Emma
~~••~~ O barulho irritante do despertador me tira de um maravilhoso sonho no qual eu estava de férias nas Maldivas ao lado de um milionário gostosão, só para me lembrar de que a realidade me chama. Abro os olhos com certa dificuldade, pois a claridade já tomava conta do quarto. Busco pelo celular e logo o encontro, desligando o som insuportável do alarme. Levanto-me, calço minhas pantufas e sigo para o banheiro. Faço todo o meu ritual matinal — aquele que vai me manter cheirosa, hidratada e em paz durante o dia... ou ao menos por uma boa parte dele. Depois de finalizá-lo, me visto com algo prático, confortável, mas ainda assim bem apresentável. Pego meu celular, minha bolsa e as chaves de casa, saio do quarto e desço as escadas em direção à cozinha. Por sorte minha, não havia ninguém ali. E, bem, isso ajuda a manter meu bom humor. Digamos que prefiro estar sozinha pela manhã do que encontrar o Pietro e acabar tendo uma pequena discussão matinal por não ter atendido suas chamadas ou respondido suas mensagens no dia anterior. Alguns até podem me julgar por isso. Afinal, ele foi super fofo ao me pedir em casamento e tudo mais. Acontece que nada do que Pietro faz é por acaso — e esse pedido de casamento também não foi. Ele quer a presidência da empresa dos pais. Porém, minha querida sogra só o colocaria à frente da empresa quando ele estivesse com a responsabilidade de uma família nas mãos. Talvez ela imagine que isso possa ajudá-lo a amadurecer. Pietro já tem 29 anos, e mesmo assim continua se comportando como um adolescente. ••••~~~~••••~~~~••••• Algum tempo se passa até que o taxista estaciona em frente ao enorme prédio onde agora é meu novo emprego. Pago a corrida, pego minha bolsa e saio do carro, caminhando até a entrada daquele arranha-céu imponente. Sigo até a recepção, onde Violet se encontra. Ao me ver, ela abre um enorme sorriso. — Bom dia, Emma — cumprimenta com o mesmo sorriso caloroso de sempre. Violet é a recepcionista do local. Desde a entrevista até agora, ela parece ser aquele tipo de pessoa good vibes, que sempre vê o lado bom das coisas, sabe? — Bom dia, Violet — retribuo com um sorriso. — Pronta para mais um dia? — Sempre pronta — responde, sorrindo. — A propósito, boa sorte com o senhor Mitchell. Ele cruzou o hall há pouco tempo e não parece estar nos seus melhores dias. — Céus, não me diga isso — faço uma careta. — Ele me fez fazer um tour pela cidade ontem em busca de café... Mal posso esperar para ver qual será minha função hoje. Observo quando Violet faz uma careta como quem diz que acabei de assinar minha sentença de morte. — Pois bem, senhorita Collins, se está tão ansiosa para saber o que tenho para você esta manhã, pode começar indo buscar meu café na Sip&Savor. — A voz rouca e grossa ecoa atrás de mim, junto com um perfume amadeirado masculino. Aquilo foi como um sinal claro de quão ferrada eu estava. — Quero meu café em uma hora, ou não precisa retornar ao prédio. Dito isso, seus passos seguem em direção ao elevador. Me viro para Violet, que me olha com uma expressão um tanto... preocupada. — Eu e minha boca grande... — murmuro, bufando antes de dar as costas e sair da empresa. E lá vamos nós para mais um dia. ~~~••••~~~~••••~~~~•••• Cruzo as portas do elevador no vigésimo andar, carregando aquele maldito café pelo qual precisei atravessar a cidade inteira. Sinceramente... eu preciso aprender a manter a boca fechada. Respiro fundo e sigo até minha mesa, largando minhas coisas por lá. — Bom dia, Emma. Você está bem? — a voz de Margot me puxa de volta do transe, e eu a encaro por um breve instante. — Bom dia, Margot — respondo, respirando fundo e forçando um sorriso. — Estou bem... só um pouco... Não consigo terminar a frase. O som da porta do escritório do meu querido chefe se abrindo me faz virar automaticamente para encará-lo. Ainda estou de pé, segurando seu café. Ele me olha com aquele ar de sarcasmo costumeiro antes de se aproximar e praticamente arrancar o copo da minha mão para dar um gole, sem cerimônia alguma. — Está frio, Collins — diz, com a voz firme. — Será que nem pra buscar um café decente você serve? — completa com ironia. — Não importa. Quero as duas na minha sala em cinco minutos, ou considerem-se demitidas. Ele deposita o copo sobre a minha mesa como se fosse lixo, dá as costas e desaparece dentro do escritório. — Babaca — murmuro, e vejo os olhos de Margot se estreitarem na minha direção. — Ele mandou você atravessar a cidade de novo, não