Depois de desligar o telefone, Lívia Prado limpou rapidamente as lágrimas e pegou seus documentos, pronta para sair.
Mas, no instante em que abriu a porta, deu de cara com o homem que estava bem na sua frente.
As marcas de beijos espalhadas pelo pescoço de Artur Vasques invadiram diretamente o campo de visão de Lívia.
Mesmo já tendo se preparado para o fato de que Artur e Luana Costa haviam passado a noite juntos, naquele momento, Lívia ainda desviou o olhar em silêncio.
Esse pequeno gesto não passou despercebido por Artur. Ao notar os olhos dela levemente avermelhados, o homem logo fez uma associação.
Com um tom frio, agora com uma pitada de advertência, ele disse:
— Lívia, goste você ou não, eu e a Luana estamos juntos.
— Vou me casar com ela. E já que você ainda mora aqui, vai ter que respeitá-la. Não quero mais ouvir aquelas palavras absurdas de antes.
Lívia baixou os olhos e respondeu com calma:
— Entendi, tio Artur.
O termo “tio Artur” soou extremamente estranho aos ouvidos dele.
Ele baixou o olhar e encarou profundamente a garota à sua frente.
Já nem se lembrava da última vez que ouvira aquele tratamento.
Quando Lívia se mudou para a casa dele, costumava chamá-lo docemente de tio Artur.
Mas depois, quando passou a nutrir sentimentos diferentes, passou a chamá-lo pelo nome, se recusando a usar o “tio”.
Ele franziu levemente a testa, prestes a falar, mas uma voz feminina surgiu atrás dele, quebrando o silêncio estranho entre os dois.
— Artur, já trouxe minhas malas! Qual vai ser o meu quarto?
Artur voltou à realidade rapidamente e envolveu Luana Costa nos braços com naturalidade. Disse com doçura:
— Você gosta de sol, e o quarto da Lívia fica virado para o sul, com a melhor luz da casa. Vou pedir para ela se mudar para o quarto de hóspedes. A partir de agora, aquele será seu.
Os olhos de Luana brilharam com satisfação, mas sua voz fingia constrangimento:
— Ah, será que é certo fazer isso?
— Afinal, sou a última a chegar. Que tal eu ficar no quarto de hóspedes?
Ela virou-se para descer as escadas, mas logo soltou um gritinho de surpresa.
Artur a pegou no colo de volta:
— Você agora é minha esposa, a dona desta casa. Como pode ficar no quarto de hóspedes?
— Mas a Lívia já mora naquele quarto há tanto tempo... Tirá-la assim de repente, será que ela vai se sentir desconfortável?
Ao ouvir isso, Artur lançou um olhar direto à garota na porta:
— Ela vai ter que se acostumar. Acostumar-se com o fato de que eu vou me casar, de que esta casa tem uma nova dona, e de que ela... não passa de uma estranha aqui.
Os cílios de Lívia estremeceram levemente. Ela forçou um sorriso irônico.
Uma estranha...
Sim, ele estava certo. Ela realmente não passava de uma estranha.
Com um leve movimento nos lábios, disse:
— Vou arrumar minhas coisas agora e me mudar para o quarto de hóspedes.
Afinal, em breve, ela partiria, voltaria para os braços do pai, para nunca mais retornar, nunca mais pisar ali.
Aquela casa... era somente de Artur e Luana.
Nos dias seguintes, Lívia passou a ir diariamente ao consulado para cuidar da documentação. Saía cedo e voltava tarde, fazendo de tudo para evitar encontrar Artur.
Mesmo assim, não conseguiu evitar ver o carinho e os mimos que ele dava a Luana.
Quando Luana perdia o apetite, ele contratava os melhores chefs do país para cozinhar para ela.
Quando ela se sentia indisposta, ele cancelava contratos bilionários para ficar ao lado dela.
Quando mencionava, mesmo casualmente, uma joia, ele a entregava pessoalmente em menos de dez minutos.
Lívia observava tudo em silêncio. Não brigava, não reclamava.
Enquanto aguardava a aprovação do visto, começou a arrumar suas coisas.
Separou as malas, pegou as cartas de amor e os esboços que havia feito para Artur e colocou tudo em uma caixa, pronta para jogá-la fora.
Mal havia chegado à porta com a caixa quando deu de cara com Artur, que acabava de voltar com doces para Luana.
Fingiu que não o viu e, sem desviar o olhar, continuou andando.
Mas, no instante seguinte, sentiu um aperto forte no pulso. Artur a segurou com firmeza.
— Esses dias... você está me evitando?