretamente com ele. — lá se ia minha esperança. — Mas se você quer um caminho para o coração do seu marido pense nisso, ele não teve um bom casamento, não confia facilmente e acha que você veio aqui só pelo dinheiro. Patrick não vê nenhuma razão para confiar em você, então dê a ele, faça essa ponte entre vocês dois e vai ver como tudo irá ficar mais fácil.

Sorri pensando no quanto ela e Rosa se pareciam, meu coração se apertou de saudade ao pensar nela e em como deveria estar naquela casa. Sem conseguir me conter eu joguei os braços em volta de Holly, a abraçando forte, tentando sentir uma centelha de calor humano em todo aquele gelo.

— Obrigada Holly, vou começar a fazer isso agora. — me levantei e peguei um prato onde a vi pegar o meu. — Você me fala como ele gosta e eu monto e levo pra ele.

Patrick tinha ido até a biblioteca me chamar para almoçarmos juntos, então agora era a minha vez de fazer o mesmo.

Holly me indicou a porta do escritório que era onde ele estaria e eu fui direto para lá, mas nem cheguei a bater, a porta estava entre aberta e as vozes alteradas eram ouvidas do corredor.

— O que estavam pensando pai?

— No seu bem estar! Coisa que você não tem feito ultimamente. — coloquei minha cabeça na fresta a procura do senhor James, mas só vi Patrick virado para a janela. — Achou mesmo que iriamos ficar procurando detalhes banais como esse?

— Banais? Eu pedi uma mulher para ter os meus filhos, já que vocês não tiram isso da cabeça. Uma mulher que saberia o seu papel nessa farsa toda! — ele bradou e se virou para o telefone na mesa. — Mas ao invés disso me mandaram uma garota que não entende nada da vida, romântica e ainda por cima virgem. O que eu devo fazer com isso?

Minhas pernas tremeram e eu quase deixei nossos pratos caírem no chão quando ouvi aquilo. Então ele já sabia que eu era virgem, bastou me tocar para saber e foi por isso que ele correu como um maluco, estava fugindo da minha inexperiência.

E se isso não fosse o bastante agora estava contando ao pai, que humilhação. Meu rosto queimou, mas dessa vez não era desejo e sim pura vergonha.

— Já deve estar fazendo já que sabe que ela é virgem!

— Pai não me teste! Eu estou fazendo isso por vocês porque por mim nunca daria meu sobrenome a outra mulher. — ele bufou e ouvi o som de algo se quebrando. — Ela não serve pra isso, é virgem e inocente, vai criar ideias românticas sobre esse casamento, vai criar planos para nós...

— E é o que ela deve fazer! — eu reconheci a voz de Audrey na hora e mordi os lábios para segurar minha revolta e me encolhi no corredor. — É isso o que esposas fazem e ela é a sua esposa. Patrick você querendo ou não Sophie é sua mulher de agora em diante e você tem que tratá-la com tal!

— Me recuso a tocar nela, a garota é dez anos mais nova do que eu e ainda deve estar sonhando com o príncipe encantado. — então a voz dele ficou amedrontadoramente mais baixa. — Acham mesmo que vou fazer filhos com uma tonta? É melhor arranjarem outra, muito promiscua de preferência, ou nada de netos!

Meu queixo estremeceu com o choro e eu me contive para não fazer barulho, deixei que as lágrimas escorregassem quentes por minhas bochechas. Eu não conseguia acreditar que era o mesmo homem que me beijou ontem ou que me tocou hoje. Patrick parecia um monstro, estava longe de ser um príncipe encantado, ele era uma besta por dentro.

Engoli em seco e ergui minha cabeça saindo de lá, mais uma vez eu estava sendo renegada, jogada de lado, seria devolvida como uma mercadoria inútil e tudo porque o maldito não queria uma mulher virgem.

O meu sonho de ter uma vida melhor longe dos meus tios estava indo por água a baixo. Eu precisava fazer alguma coisa!

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