Lívia Prado franziu a testa.
— Eu não estou te evitando.
Artur Vasques se aproximou, observando atentamente a expressão dela, que claramente desviava o olhar.
— Vai dizer que não? Você sai cedo, volta tarde, e quando me vê, nem me cumprimenta. Isso é ou não é me evitar?
— Por quê? Só porque estou com a Luana?
Lívia balançou a cabeça rapidamente.
— Não! Tio Artur, você poder estar com a pessoa que ama… Eu fico feliz por você. Sinceramente. Desejo que vocês fiquem juntos e sejam felizes. Pode ficar tranquilo, já entendi que você nunca vai gostar de mim. Então, eu também deixei de gostar de você.
Ela falou com tranquilidade, como quem apenas relatava um fato. Mas o semblante de Artur escureceu, achando aquelas palavras absurdamente incômodas.
Lívia não gosta mais dele, aquilo, para ele, parecia a maior piada.
— Você me confessou seus sentimentos, eu rejeitei. Você insistiu por anos e eu continuei recusando. Agora, de repente, muda de tática para chamar minha atenção?
Enquanto falava, observava cada reação no rosto dela. Quando viu o leve sobressalto nos olhos da garota, teve ainda mais certeza da verdade.
Aproximou-se ainda mais, e ao ver a caixa nos braços dela, sua voz se tornou mais fria.
— Você diz que não gosta mais de mim, mas escreveu tantas cartas de amor, fez tantos desenhos meus, ficou me perseguindo por tantos anos… Agora basta dizer que não gosta mais e tudo acabou?
— Lívia, não acha as suas palavras ridículas?
Ela olhou silenciosamente para o homem à sua frente.
Claro que sabia o quanto aquelas palavras soavam ridículas. Afinal, quando se mente tantas vezes, ninguém mais acredita.
Mas por mais ridículas que fossem… eram a verdade.
— Tio Artur, sim, eu te amei por muito tempo. Mas você nunca me amou. Então, eu realmente desisti.
Terminando a frase, Lívia, diante dos olhos de Artur, despejou todo o conteúdo da caixa.
Em seguida, pegou as cartas e os desenhos, rasgando tudo, folha por folha.
Entre os pedaços de papel voando, ela notou que o rosto de Artur, longe de expressar alívio, se tornava ainda mais sombrio.
Antes que Lívia pudesse duvidar de sua percepção, a voz fria dele soou junto ao seu ouvido:
— Finge, continue fingindo, Lívia. Mas se lembre, não importa o que faça, a única pessoa que eu amo é a Luana!
Depois daquele dia, Lívia e Artur não trocaram mais uma palavra.
Ela porque não havia mais o que dizer. Ele porque acreditava que aquilo era só uma nova forma de provocação. Então preferiu ignorá-la.
Essa tensão pairou sobre os dias seguintes até a realização do jantar da família Vasques.
Antes, Lívia era sempre o centro das atenções nas reuniões familiares.
Os pais de Artur a adoravam. Toda conversa girava em torno dela. Era sempre Artur quem precisava intervir para “salvá-la” da roda.
Mas agora, todo o foco da família havia mudado para Luana.
Afinal, ela era a futura dona da família Artur, enquanto Lívia não passava de uma estranha.
Eles sabiam muito bem quem realmente importava.
Em poucas horas, Lívia viu com os próprios olhos o quanto os Vasques valorizavam Luana.
O bracelete de jade de família foi colocado no pulso dela assim que entrou pela porta, um item que, em sua vida passada, Lívia nunca sequer tinha visto.
Durante o jantar, a família começou a discutir diretamente a data do casamento dos dois.
E assim, a noite terminou com a data da cerimônia marcada.
Quando Lívia estava prestes a sair com Artur, Dona Regina a chamou.
Disse que queria conversar em particular.
Assim que entraram no escritório, ela foi direto ao ponto:
— Lívia, se afaste do Artur.
— Você sabe que ele está com a Luana. Ficar aqui, além de causar problemas para ele, é se humilhar. Me diga, o que mais você pode fazer?
Dona Regina não fazia questão de esconder sua antipatia. E isso despertou nela uma pontada de amargura difícil de explicar.
No passado, Dona Regina a tratava com carinho. Mas tudo mudou no dia em que ela se declarou para Artur.
Todos a condenaram, chamaram-na de imprudente, de vergonhosa…
Apertando com força a palma da mão, Lívia disse:
— Pode ficar tranquila. Eu vou embora.
Tirou da bolsa a documentação para o processo de imigração e a entregou à mulher.
— Há alguns dias, falei com meu pai. Disse que iria morar com ele no exterior. Ele até arranjou um pretendente para mim. Eu vou seguir minha vida e manter distância do tio Artur. Nunca mais vou incomodar.
Dona Regina revisou os papéis por completo antes de finalmente suavizar a expressão.
— É bom que cumpra com o que disse.
Só depois que ela saiu, Lívia relaxou a tensão dos ombros.
Guardou os documentos de volta na bolsa e se preparava para sair quando, ao levantar-se, deu de cara com Artur Vasques, parado na porta.
— De quem você vai se afastar?
O coração de Lívia parou por um segundo. Não sabia até onde ele tinha ouvido. Mas, instintivamente, não queria que ele soubesse da viagem.
Então balançou a cabeça:
— De ninguém. Você ouviu errado.
Sem encará-lo, desviou o corpo, pronta para ir embora. Mas a voz dele soou logo atrás:
— Eu sei que você não quer ir para o exterior. Quando eu e a Luana nos casarmos, não precisa se mudar. Eu sou amigo do seu pai. Posso sustentar você pelo resto da vida.
Essas palavras fizeram os olhos de Lívia se arregalarem.
E mesmo Luana Costa, que vinha atrás de Artur, parou no meio do caminho, completamente rígida.
Só quando o olhar ressentido de Luana caiu sobre ela é que Lívia saiu do transe, e foi embora às pressas.