Mike estava morrendo de fome. A mãe estava no banho. Antes ela deu sérios avisos para ele não sair do quarto. Mas o cheiro de comida fresca fez o seu estômago roncar. Eles tinham almoçado na estrada, mas agora já era quase 19:00h.

Mike foi até a porta do quarto e olhou em direção ao banheiro, o chuveiro ainda estava ligado. Nas pontas dos pés, Mike saiu para o corredor e desceu a escada.

Christian estava de costas na pia lavando folhas de alface. Deitado aos pés dele, um Husky Siberiano branco e marrom. O cachorro levantou a cabeça ao ver Mike e isso chamou a atenção de Christian.

Ele olhou para trás e viu Mike parado, de olhos arregalados. Christian sorriu.

- Não precisa ter medo. Ele só tem tamanho.

- Isso não é um cachorro, é um cavalo.

Mike estava com medo, e ao mesmo tempo, fascinado com a beleza do animal. Só tinha visto Huskys Siberianos em filmes.

Christian riu e fechou a torneira. Ele secou a mão no pano de prato e se virou.

- Vem cá conhecer o Bryan.

- Bryan?

- Com Y.

- Ele não morde?

Christian riu, agachou, afagou o cachorro e o beijou ruidosamente na cabeça.

- Bryan está morto em pé.

Mike queria muito passar a mão no cachorro, mas hesitou. Se fosse mordido por um cachorro sua mãe era bem capaz de dar um tiro nele e outro no Bryan.

Mike encontrou o olhar de Christian. Firme e confiante.

- Eu nunca deixaria você se machucar, Mike. Confie em mim. É seguro.

Mike gostou do que ouviu. E gostou ainda mais da forma como Christian falou. Olhando nos seus olhos.

- Está bem.

Mike se aproximou. Bryan ficou em pé, mas não saiu do lugar. Olhava para o estranho com curiosidade.

- Abaixa na frente dele e deixa ele cheirar sua mão. Os cachorros gostam de cheirar quando conhecem alguém.

Mike obedeceu. Bryan o cheirou e logo de cara deu uma lambida molhada em seu rosto.

- Nossa!

Christian riu.

- Ele gostou de você.

Mike não secou o rosto. Agora podia contar aos amigos que foi lambido por um Husky Siberiano. Ele acariciou o dorso de Bryan com as duas mãos. Se surpreendeu com a maciez do pelo branco e marrom.

Bryan abaixou a cabeça para melhor receber o carinho. Mike não aguentou mais, se inclinou para frente e abraçou Bryan que retribuiu o abraço deitando a cabeça peluda no seu ombro. Mike fechou os olhos. Estava em êxtase.

- Você é tão lindo e macio.

Um nó se formou na garganta de Christian. Nunca em toda a sua vida, tinha visto tamanha conexão entre um homem e um animal.

O abraço continuou. Bryan fechou os olhos e se derreteu. Christian sentiu uma coisa molhada e quente no seu rosto. Era uma lágrima. Isso o apavorou.

Amanda saiu do banho e como era de se esperar, não encontrou Mike no quarto. O garoto não a escuta, porém, Amanda não tem do que reclamar do filho.

Mike é doce, meigo, carinhoso e responsável. Mãe solteira, Amanda não mimou o filho. Ensinou desde cedo a Mike que o bem é recompensado e o mal tem consequências. Mike foi um bom aluno.

Amanda teve um caso breve com o pai dele, uma noite de bebedeira, um descuido e engravidou. Amanda se desesperou, só tinha 18 anos. Na época ainda morava com os pais.

Sua mãe a apoiou, seu pai a rejeitou.

- Você foi criada com tanto amor e carinho para ser alguém na vida, agora vai ser mãe solteira aos 18 anos!

Você me traiu Amanda!

Resultado, Amanda largou os estudos, teve Mike e começou a trabalhar para dar uma boa condição de vida ao filho. A relação com o pai ficou estremecida. Isso era motivo de brigas constantes dentro de casa.

Mesmo tendo a mãe do seu lado, Amanda juntou dinheiro e financiou um apartamento. Para ajudar com as despesas, ela levou o pai de Mike na justiça e após o resultado positivo do exame de DNA, começou a receber a pensão.

Fernando nunca quis conhecer o filho e Amanda prefere assim. Ao ver que ela estava fazendo um bom trabalho com Mike, seu pai pediu perdão e disse que estava orgulhoso dela. Amanda o perdoou.

Hoje tem uma ótima relação com os pais que são completamente apaixonados por Mike. As vezes ela precisa interferir, quando os avôs começam a mimar o neto além da conta.

Amanda sabe que sufoca o filho e tenta convencer a si mesma que seu cuidado em excesso é apenas para o próprio bem de Mike. Quando na verdade ela tem um amor possessivo e doentio pelo filho.

Amanda se apressou para ir atrás de Mike. Secou o cabelo e o corpo, colocou uma regata branca, um shorts jeans preto, havaianas branca e saiu do quarto.

Ouviu risadas vindo do andar de baixo. Ela correu. Não quer saber de Mike perto daquele transviado. Amanda desceu a escada correndo e parou ao ver a cena.

Christian ainda só de bermuda, com um pano de prato jogado nas costas, usava uma luva para tirar o peixe assado do forno e Mike deitado no chão da sala ria de chorar com um monstro lambendo seu rosto.

- Michael!

Os três olharam para ela. Mike soube no mesmo instante que estava em apuros. Ainda rindo, ele colocou a mão na cabeça de Bryan.

- Oi, mãe. Esse é o Bryan com Y.