foi? — pergunta, com uma convicção quase assustadora. — Tá tão evidente assim? — Bem, ele me pediu um café da cantina assim que chegou, mas estava com uma expressão estranhamente satisfeita. E, julgando pelo seu estado... — ela faz uma pausa, me analisando dos pés à cabeça — ou você participou de uma maratona antes de chegar aqui ou isso tem dedo dele. E, bom, eu apostaria todas as minhas fichas na segunda opção. — É meu segundo dia e já estou começando a entender por que o salário dessa vaga é tão alto. — Vai por mim, uma hora ele para — ela diz, dando de ombros. — Agora vamos, antes que ele resolva nos demitir de verdade. ~~~••••~~~~••••~~~ Ele anda de um lado para o outro como um comandante no campo de batalha, distribuindo ordens enquanto Margot e eu nos esforçamos para anotar tudo. Pelo que entendi, haverá um evento importante nos próximos dias, no qual nossa presença será obrigatória. Também haverá uma reunião de negócios crucial... e adivinhem quem foi a escolhida para acompanhar o reizinho? Isso mesmo, euzinha. Ele continua falando algo sobre investidores e números, e eu sigo anotando tudo até que ele para bem na minha frente. — Preste atenção, Collins — diz com a voz firme e cortante. — Alguns investidores estarão aqui no fim de semana. Um deles, em especial, é um dos maiores sócios da Black Corporation. Victório Leblanck. Guarde bem esse nome. Você vai lidar diretamente com ele, e eu não admito falhas. Ele me encara como se pudesse ver além da minha alma. — Collins, essa é sua chance de provar que vale o que está no seu currículo. De mostrar que sua contratação não foi uma maldita perda de tempo. Você será responsável por fechar mais um contrato com Victório. Se falhar, é seu emprego que está em risco. Mas, se conseguir... pode esperar um bônus de sete mil depositado na sua conta no dia seguinte. Vamos ver se toda essa sua marra é só comigo ou se você realmente tem algo a oferecer além de um rostinho bonito. O olhar dele se prende ao meu por tempo demais, e devo admitir: aquilo me deu um leve calafrio. — Quanto a você, senhorita Walter — diz, voltando-se para Margot com a mesma frieza —, preciso que cancele todos os meus compromissos desses dias. Você não terá nenhum desafio dessa vez. Mas não se preocupe, seu bônus — no mesmo valor que o da senhorita Collins — já foi depositado. Ele finaliza com um tom impessoal, quase cruel. — Agora, por favor, se retire. Preciso falar a sós com a senhorita Collins. Seu olhar volta para mim como uma lâmina afiada, e é impossível não sentir os arrepios subindo pela espinha. Margot apenas assente e sai da sala, me deixando ali... parada, diante daquele homem bipolar, insuportável e de certa forma um tanto atraente... — Espero que tenha aprendido uma lição esta manhã, senhorita Collins — ele diz, com os olhos estreitos e a postura rígida, ainda parado bem à minha frente. — Não ouse falar de mim pelas costas novamente. Poucos tiveram essa ousadia e permaneceram nesta empresa para contar história. Ele se aproxima levemente, tornando sua presença ainda mais sufocante. — Em segundo lugar, o dia de ontem e o de hoje foram apenas um teste. E posso te garantir: já lidei com pessoas tão arrogantes quanto você. Sabe o que fiz com elas? Transformei cada dia de suas existências em um verdadeiro inferno... até que pedissem demissão. Seu tom é frio, controlado, quase sádico. — Eu não demito ninguém, senhorita Collins. Eu destruo a vontade de permanecer. E acredite... farei exatamente o mesmo com você. Veremos quanto tempo você consegue resistir. Ele então se afasta com a mesma calma com que me ameaçou, indo até a parede de vidro que revela a vista majestosa de Chicago. — Agora saia. Tenho assuntos mais importantes a tratar, e sua presença aqui me causa repulsa. Sem pensar duas vezes, bato a porta com força ao sair. A raiva me consome por dentro. Esse maldito... Se ele acha que pode me intimidar com esse joguinho de chefe tirano, está muito enganado. Já lidei com homens assim antes. Homens que acham que podem manipular o mundo com sua arrogância. Volto para minha mesa e mergulho no trabalho. Ao longo do dia, reúno tudo que posso sobre Victório LeBlanc e o contrato que está em jogo. Dez milhões de dólares. É muito dinheiro, e sim, seria loucura ignorar isso. Mas não é por ele que eu vou atrás desse contrato. É por mim. Para provar que ele está redondamente enganado sobre quem eu sou. E se ele acha que vou me deixar intimidar por meras palavras, bem, ele está muito enganado.