7
Foi só nesse momento que a expressão de Lorenzo mudou.

— Estela, o que tá fazendo?!

Mas ela nem sequer olhou pra ele.

Segurava a tesoura com firmeza, cravando-a mais uma, e outra vez, contra a própria coxa.

O branco do vestido se tingiu de vermelho num piscar de olhos.

Lorenzo ficou parado, atônito.

Ela preferia se machucar a deixar que ele a tocasse?

A ideia o atingiu como um soco no estômago.

Um incômodo violento cresceu dentro dele.

— Estela! — Gritou, agarrando o pulso dela com força. A tesoura caiu no chão com um baque surdo.

A dor lancinante percorreu o corpo dela, mas trouxe de volta alguma clareza à mente enevoada.

Nesse exato instante, ouviram palmas vindas do andar de baixo. Estavam chamando por ela, a aniversariante, para fazer o discurso final.

Estela afastou Lorenzo com um gesto brusco e saiu.

Desceu as escadas com firmeza, ignorando o sangue que escorria pelas pernas.

Ao vê-la naquele estado, a plateia se levantou em choque, muitos soltando exclamações.

Mas Estela não se abalou.

Manteve o queixo erguido. O vermelho no vestido brilhava como uma rosa selvagem na beira do abismo.

Ergueu a taça, forçando um sorriso:

— Feliz aniversário pra mim. Vinte e nove anos. Que o futuro seja brilhante.

E com isso, desabou no chão.

No meio dos gritos, Lorenzo correu e a segurou nos braços.

...

Estela ficou inconsciente por um dia e uma noite.

Quando teve alta e voltou para casa, mal teve tempo de desfazer as malas da viagem. Lorenzo chegou, acompanhado de Helena.

— Já investiguei sobre o remédio. — Disse ele, visivelmente desconfortável. — Foi um engano. Você não teve nada a ver com isso.

Estela não respondeu.

Ao lado, Helena já chorava de novo.

— A culpa foi minha... Eu falei besteira e o Lorenzo acabou te culpando. Pra me desculpar, desenhei seu vestido de noiva, Estela. É meu presente de aniversário pra você...

Só então Estela olhou para o vestido nas mãos da garota.

A lembrança da vida passada veio como uma onda.

Ela soltou uma risada fria.

— Você costuma desenhar vestidos sem olhar a numeração? Esse aí, nem entra em mim.

Na vida anterior, na véspera do casamento, Helena também aparecera com um vestido que afirmava ter feito com carinho.

Lorenzo, sem discutir, cancelou o modelo que Estela tinha escolhido com tanto cuidado e a obrigou a usar o da Helena.

O problema? O vestido era minúsculo. Ela sequer conseguia respirar com ele.

Naquela vez, Lorenzo só respondeu:

— É só emagrecer.

Nos dois dias que antecederam o casamento, Estela passou fome e sede.

E, no altar, acabou desmaiando.

Mas nesta vida, ela não ia repetir os mesmos erros.

Ao ouvir sua resposta, o rosto de Helena empalideceu.

— M-me desculpa… — Murmurou, tremendo. — Quando desenhei o vestido, eu só conseguia pensar como seria... se eu fosse a noiva… por isso acabei…

Lorenzo ergueu o olhar para ela num sobressalto. Havia algo nos olhos dele, um turbilhão de emoções que ele tentou esconder.

Helena cobriu a boca, desesperada, como se só então percebesse o que acabara de dizer.

O silêncio caiu como uma cortina pesada.

Até que Estela quebrou o clima, com um sorriso gélido.

— Sendo assim, por que não veste você?
Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App